Humanas ou Exatas? Caderno ou fichário? Inglês ou Espanhol? Como se não bastasse tanta indecisão, os últimos anos parecem ter adicionado mais uma dúvida existencial na vida dos estudantes: fazer cursinho presencial ou online?
Por conta da pandemia, vestibulandos do país todo tiveram que se preparar para os exames de forma remota em 2020 e em parte de 2021. Não havia outra opção. Agora, com flexibilização e a volta às aulas presenciais, a modalidade do curso volta a ser uma questão de escolha para os estudantes que vão prestar o vestibular. Uma coisa é certa: a modalidade online veio para ficar.
Mas qual compensa mais financeiramente? Para quem cada formato é indicado? Quais as vantagens e desvantagens de cada um? Para responder a essas e outras perguntas, o GUIA DO ESTUDANTE conversou com 4 vestibulandos que fizeram cursos preparatórios no último ano. Eles contam suas impressões, dificuldades e dão dicas para quem está em dúvida.
Antes, porém, vale reforçar um recado do diretor do Curso Anglo. Sérgio Paganim adianta que não há diferença entre as duas formas quando se trata de objetivos: ambas têm como finalidade a aprovação do candidato. E os resultados dos vestibulares do último ano mostram isso.
“O primeiro lugar em Medicina na USP Pinheiros, em ampla concorrência, foi nosso aluno do cursinho online. E o primeiro colocado em Medicina na USP, pelo Sisu, foi um aluno do presencial”, conta, enfatizando o equilíbrio entre as duas modalidades.
Para esclarecer os principais pontos, dividimos o assunto em 6 tópicos: espaço de estudo; participação nas aulas; relação com colegas; comprometimento e organização; deslocamento. Acompanhe cada um e veja qual se adapta para a sua realidade.
Espaço de estudo
“Particularmente, eu prefiro sempre curso presencial”, afirma a vestibulanda Heloisa Pessoa Tseng, 19, que está no seu terceiro ano de cursinho tentando uma vaga em Medicina. “No presencial, tenho acesso à sala de estudos, monitorias e simulados presenciais, material já impresso e também um maior suporte por parte do professor, já que fica mais fácil de ter um momento de conversa”, diz a estudante, moradora de Recife. “Eu rendo muito mais.”
Antonio Avila, 20, vive em Belo Horizonte e estudou sozinho em casa por meio de cursinhos online. No início deste ano, ele foi aprovado em Medicina na UFMG. Para Antonio, estudantes que têm acesso a um lugar de estudos em casa, o curso online é uma ótima opção. “Indico para os alunos que têm um local calmo e confortável para estudar em casa, que querem ter um estudo mais focado nas suas próprias dificuldades e que não querem se deslocar todos os dias até um cursinho”, diz.
Uma alternativa para aqueles que optam por um curso online mas não têm um espaço adequado em casa é utilizar salas de estudo públicas, comuns em grandes capitais, como centro culturais e bibliotecas.
Participação nas aulas
“No curso presencial é possível tirar as dúvidas de forma instantânea caso surja alguma lacuna na hora da aula”, afirma Heloisa. A jovem destaca o relacionamento intenso com os professores e estudantes, e conta que antes de ter aulas no curso presencial ficou alguns meses na versão online por conta da pandemia. Ao regressar para o presencial, sentiu diferenças. “Eu pude participar das aulas de forma ativa, respondendo e fazendo perguntas, além de conversar com os professores caso precisasse de algum conselho”, relembra.
“O perfil do estudante de cursinho online é um pouco diferente, é um público que se adaptou muito bem ao digital. Além disso, a opção de responder no chat e de abrir ou não a câmera apresenta mais possibilidade para aqueles que são mais tímidos na participação em aula. Com isso eles conseguem se posicionar e tirar dúvidas”, diz Paganim, do Anglo.
Relação com colegas
O relacionamento com outros alunos também deve ser levado em consideração. “No cursinho online você não cria uma relação com outros estudantes. Em alguns casos você nem sabe quem mais está fazendo o curso com você e é mais animador ver outras pessoas ao seu redor assistindo às aulas”, considera a recifense Maria Letícia Nascimento, 18, que fez cursinho presencial e foi aprovada em Ciência da Computação na UFPE depois de dois anos prestando vestibular.
Antonio Avila, que fez curso online, recorda que a interação com colegas no módulo online era, de fato, menor. “Com os outros alunos eu não tinha tanto contato, para ser sincero. Havia grupos de monitoria com os alunos e professores, mas eram mais destinados às dúvidas e não à interação entre os estudantes”, comenta. Ele também destaca um outro sentimento que permeia a trajetória do vestibulando e do qual ele se livrou: a competição.
“Como eu estava sozinho em casa, não havia a comparação com outros alunos, o que é uma coisa que normalmente traz muita insegurança e ansiedade”, pondera o estudante.
Larissa Moreira Germiniani, 19, recém-aprovada em Ciências Sociais na Unicamp, tem uma perspectiva um pouco diferente. Ela afirma que estar em uma sala física ao lado de vestibulandos com o mesmo objetivo funcionava como uma motivação extra. “Ver que outras pessoas estão lá com você passando por isso e saber que você não é a única, ajuda muito”, relata a estudante, que vive em São Paulo.
