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Músicas que podem cair no Enem – ou servir de repertório para a redação

Canções abordam temas relevantes para a sociedade, como o racismo, a desigualdade social, a solidão da mulher negra e a população de rua

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 21 ago 2023, 11h22 - Publicado em 21 ago 2023, 10h49
Luedji Luna, Emicida, Titãs, Rita Lee: nossas apostas musicais para o Enem
Luedji Luna, Emicida, Titãs, Rita Lee: nossas apostas musicais para o Enem (Instagram/Reprodução)
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Seja no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou em outros vestibulares pelo Brasil, é comum que as questões tenham uma contextualização, que pode ser feita com trechos de livros, referências a filmes, menções a fatos históricos ou mesmo músicas populares. Nesse último caso, as bancas costumam explorar canções que abordem temas sociais, discussões relevantes para o cotidiano ou que façam críticas a problemas da sociedade.

E a melhor maneira de não ser pego de surpresa e se sentir mais à vontade com questões desse tipo é aumentando o seu repertório cultural – ou, no caso, musical. Por isso, separamos oito canções que têm essas características e, segundo especialistas, têm potencial para aparecer no Enem. Vale lembrar que as canções levantadas também podem ser usadas como bagagem cultural para a redação, demonstrando um repertório mais aguçado e abrangente. Confira:

1. Todo camburão tem um pouco de navio negreiro (O Rappa)
Tema: violência policial e racismo estrutural

O elevado número de mortes provocadas por operações policiais recentemente, como aquelas ocorridas no Guarujá, em São Paulo, e, em anos anteriores, no Jacarezinho, no Rio de Janeiro (RJ), tornam possíveis temas sobre violência policial, segundo o professor de Redação e Filosofia do Curso Anglo, Felipe Leal. “A canção do grupo O Rappa trata do fato de os mortos serem, em sua maioria, negros e pobres, o que expande a questão para um debate sobre racismo estrutural no país e sobre a herança da escravidão no presente.”

+ Por que a sociedade não se importa com as mortes nas favelas

2. Fim de semana no parque (Racionais MC’s)
Tema: desigualdade social

Muitos vestibulandos já conhecem as músicas do álbum “Sobrevivendo no inferno”, dos Racionais, pelo fato de a obra ter sido cobrada na lista da Unicamp até o vestibular de 2023 e, para Driely Oyama, professora de Língua Portuguesa no Colégio Rio Branco, pelo fato de essa ser uma referência obrigatória para quem quer compreender melhor o Brasil. Mas, como muitos já o conhecem, a indicação da especialista vem de outro disco do grupo, “Raio-X do Brasil”.

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Ela explica que a música “Fim de semana no parque” mostra o contraste de um fim de semana, em uma tarde de verão, entre um bairro nobre e um bairro da periferia. O eu lírico vai para outro bairro (a uma hora de sua casa) para poder jogar basquete em uma quadra com seus amigos. “Lá ele observa o fim de semana dos ricos: carros sendo lavados nas garagens, quadras poliesportivas e pais levando seus filhos para passear. Ao voltar para sua quebrada, o cenário é bastante diferente. Apesar de ter a mesma alegria que via no bairro vizinho, é um espaço cheio de violência e ausência do estado. Não há espaços dedicados ao lazer como parques e quadras de basquete.”

Por isso, com essa música é possível discutir desigualdade social e a falta de opções de lazer nas periferias.

3. Pagu (Rita Lee)
Tema: machismo e papel da mulher na sociedade

A morte recente da compositora e cantora Rita Lee chamou atenção para o seu legado na música brasileira, por exemplo em canções que desafiavam o papel designado para mulheres na sociedade. Na canção Pagu, nome que faz referência a outra personagem histórica nesse questionamento, Rita Lee questiona a redução da mulher a objeto de desejo do homem, como nos versos “Nem toda brasileira é bunda / Meu peito não é de silicone / Sou mais macho que muito homem”.

