Em São Paulo, jovem terá que atravessar 67 km para local de prova do Enem
Estudante deve demorar, em média, três horas para chegar ao local de prova. No Rio de Janeiro, além da distância, candidatos também temem a violência
Eduarda Castilho, 16 anos, é estudante do 3º ano do Ensino Médio e preparou-se o ano todo para fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Ela pretendia utilizar a nota da prova para ingressar na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Agora, já não sabe mais se conseguirá fazer a prova – se conseguir, as condições podem não ser boas. “Fiquei bem chateada e meus amigos também, nos preparamos o ano inteiro e essa longa distância já afeta nosso psicológico”. Assim como outros estudantes, Eduarda está apreensiva desde que os locais de prova do Enem 2023 foram divulgados na última terça-feira (24).
Moradora do Rio de Janeiro, ela terá que percorrer 36 km de sua casa, na Ilha do Governador, até uma escola em Realengo, onde foi alocada para realizar o exame. Além da distância extrapolar o limite máximo de 30 km estipulados pelo Inep entre residência e local de prova, a estudante teme por sua segurança. A região do Rio de Janeiro que ela terá que atravessar para chegar até a escola vive uma escalada de violência. “Isso está me aterrorizando”, relatou ao GUIA DO ESTUDANTE. Segundo ela, uma amiga também cogita desistir da prova pelos mesmos motivos.
Em outros estados brasileiros, as histórias de locais de prova muito distantes se repetem. Lilian Victória, 20 anos, mora no bairro Jardim Casa Grande, extremo sul da cidade de São Paulo. Na terça-feira (24), descobriu que faria a prova do Enem a 67 km de sua casa, do distrito de Guaianases.
“Como paguei a taxa de inscrição, acabaria ficando no prejuízo se não fosse”, relatou a estudante, que ainda assim pretende enfrentar as quase três horas de trânsito para chegar ao local. O trajeto envolve pegar um ônibus até a estação de trem mais próxima de sua casa, fazer duas transferências de metrô, e pegar mais um outro ônibus até a escola onde fará a prova.
Eduarda, do Rio de Janeiro, ainda não sabe ao certo como chegará até seu local de prova. Receosa por fazer o caminho sozinha em meio à onda de violência, a outra opção seria ir de moto com o pai – que tem problemas renais e não pode percorrer longas distâncias. “Pode ser que ele passe mal”, conta, frustrada.
Candidatos de Bangu e Paciência, bairros da zona oeste do Rio de Janeiro, também relataram terem sido alocados a mais de 30 km de casa, no outro extremo de Jacarepaguá.
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Inep diz avaliar locais de prova, mas não aponta caminhos
Antes de relatar seu caso ao GUIA DO ESTUDANTE, Eduarda já havia entrado em contato com o MEC (Ministério da Educação) buscando uma solução. Segundo ela, foi informada de que não era possível mudar o local de prova, já que mesmo com a distância superior a 30 km, ainda estava no mesmo município.
Questionado, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) afirmou em nota na noite de quarta-feira (25) que está analisando a definição dos locais de prova feita pelo Cebraspe (Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos), instituição que ganhou o processo licitatório para aplicar o Enem em 2023.
Também disse que adotará as medidas necessárias para que todos os estudantes façam as provas segundo os normativos que regulam a aplicação do exame. Questionado se os candidatos afetados podem registrar a reclamação por alguma via ou pedir a mudança do local de prova, o instituto não respondeu.