“A paixão segundo G. H.“, livro de Clarice Lispector publicado em 1964, chega adaptado aos cinemas no dia 28 de março. Ele é uma das obras obrigatórias da Fuvest 2027 e aborda a introspecção humana a partir do encontro da personagem principal com uma barata. Porém, é possível ir além da viagem interna de G.H. e encontrar nas entrelinhas uma crítica sutil à invisibilidade da mulher negra na sociedade.
Conheça a história do livro que inspirou o filme!
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Busca por si dentro de si
“A paixão segundo G.H.” poderia ser resumido como um livro sobre uma mulher que tem uma crise existencial após se deparar com uma barata, mas ele vai muito além disso. A barata, personagem secundária da trama, é usada por Clarice para dar início ao fluxo de consciência da personagem principal. É a partir deste acontecimento que G.H. começa a refletir sobre a sua existência, após demitir sua empregada doméstica, Janair, e ficar sozinha em sua cobertura.
Clarice Lispector investiga com maestria o lado humano introspectivo. Faz isso através do contato de G.H. com a barata, mostrando as preocupações emocionais da personagem, que não se reconhece mais. Ao buscar dentro de si quem verdadeiramente é, entra em reflexões. O livro é principalmente sobre se sentir inquieto em sua própria pele.
Invisibilidade da mulher negra
Um viés mais social que pode ser objeto de análise na obra é a relação entre classes e o racismo. G.H. é uma mulher branca, escultora, de classe média alta, que mora em uma cobertura na Tijuca, no Rio de Janeiro. Fica neste apartamento apenas com a sua empregada, da qual, após a demissão, nem consegue se lembrar do rosto. O livro pode ser usado para falar da invisibilidade das mulheres, principalmente negras, que estão em posição de servir.
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Janair, que foi demitida, é apenas um vulto na memória da patroa, que, inquieta com seus pensamentos, decide procurar lugares no apartamento para arrumar. Seu primeiro impulso é o quarto da empregada. Assume que o lugar estará imundo e reage ao corredor que leva ao quarto como se fosse um portal a transportando para um lugar distante, pois precisa atravessar a cozinha para isso.
Ao entrar no quarto, porém, se depara com um lugar limpíssimo e organizado, o que a choca. Porém, a organização não é a única coisa que a impressiona. G.H. vê uma pintura estilo rupestre feita pela empregada em uma das paredes. Isso pode simbolizar a necessidade da mulher negra deixar uma marca na história, como as pessoas das cavernas fizeram. Janair só existia ali, em sua caverna, e representou nas paredes o que pode ter visto: um homem, uma mulher e um cachorro.
A paixão segundo G. H (capa dura)
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