Enem 2020: voluntários pagam inscrições de alunos que não tiveram isenção
O Pretos no Enem e o Movimento Amplia criaram uma rede de voluntários para ajudar pessoas negras sem condições de quitar a taxa exigida pelo MEC
O Inep prorrogou o prazo de pagamento da inscrição do Enem 2020 para o dia 10 de junho. A princípio, os estudantes teriam até o dia 28 de maio para pagar o boleto, no valor de R$ 85. Mas, de acordo com o órgão, cerca de 300 mil candidatos fizeram a inscrição, mas não pagaram a taxa no período. Nessa conta, muitos são jovens que não têm condições de pagar, mas não conseguiram a isenção, seja por falha no pedido durante a inscrição ou falta de internet, entre outros motivos.
As redes sociais, então, se movimentaram. Na terça-feira (2), mesmo dia em que o período de pagamento foi prorrogado, a podcaster e publicitária cearense Iyara Vidal, de 24 anos, postou em seu Twitter que ajudaria duas pessoas pagando seus boletos do Enem. O também podcaster Luan Alencar gostou da atitude e pensou em juntar uma galera para expandir a ajuda. Assim, eles criaram a Pretos no Enem, rede de voluntários para pagar as taxas de inscrição do Enem de estudantes negros sem condições de quitar a taxa exigida pelo MEC.
“Os jovens pretos ainda são os mais castigados pela violência policial e pela desigualdade social. No Brasil, segundo o IBGE, os jovens negros morrem quase três vezes mais que os brancos. Se somos todos iguais, por que isso acontece? Vamos ajudar a facilitar o acesso ao ensino superior desses jovens negros, para que todo mundo tenha uma mesma oportunidade”, disse Iyara.
Eles não imaginavam a dimensão que a campanha iria tomar. Depois de três dias, 11 mil voluntários abraçaram a ideia. Mas Iyara lembra que ainda é necessário alcançar mais estudantes: “Quanto mais voluntários, mais jovens serão impactados! Um jovem preto frequentando a universidade é a oportunidade de uma família subir de vida. É o mercado de trabalho, a ciência e a pesquisa ganhando novas perspectivas, novas vivências”.
Como ajudar?
Os voluntários devem preencher um formulário, em que se colocam à disposição e informam a quantidade de boletos que poderão arcar. Preenchido o documento, seus nomes vão para uma planilha, para que os organizadores tenham o controle da quantidade de padrinhos. Quando um aluno envia o boleto, um voluntário é escolhido para efetuar o pagamento e depois enviar o comprovante para o projeto.
E quem precisa de ajuda?
Se você se identifica como uma pessoa negra e não conseguiu pagar, entre em contato pelo Instagram do Pretos no Enem. Basta mandar uma mensagem solicitando ajuda, nos comentários, no chat privado, ou por meio do e-mail pretosnoenem@gmail.com. Eles encaminharão o boleto para um voluntário e depois, te enviarão o comprovante.
Movimento Amplia
O professor Cristiano Ferraz, internacionalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), também criou, junto com outros colegas educadores, um projeto para quem quer arcar com taxas de inscrição de pessoas negras e indígenas que não tiveram condições de efetuar o pagamento: o Movimento Amplia.
Para ajudar ou ser ajudado, o esquema é semelhante ao da Pretos no Enem. São dois formulários: um para os “padrinhos e madrinhas”, que receberão por e-mail um boleto a ser pago, e outro para os estudantes que não têm condições de quitar a taxa.
Idealizadores e voluntários dos dois projetos pedem que as iniciativas sejam mais compartilhadas e divulgadas nas redes sociais para que alcancem mais estudantes que sonham com a vaga na universidade e, claro, com o fim do preconceito e da desigualdade.