César Lattes, o brasileiro que chegou mais perto de ganhar o Nobel
O físico brasileiro fez uma das maiores descobertas da ciência, ao mapear uma partícula atômica desconhecida. Mas quem levou os créditos foi um inglês
Assistir ao vídeo de Fernanda Montenegro perdendo o prêmio de melhor atriz na cerimônia do Oscar desperta o que há de mais nacionalista em muitos brasileiros. Mas há uma injustiça menos difundida e ainda mais escandalosa no mundo das premiações. Ela envolve um jovem cientista brasileiro, um mentor inglês e um prêmio Nobel que quase veio para terras brasileiras. Estamos falando da história de César Lattes.
O cientista, batizado como Cesare Mansueto Giulio Lattes, completaria 100 anos neste 11 de julho, e é considerado o maior físico brasileiro de todos os tempos. Formado pela USP (Universidade de São Paulo), foi a principal mente por trás da descoberta do méson pi, uma quarta partícula presente nos átomos para além dos nêutrons, prótons e elétrons. Conhecido mundialmente, resolveu trilhar sua vida acadêmica no Brasil, em um esforço para valorização e reconhecimento da ciência brasileira. Sua contribuição foi tão significativa que a plataforma que registra todos os pesquisadores do país leva seu nome, Lattes.
Conheça um pouco sobre a maior descoberta do físico, o polêmico caso do Nobel e o que ele próprio pensava a respeito do prêmio.
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O méson pi
Na escola, os professores de química e física são unânimes em ensinar: os átomos são formados por três tipos de partículas, nêutrons, prótons e elétrons. Era isso que o mundo acreditava, até 24 de maio de 1947. Foi nesta data que uma descoberta científica sem precedentes balançou o mundo: o méson pi, uma terceira partícula considerada uma “cola” que mantém o núcleo de um átomo coeso.
A pesquisa que levou à descoberta era encabeçada por Cecil Powell, físico britânico da Universidade de Bristol que chefiava o departamento. Mas quem há anos se inquietava com a possibilidade de existência do méson pi, a partícula que mantinha o núcleo dos átomos coesos, era o jovem César Lattes, físico recém-formado na USP e que foi estudar na Universidade de Bristol. Com apenas 22 anos, foi ele quem subiu a uma altitude 5.500 metros, no Monte Chacaltaya, Bolívia, para levar placas com emulsões nucleares e comprovar sua teoria. Bingo!
A descoberta foi anunciada na Nature, a mais prestigiada publicação científica do mundo. César Lattes tornou-se mundialmente famoso, estampou capas de jornais e teve contato com os maiores pesquisadores do mundo. Anos mais tarde, o cientista repetiu um grande feito ao reproduzir o méson pi artificialmente, e dessa vez a descoberta foi notada pela maior premiação de todas, o Nobel. Mas quem acabou laureado e levou a estatueta para casa não foi Lattes, e sim o britânico Cecil Powell.
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Ao todo, César Lattes foi indicado sete vezes para o Nobel de Física, e nunca ganhou. Em entrevista à revista Superinteressante, em 2005, afirmou que na sua opinião quem deveria ter levado o prêmio pelo méson pi é Giuseppe Occhialin, pesquisador que trabalhou ao seu lado. “Mas deixa isso para lá. Esses prêmios grandiosos não ajudam a ciência”, concluiu com espírito de um verdadeiro cientista.
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