“A canção descortina a questão do machismo presente na sociedade brasileira, por meio do questionamento dos padrões estéticos e comportamentais impostos às mulheres do país. Se o tema da redação trabalhar questões ligadas à opressão, em suas mais variadas formas, ao feminino, é possível utilizar essa música como excelente repertório”, explica Thiago Braga, autor de Língua Portuguesa do Sistema de Ensino pH.

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+ O que é masculinidade tóxica e como ela afeta homens e mulheres

4. Um corpo no mundo (Luedji Luna)
Tema: imigração, racismo e solidão da mulher negra

A música “Um corpo no mundo” narra a história da própria Luedji Luna, que migrou da Bahia para São Paulo, em uma viagem cheia de despedida e esperança. Entre as muitas diferenças que ela encontrou nessa jornada, a música destaca o tratamento dado ao corpo negro, ao corpo da mulher negra. Um corpo que tem cor, tem corte, tem história.

“Na Bahia, seu corpo se misturava a muitos outros corpos negros, mas nas ruas cinzas da nova cidade, ela observa que os corpos negros estão às margens da sociedade. (Como canta Elza Soares, só pra deixar mais uma indicação: ‘a carne mais barata do mercado é a negra’). Os olhares brancos que a fitam causam estranhamento, medo e solidão”, explica a professora do Rio Branco.

“Je suis ici (estou aqui), ainda que não queiram”, é o que diz uma imigrante em sua nova cidade. “Je suis ici, ainda que não queiram”, é o que diz uma mulher negra no Brasil. A partir dessa música é possível discutir imigração, racismo e solidão da mulher negra.

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5. Meu guri (Chico Buarque)
Tema: vulnerabilidade social

A música narra, em primeira pessoa, a história de uma mãe e o seu guri, que vivem em uma situação de vulnerabilidade social. Embora toda circunstância indique o contrário, a mãe e o seu guri ainda sonham em “chegar lá”, sonham com a ascensão social. Além disso, a música mostra como a vulnerabilidade acaba levando muitos jovens ao crime, evidenciando outro problema contemporâneo: a violência urbana, que está diretamente relacionada à desigualdade social.

A canção aborda muitos temas sociais, típicos do Enem, mas o que a torna especial é o afeto entre mãe e filho. Enquanto a sociedade o desumaniza nos noticiários diariamente, ela só o enxerga como seu guri, a quem dá colo e consolo.

No desfecho, Chico Buarque fala sobre a dor que a língua não dá conta de nomear. A dor de milhares de mães brasileiras que perderam seus filhos para a violência policial nas periferias. A dor de uma mãe que finalmente vê seu filho estampando os jornais, chegando lá, mas como mais uma vítima da violência policial. 

6. Ismália (Emicida)
Tema: racismo

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A canção trata da questão do preconceito racial por meio de uma referência a um poema simbolista homônimo de Alphonsus de Guimaraens. Na música, Ismália é retratada como uma mulher contemporânea negra, vítima de racismo. Em qualquer tema que envolva preconceito e discriminação, essa canção pode ser usada como repertório, segundo os professores.

+ Simbolismo: o que é, principais características e exemplos

7. Comida (Titãs)
Tema: valor da arte

No histórico retorno da banda Titãs, umas das canções que mais chamou a atenção foi “Comida”, segundo Felipe Leal, do Anglo. Isso porque os versos “A gente não quer só comida / A gente quer comida, diversão e arte” ganham importância hoje diante de anos de questionamento sobre o valor do trabalho dos artistas e do papel da arte em nossas vidas. O tema do valor da arte pode aparecer inclusive levando-se em conta o quanto produções artísticas são necessárias nos períodos de isolamento social.

8. Caravanas (Chico Buarque)
Tema: segregação social

Fazendo referências à obra “O estrangeiro”, de Albert Camus, Chico Buarque fala da segregação social e espacial na cidade do Rio de Janeiro. Em temas que versem sobre elitismo, preconceito social, desigualdade, concentração de renda e falta de oportunidades aos mais pobres, essa canção pode ser explorada.

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