Tema da redação do Enem 2020 é ‘estigma associado às doenças mentais’
O tema, como de praxe, foi divulgado pelo Inep em suas redes sociais depois que os estudantes já estavam em sala
Na tarde deste domingo (17), os milhões de candidatos que fazem o Enem 2020 escrevem uma redação sobre “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. O tema da redação foi divulgado pouco depois do início da prova pelo Twitter do Inep. Além da redação do Enem, os candidatos também respondem, neste primeiro dia, a 45 questões de Linguagens e 45 de Ciências Humanas. Eles só poderão começar deixar a sala depois de transcorridas duas horas de prova.
Nesta edição, o tema da redação é “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Participantes têm até 19h (horário de Brasília) para finalizar o exame. pic.twitter.com/va5gMhM6dF
— Inep (@inep_oficial) January 17, 2021
Sérgio Paganim, coordenador de Linguagens do Curso Anglo, aponta que estigma, essa conotação negativa, está muito ligado pelo histórico de tratamento manicomial e por uma falta de informações mais consistentes sobre o assunto. ” Há uma associação entre doenças mentais e afastamento: a sociedade sempre lidou com as pessoas com doenças mentais como um apartamento, como acontece com os presidiários”.
O que os especialistas acharam do tema
De acordo com os professores, o tema sobre doenças mentais não foi uma surpresa. Segundo eles, foi um dos assuntos trabalhados por muitos em 2020, mesmo que com outros recortes. O GUIA, por exemplo, elencou saúde mental, mas pensando em cyberbullying, depressão e suicídio, como um dos 13 temas possíveis de redação para este ano. E, na reportagem sobre as possíveis dicas do Inep e do MEC nas redes sociais, o assunto também apareceu.
Milton Costa do Curso, professor da Oficina do Estudante, diz que a surpresa em relação ao tema cobrado é que vai contra as ações recentes do próprio MEC, que propôs a volta da separação de crianças com deficiência em escolas especiais, reforçando um estigma, num decreto que depois foi revertido Justiça. “Tomara que a coletânea tenha sido correta e com bons textos, ao contrário do que aconteceu em 2019”.
David Gonçalves, professor da Plataforma AZ de Aprendizagem, afirma que, nos últimos cinco anos, o tema já era uma pauta com mais protagonismo, sobretudo com as redes sociais. Mas que, com a pandemia, com certeza, as discussões se aprofundaram. “O fato de a dinâmica social ter mudado em 2020, com grandes alterações no modo de trabalhar, estudar, ter lazer, interferiu no modo como os brasileiros lidam com a questão psicológica, com seus medos e ansiedades”. Dessa forma, o professor acredita que os alunos que acompanharam de perto esse processo e os fatos provavelmente terão mais capacidade para desenvolver a redação.
Rodrigo Noronha, professor de redação do sistema COC by Pearson, concorda que o tema foi esperado e bastante trabalhado em sala de aula por causa da pandemia. “Um ano atípico em que o isolamento fez com que nossa saúde estivesse totalmente conturbada”, lembra. Em termos de viés temático, segundo o professor, a banca espera que o estudante se coloque contra as marcas, as cicatrizes que as doenças mentais deixam nas pessoas e fale sobre os obstáculos para o restabelecimento da saúde mental e a integração das pessoas. “É de grande importância que os estudantes abordem as barreiras que as pessoas com transtorno mental têm. Podemos até colocar a postura de amigos e familiares que evitam contato e a discriminação nas escolas”.
Além da pandemia, Maria Catarina Bózio, coordenadora de redação do Poliedro, afirma que o tema proposto possibilita que o aluno coloque em discussão aspectos que estiveram em alta ao longo de todo o ano passado, como a volta de alguns tratamentos como eletrochoque e internação em manicômios. Outro aspecto que poderia ser discutido, que está no dia a dia dos estudantes, é a questão do uso de termos pejorativos como “retardado”, usado como forma de xingamento.
A coordenadora também ressalta que, como repertório, os alunos tinham de forma bastante acessível o diálogo com Literatura Brasileira, por meio do Alienista, de Machado de Assis. “Eles podem pensar em algumas figuras brasileiras icônicas do assunto como o artista plástico Bispo do Rosário – considerado gênio por alguns e loucos por outros – e a psiquiatra Nise da Silveira (que revolucionou o tratamento mental no Brasil)”, completa.
O que pode zerar a redação do Enem
Na última edição do Enem, em 2019, mais de 143 mil candidatos tiveram a redação zerada. O número cresceu em relação ao anterior, quando 112 mil estudantes tiraram zero.
Entre as atitudes que podem levar a esta nota está a fuga total do tema proposto ou do formato dissertativo-argumentativo, deixar a folha de redação em branco, escrever menos de sete linhas, escrever discurso ofensivo ou desenhar na prova.
Escrever partes desconexas no meio do texto (como as famosas receitas de miojo ou hinos de clubes de futebol) também zera a redação. O GUIA já publicou um texto sobre essas atitudes que podem zerar a prova, confira aqui!
As cinco competências avaliadas na prova
A redação do Enem vale, no total, 1000 pontos, que são divididos entre cinco competências da seguinte forma:
Competência 1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;
Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa;
Competência 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;
Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;
Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado que respeite os direitos humanos.
Resultado
De acordo com o Inep, o resultado individual do Enem 2020 sai no dia 29 de março. Antes disso, você pode acompanhar ainda hoje a correção comentada e o gabarito Enem extraoficial aqui pelo GUIA DO ESTUDANTE!