Suas mãos coçam enquanto você olha a capa da prova, que já está na mesa. O sinal toca, o fiscal avisa que já pode começar e você abre logo na primeira página, ansioso para conhecer o tema da redação que pode garantir sua aprovação. “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. Pronto, você não conhece nada sobre o tema e já começa a pensar no próximo ano de cursinho. Calma lá, nem tudo está perdido!
É claro que conhecer bem o tema da redação pode te ajudar em termos de repertório para argumentação e até a se sentir mais calmo. Mas entender tudo sobre ele não é o mais importante. Você pode ter lido mil coisas sobre o assunto, mas se não conhecer a estrutura de uma redação modelo Enem e dominar sobre coesão e coerência de nada servirá todo esse conhecimento.
Por outro lado, o caminho contrário é bem possível. Pelo menos é o que ensina a youtuber Débora Aladim, dona de um canal com quase 2 milhões de inscritos e autora do recém-lançado Redação Infalível. De acordo com ela, “quando você tem uma boa estrutura de redação você vai conseguir ter uma boa pontuação, independente do tema”.
Conversamos com Débora e selecionamos algumas dicas preciosas para construir uma boa redação do começo ao fim!
Aproveitando os textos de apoio
Os textos base têm a obrigação de te apresentar o tema e te direcionar para o caminho que sua argumentação deve seguir. Fique atento às dicas que eles trazem. Muitas vezes os textos dizem respeito à impunidade, e isso já te direciona a usar esse argumento para problematizar o tema. Nesse caso, também sugerem indiretamente usar propostas de combate à impunidade sugerida no tema. Além disso, anote os órgãos que eles apontam, seja no próprio texto ou nos créditos da fonte — você pode indicá-los na sua proposta de intervenção! No tema da redação do Enem de 2017, sobre educação para surdos, um dos textos motivacionais mencionava a Organização de Surdos do Brasil, por exemplo.
Como problematizar o tema
O primeiro passo para problematizar o tema é identificar qual a questão que está sendo tratada. Depois disso, você precisa mostrar para o leitor que existe um problema nisso. No caso do tema da redação do Enem 2015, “A persistência da violência contra a mulher no Brasil”, a problemática já estava no próprio tema: a violência contra a mulher ainda não foi solucionada e persiste.
Depois disso, você precisa apontar duas ou mais razões pelas quais esse problema ainda existe. Isso, porque no último parágrafo você terá que elaborar uma proposta de intervenção para saná-lo. “Se eu digo na minha argumentação que o problema ainda existe porque as mulheres sentem medo de denunciar e porque muitos casos são arquivados, no último parágrafo eu vou propor a desarquivação e investigação e meios de denúncia que não exponham as mulheres”, diz Débora. Assim, você mostra que a situação é um problema, aponta as razões pelas quais é, e no final soluciona a questão. Seu texto vai fluir e será coeso.
Use suas próprias referências
Está liberado falar de super-heróis no seu texto. O Homem-Aranha, por exemplo, foi o passaporte da Débora para a universidade no Enem 2015, quando ela tratou da questão de heróis sempre salvarem mulheres nas histórias em quadrinhos. Usar suas próprias referências no texto, sejam elas do universo pop ou do livro de ciências que você adora ler, é uma das dicas da youtuber para driblar os temas que você não domina tanto.
Redação, de acordo com ela, é reciclagem. Embora seja interessante ter um repertório de atualidades, as experiências que você acumula vendo filmes, lendo suas HQs ou no próprio estudo de outras disciplinas podem ser usadas na sua argumentação dentro dos mais diversos temas. Então, tente no começo da redação ter uma “chuva de ideias” e recupere na sua memória todas as coisas que você já leu, viu ou ouviu que poderiam ser indiretamente relacionadas àquele assunto.
Evite clichês na proposta de intervenção
A proposta de intervenção representa sozinha a quinta competência avaliada na redação do Enem. Por isso, dedique bastante cuidado e tempo a ela. A dica da Débora é detalhar o máximo possível a sua proposta. Pense como se você realmente fosse o responsável por elaborar o projeto que resolveria esse problema no Brasil. Não dá para ser simplista ou pouco realista, não é mesmo? Justamente por isso, a utopia também é um ponto de atenção. Não ofereça soluções rápidas e muito teóricas, mas que na prática não apresentariam tantos avanços. É o caso, segundo Débora, das propostas pouco elaboradas de conscientização, que envolvam unicamente a educação.
O aconselhável é que você escolha, em vez de ou junto com elas, outras propostas que envolvam diversos órgãos governamentais. Colocar cada órgão na sua respectiva função é essencial! Não dá para pedir para o governo federal solucionar um problema relativo ao lixo em determinadas cidades. Isso é competência dos municípios. Tente estudar e entender como funcionam os três poderes, os ministérios e os órgãos de segurança pública. Na hora de elaborar a proposta, lembre de mobilizar também outros setores da sociedade além do governo.