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20 poesias que inspiraram letras de música

Você já imaginou que Fagner musicou Florbela Espanca? Ou que Secos & Molhados cantou versos de Fernando Pessoa?

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 24 Maio 2019, 17h42 - Publicado em 24 set 2015, 16h47

É ótimo poder cantar a letra de uma música e captar o sentido de quem a escreveu, não? Ainda mais quando descobrimos que, aquela canção tão suave, tocante ou importante para nós é, na verdade, uma poesia (ou inspirada em algumas estrofes e rimas).

Você já imaginou que Fagner musicou Florbela Espanca? Ou que Secos & Molhados cantou versos de Fernando Pessoa? Confira nossa lista com vinte faixas que tiveram uma ajudinha de escritores e poetas para se tornarem melodias:

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1) “Que deus te guie, porque eu não posso guiar”

Caetano foi um dos intérpretes brasileiros que mais musicou poemas, poesias ou, como neste caso, prosas poéticas. Escrita por Haroldo de Campos, circulado de fulô, é um tributo à tradição de ministreis nordestinos.

circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de
fulô e ainda quem falta me dá

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2) “Uma parte de mim, almoça e janta; outra parte se espanta”

Fã de grandes poetas, Fagner chegou a enviar um CD com diversos poemas de Gullar musicados antes de lançar – e, aprovado pelo poeta, trouxe à público (e, como melodia) Contigo, Cantiga para Não Morrer (me leve), Menos a Mim e Rainha da Vida. Traduzir-se, contudo, é a mais conhecida das músicas-poesia desta dupla,

Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

3) “Ah, que linda namorada!”

Pode não parecer, porém, Minha Namorada, antes de ser uma música do mestre Vinícius de Moraes, é um poema. Nele, o poetinha convida sua amada ao posto de namorada e, quiça, caso ela queira e aguente, amada para o resto da vida.

Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você

4) “Lá tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei”

Poema de Manuel Bandeira, Vou-me Embora Para Pasárgada é conhecido por vislumbrar um universo paralelo onde todas as coisas boas são possíveis: andar de bicicletas, namorar moças bonitas, isolar-se da infelicidade. O cantor Paulo Diniz foi quem o fez melodia.

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E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

5) “Amei-te sim ó virgem, amei-te!”

A poesia Medroso de Amor é de Juvenal Galeno, porém, foi transformada em letra pelo pianista cearense Alberto Nepomuceno. Considerada de gênero brejeiro, realça a beleza de um arquétipo da época: a moreninha. Em 1968, ganhou reconhecimento na voz doce de Nara Leão, que contou com o apoio dos arranjos de Rogério Duprat.

Não desfolhes, não sorrias
Que eu tenho medo d´amores
Que só trazem desventuras.

6) “Há tanta suavidade em nada se dizer”

Ney Matogrosso e sua banda também foram entusiastas da arte de ritmar poesias. Inspirada em Fernando Pessoa e seu poema homônimo, a letra dos músicos brasileiros externa a mesma sensação de saciedade frente ao silêncio, contudo, não há versos comuns além do título.

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem

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7) “É uma cova grande pra tua carne pouca, mas a terra dada, não se abre a boca”

Morte e Vida Severina, poema teatral de João Cabral de Melo Neto, foi musicado por Chico Buarque um ano após o golpe militar sob a alcunha de Funeral de um Lavrador.  As disputas em torno da terra e da reforma agrária foram alguns dos motivos que levaram o fluminense a transformar a parte mais conhecida do enredo em alg

É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida

8) “Meus olhos andam cegos, de te ver”

Mais um poema que Fagner gravou em sua coletânea de poesias musicadas Sorriso Novo, de 1982. Sem alterações na letra, o cearense canta a poesia Fanatismo, de Florbela Espanca.

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

9) “Quem não presta fica vivo, quem é bom, mandam matar”

Escrito por Cecília Meireles, o poema Tema de Os Inconfidentes ganhou forma, acordes e notas na voz de Chico Buarque. Inspirado na obra lírica Romanceiro da Inconfidência, cada estrofe conta um dos romances do livro.

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Foi trabalhar para todos…
Mas, por ele, quem trabalha?
Tombado fica seu corpo,
Nessa esquisita batalha.
Suas ações e seu nome,
por onde a glória os espalha?

10) “Corro perigo como toda pessoa que vive”

Do trecho de Clarice Lispector, Cazuza arranjou, junto a Frejat, uma bela música para a voz única de Cássia Eller: Que Deus o Venha. A canção/prosa poética trata exatamente sobre o inesperado, a salvação através do amor e o prazer de se estar vivo e devorar a vida.

Mas eu sei
Que vou ter paz antes da morte
Que eu vou experimentar um dia
O delicado da vida
Vou aprender
Como se come e vive
O gosto da comida

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11) “E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou”

Valsinha, inicialmente montada como poema pelo poetinha, foi composta em 1970. Vinicius a compôs essa e entregou-a a Chico Buarque, que logo fez-lhe a letra e passou a cantá-la em seus shows.

