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Como o Partido Comunista Chinês transformou a China

Agremiação que completa 100 anos tornou o país uma potência mundial e detém legado controverso 

Por Danilo Thomaz
29 jun 2021, 14h46
Policiais marcham em cerimônia que celebra o aniversário da República Popular da China, na Praça da Paz Celestial, em Pequim
Policiais marcham em cerimônia que celebra o aniversário da República Popular da China, na Praça da Paz Celestial, em Pequim (China Photos/Getty Images)
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Neste dia 1º de julho, o Partido Comunista Chinês, fundado em Xangai, completa 100 anos. A agremiação com mais de 90 milhões de filiados está no comando do país desde a Revolução de 1949, liderada por Mao Tsé-Tung, que governou até sua morte em 1976. 

Com a ascensão de Mao, é fundada a República Popular da China, em 1º de outubro de 1949. O país, até então, vivia quase quatro décadas de instabilidade entre forças políticas locais – sobretudo na guerra entre os nacionalistas e comunistas – e também com o Japão, que chegou a invadir a China e pretendia expandir seu império dentro da Ásia continental. 

A vitória dos comunistas leva os dissidentes ao exílio, no território que hoje é conhecido como Taiwan e é alvo de disputas entre o Estado chinês e os herdeiros de seus dissidentes de 1949, que contam com simpatia do Ocidente. 

Culto à personalidade - Membros da Guarda Vermelha reverenciam a figura do líder chinês Mao Tsé-tung durante a Revolução Cultural.
Culto à personalidade – Membros da Guarda Vermelha reverenciam a figura do líder chinês Mao Tsé-tung durante a Revolução Cultural. (Afp/Divulgação)

À frente do Estado chinês, Mao deu início aos planos quinquenais – inspirados na política soviética e que até hoje dão o eixo do governo – e no ”Grande Salto Adiante”, que pretendia transformar a China, país pobre e agrário, em uma grande potência. Entre as medidas desse período estão, por exemplo, a socialização da terra. Em 1966, deu início à chamada Revolução Cultural, que também perseguiu dissidentes.  

Seu governo refundou o país e deu à China a soberania desejada na primeira metade do século 20. Mas deixou também um legado de perseguições políticas e fome. Apesar de fazer parte do mundo comunista no período da Guerra Fria, Mao não se alinhou à antiga URSS, razão pela qual a China não foi considerada inimiga pelo Ocidente – o que colaboraria muito nos anos vindouros. 

++ Idade Contemporânea: Revolução Chinesa

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++ Revolução cultural: Culto à personalidade

 

1978 

Estudantes da Guarda Vermelha erguem cópias de O Pequeno Livro Vermelho de Mao Tsé-tung: culto ao líder provocou perseguições
Estudantes da Guarda Vermelha erguem cópias de O Pequeno Livro Vermelho de Mao Tsé-tung: culto ao líder provocou perseguições. (Pinterest/Divulgação)

Com a morte de Mao, que comandou a chamada “Revolução Cultural” chinesa e deu início ao processo de coletivização dos meios de produção chineses, ascende ao poder em 1978 o líder comunista Deng Xiaoping, que dá início, de fato, ao processo de industrialização chinês e às transformações que ajudaram a tornar a China a segunda maior economia do mundo em 40 anos. 

As suas políticas visando a industrialização, a relação amistosa com o Ocidente e as políticas liberalizantes da ex-primeira-ministra do Reino Unido Margaret Thatcher e do ex-presidente estadunidense Ronald Reagan, que influenciaram os demais países ocidentais, foram as principais razões para o salto chinês na década de 1980. Mas como isso ocorreu? 

A ascensão chinesa 

Naquela década, a China era um país imensamente populoso e profundamente pobre e agrário, como dissemos. Ou seja, havia ali um excedente de mão de obra muito barata, que tornou a China um bom lugar para as indústrias dos países ricos ocidentais levarem suas plantas e produzirem a menor custo, garantindo mais lucros. 

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Mas por que elas visavam produzir com menos custo? 

O período que vai de 1933 e a 1980, nos Estados Unidos, e de 1945 a 1980 na Europa, é definido por historiadores como Eric Hobsbawm como os “anos dourados” do capitalismo. No caso americano, a Depressão Econômica (1929-1933) levou à adoção do New Deal, que pretendia resgatar a economia americana por meio de fortes investimentos públicos e da valorização dos salários. O que acabou acontecendo. Um processo semelhante aconteceu na Europa no pós-Guerra. A diferença é que no Velho Mundo houve um avanço nas políticas sociais na comparação com os Estados Unidos, o que levou à criação da chamada socialdemocracia europeia. 

