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A história do cacau e o trabalho escravo nos mercados de chocolate

Nem todo mundo sabe, mas um pouco mais de 70% da produção de cacau no mundo vem de 4 países da África: Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 7 jul 2021, 10h42 - Publicado em 3 dez 2014, 01h10
 (Pablo Merchán Montes/Unsplash/Reprodução)
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Tem coisa no seu dia a dia que acaba passando batido por você, né? Por exemplo, hoje. Comprei um chocolate e fiquei pensando: será que o cacau dele veio do Brasil ou de outro lugar? Lembrei da época de vestibular e de quando estudei o “Ciclo do Cacau” na literatura do baiano Jorge Amado – a Bahia é o maior estado produtor do fruto no Brasil – e imaginei que provavelmente teria vindo de lá. Mas, lembrei também de algumas reportagens publicadas entre outubro e novembro que relacionavam o surto de ebola a uma crise do chocolate.

Você pode estar se perguntando: o que os dois assuntos têm a ver? Nem todo mundo sabe, mas um pouco mais de 70% da produção de cacau no mundo vem de 4 países da África: Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. O surto de ebola atingiu alguns territórios que fazem fronteira com esses países, principalmente Guiné, Libéria e Serra Leoa. Ou seja,o avanço da doença poderia desencadear uma crise na produção de cacau e desabastecer os mercados que o importam, fazendo com que o preço do chocolate aumentasse.

A história do cacau e o trabalho escravo nos mercados de chocolate
Mais de 70% do cacau usado para produzir chocolates no mundo vem da África ()

No entanto, antes de pirar com uma possível escassez de chocolate, que tal refletir sobre o contexto histórico por trás dessa questão? Afinal, como o cacau foi parar na África, se ele é um fruto nativo da América? E, além disso, porque a região que abastece quase todo o mundo com chocolate continua sendo uma das mais pobres do mundo?

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A exploração colonial feita pelos europeus tem tudo a ver com a resposta para essas perguntas. O cacau já era usado pelos astecas para fazer uma bebida considerada sagrada há mais de 2000 anos. Junto com a semente, era acrescentado mel e baunilha. A mistura recebeu o nome de tchocoatl e deixou o espanhol Hernán Cortez, recém-chegado ao México, muito interessado na receita. E não era para menos. O gosto peculiar da bebida não se parecia com nada antes provado pelo europeu. O cacau era muito importante para o Império Azteca, era usado como moeda e valia mais do que a prata e o ouro. Era considerado uma fruta enviada pelos deuses. Na viagem de volta à Espanha, o colonizador Cortez levou consigo algumas mudas de cacaueiro, que resolveu plantar pelo caminho. Primeiro no Caribe – no Haiti e em Trinidad – e, por último, na África.

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A história do cacau e o trabalho escravo nos mercados de chocolate
Os espanhóis foram os primeiros europeus a terem contato com o fruto do cacauzeiro ()

Mas o chocolate como doce só se popularizou no século XIX, quando o suíço Henri Nestlé (1814-1890) descobriu um método para condensar o leite e deixar as barras de chocolate menos amargas e mais parecidas com o que temos hoje. Por isso, as plantações de cacau na África só começaram a se expandir nesse período e se intensificaram com o advento do neocolonialismo e da dominação dos territórios do continente pelos europeus. Mesmo depois da independência de grande parte das colônias a partir de 1960, grandes multinacionais do ramo dos chocolates continuaram a financiar as fazendas de cacau, que usavam (e continuam usando) trabalho escravo em suas plantações, incluindo a exploração de crianças.

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Além das denúncias de trabalho escravo feitas nos últimos anos, uma reportagem publicada pela Aventuras na História mostrou que parte dos lucros pela venda do cacau poderia estar financiando o conflito interno entre o governo da Costa do Marfim, que tem controle sobre o sul, e os rebeldes, que comandam a guerrilha no norte. segundo um relatório feito pela ONG Global Witness.

Se você quiser saber mais sobre o assunto, confira os vídeos abaixo:

Em 2010, um jornalista dinamarquês investigou o trabalho escravo e produziu o documentário “O Lado Negro do Chocolate”. Ele foi até a a África com ajuda de lideranças locais e filmou com câmeras escondidas o tráfico de crianças para as plantações de cacau da Costa do Marfim.

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Em 2014, foi a vez de uma TV holandesa produzir uma reportagem na Costa do Marfim sobre trabalhadores rurais que, apesar de produzirem diariamente toneladas de grãos de cacau, nunca tinham experimentado chocolate. O vídeo mostra as desigualdades sociais e a exploração da mão-de-obra africana para abastecer os mercados mundiais com esse doce.

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Estudo
A história do cacau e o trabalho escravo nos mercados de chocolate
Nem todo mundo sabe, mas um pouco mais de 70% da produção de cacau no mundo vem de 4 países da África: Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões

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