Comprometimento e organização
Um ponto fundamental na hora de optar pelo presencial ou pelo online é capacidade de concentração e foco. Para estudantes como Larissa, a abordagem de estudo mais independente que o curso online proporciona pode virar uma dificuldade. “Tenho muito problema em me concentrar, organizar horários e nesse sentido o cursinho presencial me ajudou a manter rotina e constância”, relata.
Para Antonio, de BH, esse fator foi justamente um ponto decisivo. “Nas plataformas online, como as aulas já estavam todas gravadas, eu conseguia dar um foco maior nas minhas dificuldades, assistir novamente a alguma aula que eu não havia entendido, pausar, assistir em velocidade maior”, conta. “Quanto à organização, tinha a opção de pegar um planner (espécie de cronograma) com menos semanas e que continha toda a matéria cobrada no Enem. Com isso eu consegui estudar todo o conteúdo até agosto e, depois disso, me dediquei às provas antigas e à revisão final”, afirma o aprovado em medicina.
Paganim, do Anglo, explica que o estudante do curso online precisa se comprometer muito mais com o gerenciamento do tempo. “No digital o aluno consegue seguir uma grade ou fazer o próprio horário, mas para isso ele precisa ter um gerenciamento de tempo e disciplina muito maiores”, diz.
Deslocamento
“O aluno do curso online costuma morar longe dos cursinhos e o deslocamento acaba sendo um impeditivo para o presencial”, diz Paganim. Com exceção de estudantes que moram muito próximo de um curso pré-vestibular ou têm facilidade de acesso, a necessidade de transporte se traduz, para muitos, em gasto extra de tempo e dinheiro.
“Eu acordava 7h da manhã, chegava no curso às 8h, e ficava estudando até às 9h, quando começava a aula. Ao meio-dia saía para almoçar, voltava para o curso e ficava estudando até o horário da próxima aula, às 14h30. A aula acabava 17h30 e eu chegava em casa por volta de 18h”, lembra Maria Letícia, que, no total, passava uma hora e meia se deslocando entre a casa e o curso. Assim como ela, estudantes que escolherem o curso presencial precisam colocar no papel os gastos que terão com alimentação. Uma forma de economizar é levar a boa e velha marmita.
Além disso, quem opta pelo presencial precisa fazer jus à modalidade e estar de fato presente, ainda que o tempo de deslocamento possa por vezes desestimular. Até porque, diferentemente do curso online, no presencial não é possível rever as aulas perdidas.
Vencer os deslocamentos até chegar no curso, sol a pino, tempestades, trânsito, ônibus cheio: tem que colocar tudo na conta e firmar um pacto consigo mesmo quanto à regularidade.
Investimento financeiro
Além dos possíveis gastos com transporte e alimentação, o maior investimento financeiro ao fazer um cursinho é, invariavelmente, a mensalidade. Por mais que o critério mude de acordo com a realidade de cada estudante, cursos presenciais costumam ser mais caros que cursos online – por fatores que vão desde a infraestrutura do local até o time de professores, a reputação do curso e até mesmo o histórico de aprovados.
Em relação ao investimento, Antonio teve uma estratégia diferente. Como escolheu estudar online, decidiu que não assinaria apenas um curso que tivesse todas as disciplinas. Ao invés disso, assinou o pacote anual de vários cursinhos especializados em uma única área de estudo. “Cada plataforma tem um valor diferente, que é pago uma única vez e você tem o acesso durante o ano todo. Esse valor é, em média, R0 reais por plataforma, então como eu fiz 5 plataformas diferentes, tive um custo anual de R50. Dividindo nos 12 meses do ano, resultou em uma mensalidade de aproximadamente R5”, explica.
Antonio escolheu os cursinhos Matemática On-line, Redação Dois Pontos On-line, Física On-line, Química On-line e BioAtp.
Heloisa fez algo parecido no curso presencial, já que as escolas que procurou – Curso Evolutivo, Insight e Fernanda Pessoa, todos em Recife – ofereciam pacotes à parte por disciplinas. Nas de Ciências da Natureza e Matemática ela pagou, por mês, R$150 reais em cada. Investiu outros R$190 em um pacote de Linguagens e Redação, totalizando R$340 mensais em gastos com cursinhos.
Já Larissa fez um cursinho presencial tradicional, com todas as matérias inclusas, mas prestou uma prova de bolsa, algo bem comum no começo do semestre em cursinhos. “Fiz a prova de bolsa do Etapa e minha mensalidade era por volta de R$750”, lembra.
Seja qual for a opção, fato é que os cursinhos online vieram para ficar e há muitas vantagens: é possível escolher um que foque em disciplinas que têm um peso maior nos exames ou que o aluno tenha mais dificuldade. A organização e a disciplina nos cursos à distância, claro, devem ser maiores e para isso o Guia do Estudante tem uma série de matérias que vão te ajudar na empreitada, clique aqui.
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