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E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar

12) “Que bicho é o homem, do que se enfeita?”

Podemos caracterizar Fagner como o poeta musical oficial do Brasil? Acreditamos que sim. Desta vez, o instrumentista fez música do poema O Bicho Homem, de Francisco Carvalho. O músico veio a conhecer o trabalho do poeta e se encantou: “Eu pensei em fazer um disco muito mais ligado aos ritmos nordestinos, à nossa cultura, talvez só com parcerias minhas com Capinan. Mas quando li o primeiro poema dele, `O bicho homem’, dei uma virada geral. Foi surpreendente. Um poeta que eu não conhecia, cearense, anônimo até pra mim que sou conterrâneo!”.

O homem que vai
para a eternidade
num saco de lixo.
Que bicho é o homem
de salário fixo?

13) “Quando você ficar triste, que seja por um dia, e não o ano inteiro”

Frejat, que já havia participado da dobradinha entre Clarice Lispector e Cazuza para musicar um dos trechos da autora, se inspirou em Victor Hugo para criar a canção Amor Pra Recomeçar. O poema, antigo, é nada mais que uma carta cheia de bons desejos ao próximo – e conseguiu ser bem exprimida na canção, também esperançosa de boa vida.

Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

14) “Tudo claro à noite, assim que é bom”

Paulo Leminski é muito conhecido por suas poesias desconstruídas e à frente do tempo, porém, poucos sabem que o curitibano mantinha uma relação bastante próxima com a música. Luzes, inicialmente uma poesia sua, se tornou som quando cantada por Arnaldo Antunes.

Acenda a luz dos lampiões
Inflame a chama dos salões
Fogos de línguas de dragões
Vagalumes

15) “Um trabalho que fiz noutro planeta, onde nave flutua e disco voa”

Além de escritor e pesquisador de literatura fantástica, Bráulio Tavares escreveu alguns poemas. Amigo próximo de Lenine, com quem também já compôs em parceria, autorizou que o músico que o pernambucano musicasse o poema O Marco Maciano, que fala aborda a vida em Marte e um dos possíveis viventes.

Construi o meu marco na certeza
Que ninguém, cibernético ou humano.
Poderia romper as minhas guardas
Nem achar qualquer falha no meu plano
Ficam todos em Fobos ou em Deimos
Contemplando o meu marco marciano

16) “Só sei que canto de sede dos teus lábios”

A voz de Adriana Calcanhotto, por si só, já soa como poesia. Nenhuma surpresa em a vez cantar algumas das estrofes da poesia Madeiras do Oriente, de Waly Salomão. O nome canção, contudo, a gaúcha alterou para Teu Nome Mais Secreto.

Só meu sangue sabe tua seiva e senha
E irriga as margens cegas
De tuas elétricas ribeiras,
Sendas de tuas grutas ignotas

17) “Se amor, eu nada seria”

Renato Russo e seus dois fieis escudeiros lançaram, em 1989, a música Monte Castelo, dentro do álbum As Quatro Estações. Na letra romântica, incluiu os versículos 1, 2 e 3 do capítulo 13 de Coríntios e o Soneto 11 de Luiz Vaz de Camões.

O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

18) “qual é a parte da tua estrada no meu caminho”

Quase Nada, conhecida no vocal manso de Zeca Baleiro, é, na verdade, um poema de Alice Ruiz – companheira de anos de Leminski. A canção fala sobre a vulnerabilidade do amor e pra onde o mesmo vai quando acaba.

se tudo passa como se explica
o amor que fica nessa parada
amor que chega sem dar aviso
não é preciso saber mais nada

18) “Muita felicidade é um rio que vai”

Junto a Moraes Moreira, Leminski novamente musicou uma de suas poesias em Promessas Demais. Ney Matogrosso a reproduz com maestria até os dias atuais.

Não precisava não acenar
Não precisava não promessas demais
Não precisava não acenar
Tanta felicidade é um rio que vai
O rio que vai, o rio que vai me levar

19) “It’s only life, but I like it” 

A banda Porcas Borboletas é conhecida por já ter musicado letras de Clara Averbuck e Arnaldo Antunes, porém, uma de suas faixas do último álbum também é um poema do curitibano Paulo Leminski. Por compor rimas ricas e carregadas de significado, muitos artistas o fizeram.

This is life
It is not
Rock and roll

20) “A cor mais alegre, a cor mais triste”

Tropicalista e encantado pelas poesias de Leminski, Caetano foi o primeiro a fazer melodia em cima de um dos poemas do artista. Verdura, homônimo de letra e música, a incluiu em seu álbum Outras Palavras, e 1981. A canção faz uma clara alusão à imposição sociocultural dos Estados Unidos no Brasil.

De repente
Vendi meus filhos
A uma família americana
Eles têm carro
Eles têm grana
Eles têm casa
A grama é bacana

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