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O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgou os espelhos das redações da edição de 2020. Nele, pode-se verificar a maneira como os textos foram corrigidos pelos avaliadores.
Dos mais de 2.7 milhões de estudantes que participaram do exame, apenas 28 candidatos tiraram nota mil na redação. O GUIA conversou com quatro deles, que contaram como foram os estudos durante a pandemia e, principalmente, quais estratégias utilizaram para conseguir alcançar a pontuação máxima no texto dissertativo-argumentativo. Todos eles fizeram a versão impressa da prova, na primeira aplicação, que teve como tema de redação “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira“.
Outros dois temas foram abordados no Enem 2020: “A falta de empatia nas relações sociais no Brasil”, que fez parte da reaplicação e Enem PPL. E, “O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil”, para os candidatos do Enem digital.
Confira abaixo o espelho e transcrição de redações nota mil no Enem 2020:
Redação nota 1.000 de Adrielly Clara Enriques, MG
“No filme estadunidense “Joker”, estrelado por Joaquim Phoenix, é retratado a vida de Arthur Fleck, um homem que, em virtude de sua doença mental, é esquecido e discriminado pela sociedade, acarretando, inclusive, piora no seu quadro clínico. Assim como na obra cinematográfica abordada, observa-se que, na conjuntura brasileira contemporânea, devido a conceitos preconceituosos perpetuados ao longo da história humana, há um estigma relacionado aos transtornos mentais, uma vez que os indivíduos que sofrem dessas condições são marginalizados. Ademais, é preciso salientar, ainda, que a sociedade atual carece de informações a respeito de tal assunto, o que gera um estranhamento em torno da questão.
Em primeiro lugar, faz-se necessário mencionar o período da Idade Média, na Europa, em que os doentes mentais eram vistos como seres demoníacos, já que, naquela época, não havia estudos acerca dessa temática e, consequentemente, ideias absurdas eram disseminadas como verdades. É perceptível, então, que existe uma raiz histórica para o estigma atual vivenciado por pessoas que têm transtornos mentais, ocasionando um intenso preconceito e exclusão. Outrossim, não se pode esquecer de que, graças aos fatos supracitados, tais indivíduos recebem rótulos mentirosos, como, por exemplo, o estereótipo de que todos que possuem problemas psicológicos são incapazes de manter relacionamentos saudáveis, ou seja, não conseguem interagir com outros seres humanos de forma plena. Fica claro, pois, que as doenças mentais são tratadas de forma equivocada, ferindo a dignidade de toda a população.
Em segundo lugar, ressalta-se que há, no Brasil, uma evidente falta de informações sobre os transtornos mentais, fomentando grande preconceito e estranhamento com essas doenças. Nesse sentido, é lícito referenciar o filósofo grego Platão, que, em sua obra “A República”, narrou o intitulado “Mito da Caverna”, no qual homens, acorrentados em uma caverna, viam somente sombras na parede, acreditando, portanto, que aquilo era a realidade das coisas. Dessa forma, é notório que, em situação análoga à metáfora abordada, os brasileiros, sem acesso aos conhecimentos acerca dos transtornos mentais, vivem na escuridão, isto é, ignorância, disseminando atitudes preconceituosas. Logo, é evidente a grande importância das informações, haja vista que a falta delas aumenta o estigma relacionado às doenças mentais, prejudicando a qualidade de vida das pessoas que sofrem com tais transtornos.
Destarte, medidas são necessárias para resolver os problemas discutidos. Isto posto, cabe à escola, forte ferramenta de formação de opinião, realizar rodas de conversas com os alunos sobre a problemática do preconceito com os transtornos mentais, além de trazer informações científicas sobre tal questão. Essa ação pode se concretizar por meio da atuação de psiquiatras e professores de sociologia, estes irão desconstruir a visão discriminatória dos estudantes, enquanto que aqueles irão mostrar dados/informações relevantes sobre as doenças psiquiátricas. Espera-se com essa medida, que o estigma associado às doenças mentais seja paulatinamente erradicado.”
Redação nota 1.000 de Giovanna Benvenute, SP
“Na série “Spin out” da Netflix, a mãe da personagem principal, Carol, sofre de bipolaridade, um transtorno que a faz ter episódios de obsessão com suas filhas que lutam para esconder a realidade da mãe por deslustre e medo dos estigmas relacionados às doenças mentais empregados na sociedade. Fora da ficção, é fato que a realidade apresentada na série é retratada atualmente no Brasil, onde os cidadãos com psicopatologias preferem ocultar-se ao procurar tratamentos, por medo de julgamentos e pela falta de atendimento qualificado.
