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Na tarde deste domingo (21), os milhões de candidatos que fizeram o Enem 2021 escreveram uma redação sobre “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. O tema foi divulgado às 13h47 pelo ministro da educação, Milton Ribeiro, em seu twitter.
“Em contraponto aos anos anteriores, em que tínhamos um recorte de direitos específicos, nesse ano tivemos um tema que se relaciona com os direitos em geral”, analisa Maria Catarina Bózio, coordenadora pedagógica e de Redação do Poliedro Colégio. “Importante que o aluno trabalhasse com a noção da invisibilidade, do quanto é perigoso e deve ser evitado negar esses direitos a quem não não possua um registro civil”, completa, ressaltando ainda a importância de garantir a possibilidade de resgate dos registros da população em situação de rua.
“O assunto exigia alguns cuidados e o primeiro era vencer a frase tema”, diz Sérgio Paganim, diretor pedagógico do Curso Anglo. “Esse ano a frase tema trazia um aspecto negativo, que é a invisibilidade, e um aspecto positivo, que é a garantia de acesso à cidadania. Portanto, o bom texto precisava mencionar essas três palavras-chave – visibilidade, registro civil e cidadania – para que seja bem avaliado na competência dois da redação, que trata da adequação ao tema”, completa.
Coletânea
A prova apresentou quatro textos motivadores. Na avaliação da equipe de redação do Curso Poliedro, a partir da leitura era possível formular uma tese a partir das causas e consequências da invisibilidade decorrente da ausência de registro civil. Além de elaborar a proposta de intervenção como forma de solucionar essa problemática. Os professores do cursinho comentaram cada um dos textos de apoio.
Primeiro texto
Tratava de um trabalho acadêmico de Fernanda da Escóssia intitulado Invisíveis: uma etnografia sobre identidade, direitos e cidadania nas trajetórias de brasileiros sem documento e que deu origem ao livro recém–lançado Invisíveis – Uma etnografia sobre Brasileiros sem Documento, editora FGV. O trecho do artigo trazia informações sobre jovens, velhos e crianças em busca de sua documentação e que, ao serem entrevistados, revelavam vergonha e consideravam-se alijados por não serem reconhecidos pelo estado.
Segundo texto
O segundo texto dava conta de que a Lei 9534/1997 que garante a gratuidade do registro civil e que não é plenamente cumprida, visto que muitas pessoas não têm certidão de nascimento no Brasil. Havia ainda um mapa da invisibilidade no Brasil com estimativas de quantas pessoas não têm esse registro em cada região, com destaque para o dado de que são 898 mil no Nordeste e 1,15 milhão no Sudeste.
Terceiro texto
O terceiro texto mostrava os benefícios de se ter o registro civil como a possibilidade de ter carteira de vacinação, dentre outros direitos.
Quarto texto
O quarto texto trazia a imagem de um quadro preto e, no canto, uma menina sobreposta por digitais com a frase “Defensoras e defensores públicos pelo direito à documentação pessoal”, que integrou a campanha nacional da entidade em 2018.
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Repertório
A equipe do Poliedro deu exemplos de quais referências o candidato poderia usar. “Caso o estudante trouxesse em seu repertório exemplos de direitos cujo acesso deixa de ser garantido em função da invisibilidade ocasionada, poderia mobilizar conceitos do filósofo Pierre Bordieu como Habitus, Capital Cultural e Violência Simbólica“, aponta.
Dentre os historiadores e estudiosos da história do Brasil, os professores do Poliedro citaram “Brasil: uma biografia”, de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. A obra trata as idiossincrasias da sociedade brasileira, com destaque para a “difícil e tortuosa construção da cidadania”. “Embora o país possua uma das legislações mais avançadas do mundo, muito do que nela se prevê não se concretiza. Tal dificuldade se deve, em grande parte, aos obstáculos para a realização do registro civil de muitos brasileiros, o que provoca, consequentemente, a invisibilidade e compromete o acesso a uma ampla gama de direitos”, ressaltam.
Outra possibilidade, indicada pela equipe do Poliedro, era usar o historiador José Murilo de Carvalho. O autor tematizou a cidadania no Brasil enquanto fenômeno histórico e, ao longo da história, o fato de as diversas dimensões dos direitos não estarem interligadas desembocam numa cidadania inconclusa.
“No campo das artes, mais especificamente, seria possível usar os livros Capitães da Areia, de Jorge Amado, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos que, em suas narrativas, apresentam personagens sem nome que personificam os brasileiros indocumentados. Outro clássico da literatura brasileira é Severino, da obra Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, que, dada sua existência limítrofe, recebeu como sobrenome o nome de seus pais”, completa.
O que dizem os professores sobre a redação
“Um tema bastante importante e dentro do padrão do Enem”, diz Thiago Braga, autor de Língua Portuguesa do Sistema de Ensino pH. “Muitas pessoas não conseguem ter acesso a registro civil e sem ele não se consegue ter acesso aos direitos mais básicos porque não são reconhecidas pelo Estado. Uma excelente discussão para toda juventude do Brasil”, completa.
Para Sérgio Paganim, diretor pedagógico do Curso Anglo, a pertinência do tema diz respeito ao registro dos fatos da vida dos indivíduos, como nascimento, casamento, divórcio e morte. “Trata-se de um ato jurídico e portanto é importante ligar esse registro civil à concepção de que vivemos numa sociedade baseada no estado democrático fundado no direito”, completa.
Milton Costa, professor de Redação do Curso Oficina do Estudante, de Campinas, também considera o recorte temático pertinente. “O atraso na execução do Censo pelo IBGE e a censura promovida pelo governo Bolsonaro são fatos que podem ser explorado na argumentação, no sentido de mostrar como a invisibilidade interdita a cidadania”, conclui.
“O tema veio confirmar que o Enem tem essa vertente de preocupação com as questões relativas a igualdade, liberdade e justiça”, pondera David Gonçalves, Coordenador de Redação do Colégio e Curso AZ. E completa: “Uma pessoa que não é civilmente registrada está alheia aos processos democráticos, não pode votar, sair do país, não pode prestar um concurso público, não pode casar, enfim, não pode participar de nenhum processo que exija o mínimo de identificação”.
O que pode zerar a redação do Enem
Entre as atitudes que podem levar a um zero está a fuga total do tema proposto ou do formato dissertativo-argumentativo, deixar a folha de redação em branco, escrever menos de sete linhas, escrever discurso ofensivo ou desenhar na prova.
Escrever partes desconexas no meio do texto (como as famosas receitas de miojo ou hinos de clubes de futebol) também zera a redação. O GUIA já publicou um texto sobre essas atitudes que podem zerar a prova, confira aqui!
As cinco competências avaliadas na prova
A redação do Enem vale, no total, 1000 pontos, que são divididos entre cinco competências da seguinte forma:
Competência 1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;
Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa;
Competência 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;
Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;
Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado que respeite os direitos humanos.
Resultado
O Inep ainda não divulgou a data em que os resultados individuais poderão ser consultados. Mas, antes disso, você pode acompanhar ainda hoje a correção comentada e o gabarito Enem extraoficial aqui pelo GUIA DO ESTUDANTE. Fique de olho no nosso site e nas redes sociais!
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