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“Adeus, Lênin!”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Explore o enredo e enriqueça seu repertório

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 24 abr 2019, 18h41 - Publicado em 15 jun 2018, 15h01

A ideia desta série de matérias é permitir que você consiga desenvolver um repertório mais amplo e um pensamento crítico mais aguçado com base nas diversas camadas que a sétima arte pode apresentar. As análises dos filmes que faremos aqui buscam mostrar certas relações entre o enredo e temas contemporâneos que podem ser abordados na redação e em outras questões do Enem e dos principais vestibulares do Brasil.

Sinopse

Em 7 de outubro de 1989, ocorreram as festividades pelos 40 anos da República Democrática Alemã (RDA), a Alemanha Socialista. Neste dia, o jovem Alexander decide ir às ruas do lado oriental de Berlim, onde vive com a família, para protestar contra o governo.

Sua mãe, Christiane, uma professora devotada ao regime de orientação soviética, sofre um ataque cardíaco ao ver o filho na manifestação.

Depois de passar oito meses em coma no hospital, Christiane acorda após a reunificação da Alemanha Oriental à Alemanha Ocidental, sem ter assistido à queda do muro de Berlim e sem ter visto a entrada do sistema capitalista na região onde morava.

O médico aconselha Alex a poupá-la e afirma que ela não pode enfrentar choques ou surpresas, pois outro ataque tão cedo seria fatal. O mundo como Christiane conhecia havia desaparecido. Como ela reagiria ao saber que o socialismo havia perdido a luta contra o capitalismo?

Alexander, tentando protegê-la, decide fazer o possível e o impossível para iludir a mãe para que ela não perceba as mudanças ocorridas no país e continue pensando que ainda vive no regime socialista.

Na tarefa de recriar um mundo já deixado para trás com a reunificação alemã, Alex

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a leva para o apartamento da família, cuidadosamente remodelado como se a RDA ainda existisse. Além disso, muda embalagens de produtos industrializados e até mesmo inventa documentários televisivos para preencher as brechas do dia a dia que o capitalismo alterava no país.

O longa aborda os acontecimentos desse importante período mostrando como diferentes pessoas conseguiram lidar tanto com as características do cotidiano na Alemanha Oriental, quanto com as mudanças após a reunificação do país.  

“Adeus, Lênin!”: saiba como utilizar o filme no vestibular

É possível explorar “Adeus, Lênin!” a partir de diversos aspectos. Conversamos com Eloy Gustavo de Souza, professor de redação do Anglo, para estabelecer os principais e saber qual a melhor forma de aplicá-los na hora da prova.

Socialismo e capitalismo

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O filme ilustra a diferença no dia a dia das pessoas vivendo em ambos os regimes. Apesar de fazer fortes críticas ao socialismo, o longa não enaltece o capitalismo.

Na verdade, a ideia é mostrar que o novo não é necessariamente uma superação positiva do velho.

O filme aponta como a ideologia socialista utilizava a repressão policial e o controle das mídias para reprimir manifestações contrárias ao regime. A transmissão de notícias e reportagens contra os ideais socialistas era censurada pelo governo.

Já a ideologia capitalista, destrinchada pelo filme, oferece grande variedade de produtos, mas um desafio: nem sempre há dinheiro para adquiri-los. Com o fim da União Soviética, as disputas pelas vagas de trabalho não aumentaram a remuneração, mas sim o desemprego.

Essa questão afeta, por exemplo, os amigos da mãe de Alex. Estes personagens reclamam constantemente do fim do regime e como isso prejudicou seus trabalhos.

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Manipulação

A mentira é o fio condutor deste filme. Esse tema é passível de diversas discussões. Podemos tanto estabelecer uma relação empática com o protagonista que só deseja salvar a vida da mãe quanto levantar a uma discussão moral acerca da mentira.

Independentemente da postura que espectador tomar, os elementos para a construção dessa nova realidade utilizam um recurso conhecido: a manipulação.

Conseguimos analisar esse fator no sentido mais concreto (com os vídeos que Alex grava com o seu amigo para sua mãe assistir à televisão) e em sentidos figurados.

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O segundo caso pode ser observado em alguns desafios que Alex encontra pelo caminho. Por exemplo, quando sua mãe vê pessoas chegando ao lado oriental, o filho afirma que são cidadãos do lado ocidental que desejavam viver no regime socialista.

Toda essas manipulações na imagem do país podem ser relacionadas às práticas de regimes autoritários, usadas para que a população concordasse com as ideias propagadas.

Utopia X Realidade

Um dos grandes temas explorados pelo enredo é a construção de idealizações por partes dos personagens.

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Seja com a mãe de Alex, em relação ao socialismo, seja sua irmã, em relação ao capitalismo, é possível observar que existem algumas incoerências entre suas convicções e a realidade em que estão inseridas.

A mãe do protagonista, por exemplo, encara as perdas emocionais causadas pelo regime socialista, como a questão das perseguições ao marido, mas, mesmo assim, defende o sistema.

Símbolos

Uma cena muito simbólica no filme ocorre quando a propaganda da Coca-Cola é colocada na parede de um dos prédios em frente à janela do quarto da mãe de Alex.