É relevante abordar, que durante 1903 foi fundado o hospital colônia de Barbacena, onde eram isolados os doentes mentais, que foram submetidos ao frio, a fome e doenças. Sendo submetidos a tortura, violência e posteriormente a morte. Sua última cela foi desativada em 1994, entretanto por infelicidade a exclusão de pacientes da psicopatia ocorre até os dias atuais. Esse panorama acontece porque a maioria dos governantes, grupos essenciais para a erradicação dos estigmas sociais referentes às doenças mentais, interessa-se, geralmente apenas pelo superficial, negligenciando a estipulação social em torno dos cidadãos. Mostra-se portanto, que a colossal exclusão relaciona-se com a deficiência informativa reproduzida no Brasil pelos seus governantes.
Outrossim, vale ressaltar que de acordo com o artigo sexto da constituição federal brasileira, a saúde é um direito humano de qualquer cidadão brasileiro. Nesse viés, o atendimento desqualificado bem como a falta de profissionais qualificados, impõe a quebra desses direitos, pois, os tratamentos para as doenças mentais são inacessíveis a maior parte de seus portadores. Destarte, constata-se que a falta atendimento qualificado, interfere na visão social sobre os portadores de psicopatologias ferindo os princípios constitucionais e impedindo a desestigmação das doenças mentais no Brasil.
Contudo, cabe aos Estados, por meio de leis e investimentos, com um planejamento adequado, estabelecer políticas públicas efetivas que erradiquem os estigmas associados a doenças mentais no Brasil. É de suma importância que as instituições educacionais promovam, por meio de campanhas de conscientização para os alunos e seus responsáveis informações sobre as doenças psíquicas, entendendo a importância de um tratamento indiferente no meio social com o intuito da interação social livre de estigmas no Brasil.”
Redação nota 1.000 de Raíssa Piccoli Fontoura, MS
“De acordo com o filósofo Platão, a associação entre saúde física e mental seria imprescindível para a manutenção da integridade humana. Nesse contexto, elucida-se a necessidade de maior atenção ao aspecto psicológico, o qual, além de estar suscetível a doenças, também é alvo de estigmatização na sociedade brasileira. Tal discriminação é configurada a partir da carência informacional concatenada à idealização da vida nas redes sociais, o que gera a falta de suporte aos necessitados. Isso mostra que esse revés deve ser solucionado urgentemente.
Sob essa análise, é necessário salientar que fatores relevantes são combinados na estruturação dessa problemática. Dentre eles, destaca-se a ausência de informações precisas e contundentes a respeito das doenças mentais, as quais, muitas vezes, são tratadas com descaso e desrespeito. Essa falta de subsídio informacional é grave, visto que impede que uma grande parcela da população brasileira conheça a seriedade das patologias psicológicas, sendo capaz de comprometer a realização de tratamentos adequados, a redução do sofrimento do paciente e a sua capacidade de recuperação. Somada a isso, a veiculação virtual de uma vida idealizada também contribui para a construção dessa caótica conjuntura, pois é responsável pela crença equivocada de que a existência humana pode ser perfeita, isto é, livre de obstáculos e transtornos. Esse entendimento falho da realidade faz com que os indivíduos que não se encaixem nos padrões difundidos, em especial no que concerne à saúde mental, sejam vítimas de preconceito e exclusão. Evidencia-se, então, que a carência de conhecimento associada à irrealidade digitalmente disseminada arquitetam esse lastimável panorama.
Consequentemente, tais motivadores geram incontestáveis e sérios efeitos na vida dos indivíduos que sofrem de algum gênero de doença mental. Tendo isso em vista, o acolhimento insuficiente e a falta de tratamento são preocupantes, uma vez que os acometidos necessitam de compreensão, respeito e apoio para disporem de mais energia e motivação no enfrentamento dessa situação, além de acompanhamento médico e psicológico também ser essencial para que a pessoa entenda seus sentimentos e organize suas estruturas psicológicas de uma forma mais salutar e emancipadora. O filme “Toc toc” retrata precisamente o processo de cura de um grupo de amigos que são diagnosticados com transtornos de ordem psicológica, revelando que o carinho fraternal e o entendimento mútuo são ferramentas fundamentais no desenvolvimento integral da saúde. Mostra-se, assim, que a estigmatização de doentes mentais produz a escassez de elementos primordiais para que eles possam ser tratados e curados.
Urge, portanto, que o Ministério da Saúde crie uma plataforma, por meio de recursos digitais, que contenha informações a respeito das doenças mentais e que proponha comportamentos e atitudes adequadas a serem adotados durante uma interação com uma pessoa que esteja com alguma patologia do gênero, além de divulgar os sinais mais frequentes relacionados à ausência de saúde psicológica. Essa medida promoverá uma maior rede informacional e propiciará um maior apoio aos necessitados. Ademais, também cabe à sociedade e à mídia elaborar campanhas que preguem a contrariedade ao preconceito no que tange aos doentes dessa natureza, o que pode ser efetivado através de mobilizações em redes sociais e por intermédio de programas televisivos com viés informativo. Tal iniciativa é capaz de engajar a população brasileira no combate a esse tipo de discriminação. Com isso, a ideia platônica será convertida em realidade no Brasil.”
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