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‘Eu estava preparada’: barrados do Enem relatam impacto na saúde mental

De sentimento de culpa à insônia, jovens compartilham sentimento de frustração e medo do erro se repetir

Por Luccas Diaz
Atualizado em 8 mar 2021, 19h30 - Publicado em 3 fev 2021, 12h21
Celular é proibido dentro da sala de prova do Enem
Mesmo com a proibição de celulares ligados na sala de prova do Enem, estudantes levam aparelho e dão a última conferida antes de entrar para o Exame (Alexandre de Melo/Guia do Estudante)
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Em meio a pandemia, estudar e se preparar para o vestibular não são tarefas fáceis. Nem mesmo possível, em alguns casos. É preciso ainda mais foco e disciplina. Quando finalmente o dia da prova chega, depois de meses de esforço, alguns candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) recebem a notícia: “Desculpe, você não poderá fazer a prova”.

A maioria dos estudantes que tiveram essa triste notificação são de cidades da região Sul. O grupo barrado entrou para uma estatística inédita do exame: candidatos que foram impedidos de entrar na sala de aplicação depois que estas atingiram o limite da capacidade segura de distanciamento. A medida fez parte do plano de biossegurança do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que determinava que cada sala deveria conter apenas 40% da capacidade total.

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A presença de candidatos barrados na entrada dos locais de prova chamou a atenção porque mesmo assim o Enem teve a maior abstenção da história: 51,5% no primeiro dia. Apesar da presença de menos da metade de candidatos previstos, houve relatos de remanejamento de cadeiras e salas abarrotadas. Os protestos e pedidos na Justiça para o adiamento da prova, feitos até o último momento possível, não foram suficientes para impedir a realização do exame.

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”Foi muito, muito ruim…”

Natália Koenig Neto, 18, que quer cursar Química Industrial na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi uma das que foram impedidas de realizar a prova. A jovem mora na cidade de Candelária, no Rio Grande do Sul, e foi fazer o exame no município vizinho, Santa Cruz. “Saí de Candelária bem cedo, umas onze e pouquinho, e a gente levou uns 40 minutos para chegar lá. Eram ainda meio dia quando chegamos na Unisc [Universidade de Santa Cruz do Sul]”, conta a jovem – que imprimiu o cartão de inscrição para não esquecer qual era o seu prédio e sala.

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A estudante fez cursinho online preparatório para o Enem durante o ano. Ao chegar no local de prova,  encontrou alguns amigos e decidiu conversar um pouco antes de entrar na prova. Por conta da pandemia, a recomendação do Inep era que o candidato chegasse o mais cedo possível e já entrasse nas salas de aplicação, abertas a partir das 11h30. A decisão não agradou todos os estudantes. “Não queríamos ficar lá sem fazer nada, eu estava bem nervosa, precisava conversar. Fiquei com eles até 12h40. Depois, fui para a minha sala”, conta.

Natália Koenig Neto, 18, estudante que foi barrada no Enem 2020
Natália foi impedida de realizar o exame após sua sala atingir a capacidade máxima (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Chegando na sala de aplicação, veio o aviso: a sala de Natália havia atingido a capacidade máxima segura. O fiscal anotou os dados da jovem e a encaminhou para um outro andar do prédio, onde supostamente haveria uma sala extra. “Cheguei lá, estava uma confusão, tinha até gente chorando. Eu perguntei: ‘o que aconteceu?’. Me disseram que não havia sala extra”, relatou Natália.  “A fiscal nos passou um número de telefone e disse que era a central do MEC. Teríamos ligar e resolver na central’”, relembra.

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Natália se juntou ao grupo dos estudantes barrados que compartilhavam o sentimento de frustração. Alguns deles trocaram contatos para poderem se ajudar. Os professores de cursinho que estavam na entrada do local de prova também tentaram ajudar de alguma forma, mas nada parecia poder ser feito no momento. “Fiquei bem abalada porque eu estava preparada para a prova, eu tinha estudado bastante. Eu deixei de fazer várias coisas nos dias anteriores para me preparar, e chegar lá e descobrir que eu não iria fazer foi muito, muito ruim…”

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“Meu futuro depende de tudo isso”

Outra estudante que passou pela mesma situação, também na Unisc, foi Eduarda Jacomini, 19. A jovem, que sonha com uma vaga no curso de Enfermagem na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), fez parte do grupo de Natália.  “Sempre me esforcei sozinha para estudar, assistia vídeos, acompanhava bastante as notícias. Eu chegava do serviço e estudava. Chegava de noite e estudava até altas horas da madrugada. Tudo sozinha”, conta.

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Jacomini explica que no momento seguinte ao impedimento, representantes do Inep que estavam no local pegaram os dados do CPF, RG e os números das salas que os candidatos barrados iriam fazer a prova. “Antes estava sendo horrível, eles não me atendiam [no telefone]”, conta. Foi somente quando a opção de reaplicação da prova surgiu na Página do Participante que Jacomini conseguiu alguma informação sobre a situação.

“Eu que tenho problemas de ansiedade fiquei muito mal, eu cheguei a colocar a culpa toda em mim. Me senti uma pessoa desorganizada e ao mesmo tempo uma boba por não ter ido bem mais cedo – mesmo chegando às 12:20. Não dormi a semana toda correndo atrás de informações”.

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Local de prova em São Paulo tem entrada movimentada no segunda prova do Enem.
Local de prova em São Paulo tem entrada movimentada no segundo dia de prova do Enem. (Alexandre de Melo/Guia do Estudante)

Sobre o suposto despreparo da organização do exame, as duas concordam. Natália acredita que o problema poderia ser evitado, caso houvesse uma melhor preparação do Inep. “A pandemia já está aí há bastante tempo, eu acho que eles poderiam ter se organizado muito antes para isso não ter acontecido. Era muito simples, era só abrir outras salas e colocar os outros alunos ali. Tinha sala vazia! Poderia muito bem ter pensado isso com antecedência”, diz.

Tanto Jacomini quanto Neto se inscreveram para a reaplicação do exame que está marcada para os dias 23 e 24 de fevereiro. A aparente vantagem de ganhar mais algumas semanas de estudo parece não ser algo tão positivo para Neto. “Não posso parar de estudar nesta altura. Era para eu estar de férias agora, eu já tinha até planos para depois do Enem e tive que cancelá-los” conta a estudante. Já Jacomini afirma que ainda sente um certo medo de não conseguir fazer a reaplicação, caso algum cenário de impedimento se repita. “Mas é essencial fazer a reaplicação, o meu futuro depende de tudo isso”, reforça.

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A reaplicação do Enem contemplará além dos estudantes que foram impedidos de entrar nas salas, os que tiveram algum outro problema estrutural no local (como falta de luz, ou problemas técnicos), estudantes que contraíram covid-19, ou outra doença infectocontagiosa, no dia ou na semana anterior ao exame, os candidatos do estado do Amazonas e de dois municípios de Roraima, e os inscritos que estejam em situação privada de liberdade (PPL). O período de solicitação para participar do exame do dia 23 e 24 foi entre os dias 25 e 29 de janeiro. A decisão se a solicitação será ou não aceita estará disponível para o candidato também na Página do Participante.

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