Um tecido vermelho é desenrolado pouco a pouco e, até alguns meses antes, poderia ser uma bandeira comunista. Entretanto, surge o símbolo do refrigerante – ícone do capitalismo.

Outro momento que mostra a força dos símbolos no enredo é a cena que inspirou o nome do filme. Uma grande estátua de Lênin que está sendo retirada de seu local original, passa pela personagem em uma espécie de despedida – chegava ao fim o regime socialista no país.

Muro de Berlim

O Muro de Berlim, construído em 1961, dividia a cidade alemã entre as esferas de influência socialista e capitalista. Ele veio abaixo em novembro de 1989, marcando o início do processo de reunificação da Alemanha e a extinção do modelo socialista.

No filme, a vida do protagonista pode ser dividida em duas partes: antes e depois da queda do muro.

O filme retrata, de maneira clara e didática, como foi esse período para alemães que viviam do lado oriental.

“Adeus, Lênin!”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Ficou na dúvida de como esse conteúdo poderia ser aplicado na sua redação? Vamos ajudá-lo nessa missão.

É impossível prever qual será a proposta dos vestibulares. Entretanto, seja qual for o tema, se você estiver munido de diversos exemplos e relações relevantes na hora da prova o resultado será muito melhor do que imagina.

No caso do filme “Adeus, Lênin!”, é importante identificar os principais tópicos, como as críticas ao socialismo e ao capitalismo, a questão da manipulação e da construção de utopias, por exemplo, e memorizar algumas cenas que exemplificam as situações.Você não precisa assistir ao filme com um caderno fazendo várias anotações.

O importante é entender o enredo como um todo e refletir sobre determinados acontecimentos que achar adequados. Se quiser, anote alguns tópicos e pesquise mais sobre os temas que achar mais pertinentes ou que tiver alguma dificuldade.  

“Adeus, Lênin!”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Selecionamos algumas propostas de redações de vestibulares de anos anteriores em que você poderia utilizar seus conhecimentos sobre o filme para desenvolver o tema, tanto em termos de relações estabelecidas quanto em forma de exemplos.

Fuvest 2016 – As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas?

Considerando que o filme assume uma posição crítica tanto ao socialismo quanto ao capitalismo, o estudante poderia trabalhar o enredo nesta proposta da Fuvest.

Uma das coletâneas trabalha a ideia de utopia como algo negativo, que prejudicaria a sociedade: “As utopias são ao mesmo tempo ineficazes e perigosas. Ineficazes quando permanecem como sonhos; perigosas quando se quer realizá-las”.

Vale exemplificar todas críticas que o filme apresenta ao socialismo – regime que a mãe de Alex considera perfeito -, como as perseguições a quem se opunha ao que era imposto e a ausência de determinadas liberdades exaltadas pelo capitalismo.

Ao mesmo tempo, como o capitalismo não é mostrado como a solução perfeita para o socialismo, é possível utilizar o seguinte trecho da coletânea como norte relacionando com a importância de continuar buscando um regime “ideal”:

“A utopia nos propõe novas realidades possíveis. Ela é a expressão de todas as potencialidades de um grupo que se encontram recalcadas pela ordem vigente.”.

De acordo com a sua linha de argumentação, ambos caminhos são válidos.

Fuvest 2010 – Um mundo por imagens

“Constroem-se imagens, por exemplo, sobre pessoas, fatos, livros, instituições e situações. No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato por essas imagens”. A partir desta afirmação apresentada pela banca, o estudante poderia relacionar a maneira como a mãe de Alex enxerga o socialismo.

Todas as imagens que ela constrói sobre o regime, seus líderes e seus feitos acabam sobrepondo a realidade e as dificuldades que ela e sua família enfrentaram com a construção do muro, como, por exemplo, a separação de seu marido.

E quando seu filho tenta recriar uma realidade que não existe mais, ele explora os mesmos elementos imagéticos para convencer a mãe que nada mudou.

O estudante poderia escolher uma das diversas possibilidades de construção de imagens que o filme apresenta e utilizá-las como exemplos ao longo do texto.

Fuvest 2009 – Fronteiras

A proposta fala sobre fronteiras, não apenas no significado geográfico, mas no sentido figurado.

Sob essa perspectiva, é interessante analisar que o muro caiu, mas não é como se toda ideologia socialista tivesse se dissipado.

Os amigos da mãe, chamados pelo filho para enganá-la, constantemente evocam o quão perfeito era o passado e o quanto queriam que tudo voltasse a ser como era.

Os que sofreram com a unificação, perdendo seus empregos, por exemplo, mostram um saudosismo. Essa nostalgia em relação à Alemanha Oriental chama-se “ostalgia” (neologismo formado a partir da palavra “ost”, que em alemão significa leste).

O estudante poderia explorar o enredo nestes aspectos para mostrar a força de barreiras ideológicas, que permaneceram mesmo com a queda de uma fronteira física.

Filme: Adeus, Lênin!
Ano:  2003
Direção: Wolfgang Becker

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Estudo
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