Kpop no Enem 2023? Entenda a história conflituosa das duas Coreias
Questão que falou de alto-falantes instalados na fronteira entre os dois países abordou as disputas ideológicas e culturais entre Coreia do Sul e do Norte
A questão abaixo, do Enem 2023, aborda um conflito contemporâneo no leste da Ásia, na península coreana. A Coreia é uma nação milenar, com cultura e língua próprias, que teve de se afirmar, ao longo da história, contra os ímpetos de dominação de chineses, mongóis, japoneses e russos.
Breve história das duas Coreias
Em 1910, o Japão anexa a Coreia, reprime duramente sua população e tenta inclusive suprimir a língua local. Seu domínio se estende até o final da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), selada com a derrota japonesa.
A Coreia é então dividida entre duas zonas de ocupação: uma sob domínio norte-americano, na porção sul, e outra sob controle soviético, na porção norte (que fazia divisa com a URSS, e hoje é fronteiriça à Rússia). Em 1948, no contexto dos antagonismos da Guerra Fria (EUA x URSS), as zonas de ocupação transformam-se em dois Estados: Coreia do Norte (com regime comunista), capital Pyongyang, e Coreia do Sul (com economia de mercado), capital Seul. Detalhe: os dois países reivindicam o direito sobre todo o território coreano.
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Em 1950, os norte-coreanos atacam o sul. Os Estados Unidos apoiam a Coreia do Sul, e a China (com regime comunista desde 1949) entra na guerra em apoio ao Norte. Ao final de três anos de combates, que deixam 5 milhões de mortos, chega-se a uma trégua, que mantém a divisa no paralelo 38 – ao longo do qual se cria uma zona desmilitarizada com 4 quilômetros de largura.
Formalmente, as duas Coreias estão em guerra até hoje. Sua população é relativamente homogênea, de forma que famílias foram separadas pela divisão do país. Não há diferenças étnicas nem culturais significativas entre os coreanos.
+ Como o K-Pop transformou o poder econômico e cultural da Coreia do Sul
O conflito entre os dois países é notadamente político e ideológico. Nas últimas décadas, a Coreia do Sul tornou-se um dos “tigres asiáticos” e ocupou um lugar no mercado mundial com uma indústria inovadora e tecnológica, além de produções culturais relevantes – basta lembrar do filme vencedor do Oscar de 2020, “Parasita”. A Coreia do Norte, por seu lado, isolou-se num regime fechado e ditatorial, que aparece no noticiário pelos seguidos testes do seu arsenal nuclear.
A divisão das Coreias integra atualmente as tensões regionais e globais envolvendo Estados Unidos, China, Rússia e Japão, e a solução do conflito ainda parece distante.
O Kpop citado na questão acima do Enem é atualmente um grande recurso do “soft power” sulcoreano. “Soft power” é uma expressão das Relações Internacionais que descreve a capacidade que um país tem de influenciar outras nações por meios que não sejam bélicos ou econômicos – ou seja, basicamente, pela cultura ou visão de mundo. O enorme sucesso internacional do Kpop fez com que ele ultrapassasse as barreiras da Coreia do Sul e virasse um verdadeir “arsenal cultural” para espalhar a influência sulcoreana por outros países, incluindo os rivais do Norte.
O Kpop tem batidas contagiantes, letras-chiclete, e se utiliza de todos os recursos do capitalismo para fazer sucesso: figurinos elaborados, videoclipes milionários, merchans, apresentações espetaculares. Assim, acaba servindo como propaganda da Coreia do Sul – e não à toa foi parar nos alto falantes dirigidos aos inimigos do Norte.
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