As políticas sociais somadas ao pleno emprego levaram a uma valorização dos salários que, a partir dos anos 1970, por uma série de razões, começou a tornar a produção nesses países onerosa para os industriais. 

Por outro lado, a China estava ali, cheia de gente para trabalhar. Como não havia, no seu caso, animosidade com o Ocidente, as plantas industriais começaram a ir para lá e ela se tornou a “fábrica do mundo”. 

Essa ida das empresas para a China somou-se aos investimentos do governo em infraestrutura, dando um primeiro salto à economia chinesa. Além disso, o país beneficiou-se da transferência de tecnologia. O que isso significa? É o seguinte: para uma indústria de tecnologia instalar-se na China, aproveitando-se de seus baixos custos de produção, era necessário que a empresa transferisse para lá o “know how” de determinado produto tecnológico, para que os chineses pudessem também produzi-lo. 

Com isso, a China, aos poucos, foi deixando de ser apenas um país que recebia plantas industriais do Ocidente para criar suas próprias companhias, estatais ou privadas, que deu um novo impulso ao seu crescimento. 

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Como funciona a economia chinesa 

A economia chinesa funciona num complexo que envolve Estado, estatais e companhias privadas. O Estado define a direção do país por meio dos planos quinquenais – o mais recente é o de março de 2021. As estatais funcionam como um meio de formação de demanda, ou seja, contratam empresas privadas para fornecer serviços, obras, produtos. As companhias privadas, por sua vez, atendem tanto o país internamente quanto no exterior – a China é hoje a principal fornecedora de produtos industriais para todo o mundo. Desde produtos básicos, como máscaras para nos proteger do coronavírus, até produtos altamente tecnológicos, como a tecnologia 5G, alvo de disputa geopolítica. Na China, ao contrário do que acontece nos países ocidentais, o sistema financeiro é estatal e não privado e há uma série de regulações. Esse é um dos motivos, segundo estudiosos, pelo qual o país não sofre crises financeiras, ao contrário dos países ocidentais. 

Assim sendo, o país convive hoje tanto com as velhas fábricas que soltam fumaça preta quanto com fábricas altamente tecnológicas, que investem na chamada economia verde. Um bom exemplo do avanço tecnológico chinês é a cidade de Shenzen, o “Vale do Sicílio” chinês. 

Avanços sociais 

A China é um país complexo. Não há respostas simples e determinadas para a China. Qualquer tentativa de síntese é falha. O país, no ano passado, anunciou o fim da pobreza extrema e pretende expandir sua classe média, hoje estimada em 400 milhões de pessoas (quase o dobro do total da população brasileira), para mais de 700 milhões de pessoas. Ou seja, o país convive com um cenário de desigualdade entre a forte ascensão social, a erradicação da pobreza e trabalhadores vivendo, ainda, em situação de precariedade. 

Como funciona a política chinesa 

Na China, Estado e Partido se confundem
Na China, Estado e Partido se confundem. (Twitter/Reprodução)

Na China, Estado e Partido se confundem – e se confundem cada vez mais. Embora o sistema político chinês não seja unipartidário, o Partido Comunista Chinês (PCCh) é a força política dominante. Não apenas no Parlamento – a chamada Assembleia Popular – mas na sociedade. Na China, grandes empresas privadas devem, por exemplo, contar com um representante do partido em seus conselhos. O PCCh se faz presente em outros setores, como a cultura. Isso não significa, todavia, que não haja liberdades civis na China. Há, embora o país tenha se aberto tardiamente a elas e só tenha definido um Código Civil, que garante direitos e deveres, há um ano. 

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O país conta também com eleições, dominadas pelo PCCh. O sistema funciona de modo misto, com eleições diretas em determinados níveis locais e indiretas em províncias e no âmbito nacional.  

Fontes consultadas 

Série “O Milagre da China”, de Paulo Gala e Elias Jabbour 

Era dos Extremos” (Companhia das Letras), de Eric Hobsbawm 

O Sequestro da América” (Zahar), de Charles Ferguson 

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