Se prestarmos atenção à História, veremos que as pandemias fazem parte da trajetória humana. Desde que começamos a viver em grandes grupos – que, mais tarde, chamaríamos de cidades – e a criar animais em larga escala, as mutações de vírus passaram a ocorrer com maior frequência gerando situações como a que vivemos atualmente. Na quinta live do GUIA DO ESTUDANTE, recebemos o diretor do Anglo Vestibulares e professor de História Daniel Perry para entendermos outras pandemias que marcaram nosso desenvolvimento.
Os primeiros registros de disseminação de doenças ocasionaram grandes epidemias nas primeiras formações de Estados. Por volta de 3 mil a.C, a varíola se disseminou no que foi uma das primeiras aglomerações humanas, o Egito. Mais tarde, durante a Guerra do Peloponeso, a febre tifoide colaborou para a derrota de Atenas, que testemunhou a primeira experiência democrática desaparecer da sociedade.
De acordo com Perry, a derrota ateniense mostra como um controle ruim de uma epidemia pode causar a desestabilização política profunda. As mortes causadas pelo tifo, em meio aos ataques de Esparta, enfraqueceram a população e levaram a questionamentos sobre a religião e a lei que desestruturaram a organização ateniense durante os combates.
A primeira pandemia
No século 14, a peste bubônica (também conhecida como Peste Negra) levou à morte um terço da população europeia. A doença transmitida pela picada da pulga de um rato foi a primeira a atingir um continente inteiro, podendo ser considerada a primeira pandemia da História.
A falta de planejamento urbano nas cidades, de noções de higiene e saneamento básico criou um ambiente propício para a difusão do rato hospedeiro da pulga. O momento de renascimento do comércio europeu também facilitou que a bactéria percorresse país por país espalhando essa doença fatal que causava sintomas como febre alta, dificuldade ao respirar, inchaços nos bulbos e glândulas do corpo, além de várias erupções escuras na pele, dando origem ao nome Peste Negra.
Por falta de conhecimento sobre a causa e disseminação da doença, as explicações religiosas se encarregaram de justificar a pandemia. A ideia do castigo religioso e o grande número de infectados levaram a uma mudança na compreensão da morte. Segundo o professor, as sociedades cristãs católicas não viam a morte como algo ruim até então, mas em um período de desenvolvimento da valorização material e do indivíduo, a morte ganhou traços mórbidos e assustadores, como vemos ainda hoje.
Para ele, é importante ter atenção aos questionamentos que surgem nesse momento e vão ter consequências históricas. Assim como em Atenas, as pessoas começaram a duvidar da religião e do sistema político, determinando uma reestruturação de poderes – seja no âmbito religioso com o surgimento do protestantismo, séculos mais tarde, ou no fortalecimento do Estado, em que os reis ganharam poder.
Pandemia no Novo Mundo
Com o crescimento do poder dos reis, a exploração marítima ganhou força e os europeus decidiram conquistar outras terras. Mas a sua chegada na América não trouxe apenas ideais e ferramentas desconhecidas pelos nativos, trouxe também doenças como a gripe, tuberculose, varíola, entre muitas outras.
Perry conta que entre os séculos 15 e 16 estima-se que metade da população nativo-americana morreu, configurando a maior pandemia já registrada na História em números proporcionais. Essa também foi a primeira vez que as doenças foram usadas como arma de extermínio, já que os europeus usavam cadáveres infectados para contaminar aldeias e cidades de nativos.
Casos no Brasil
Os surtos epidêmicos e pandemias que chegaram ao Brasil mostram que as consequências vão sempre além de mudanças na saúde. Quando, no século 19, as condições sociais repetiam os padrões europeus de cidades aglomeradas, falta de saneamento básico e desconhecimento sobre a importância da higiene, as doenças agravaram as desigualdades sociais e redesenharam as estruturas políticas e econômicas dos países.
O surto de febre amarela, por exemplo, causado pela falta de higiene dos alimentos, resultou no aumento do preconceito com o pobre e com pessoas de origem africana, os mais contaminados pela doença. Além disso, o maior entendimento sobre a transmissão de muitas doenças resultou na reurbanização das cidades, como aconteceu no Rio de Janeiro, em que as construções coloniais deram lugar a ruas mais amplas e novas construções, expulsando as classes sociais mais baixas do centro em direção a periferia e ao morro.
Primeira Guerra Mundial e a gripe
No século passado, a Gripe Espanhola registrou o maior número de mortes em termos absolutos. Surgida dentro das trincheiras da Primeira Guerra Mundial, as péssimas condições de higiene e a grande circulação de soldados criaram o ambiente perfeito para a disseminação de uma nova doença. Assim como o coronavírus, a gripe é transmitida pela via aérea e causava febre e dificuldade de respirar, mas era muito mais letal.
Estudos indicam que, apesar do nome, a gripe surgiu provavelmente no estado do Kansas, nos EUA, e foi disseminada pelos soldados durante os combates e ao retornarem para casa. Porém, o vírus não foi controlado desde o início, já que os países em guerra não queriam admitir publicamente a aparição de contaminados com medo de favorecer os inimigos. A Espanha, por outro lado, que não estava na guerra, foi o primeiro país a noticiar casos da doença dando a ideia de que a contaminação havia começado por lá.
A contaminação dividiu-se em duas grandes ondas, em 1918 e, depois, em 1920 – esta última, com um maior número de mortes. Aliás, o professor também comenta que parte da preocupação da época girava em torno da eficácia e as consequências do isolamento na economia. A pandemia se agravou enquanto políticos e empresários decidiram manter a produtividade em todos os setores e os hospitais já não davam conta de ajudar os infectados, aumentando o número de mortes.
Assista à live completa para entender todas as pandemias e como elas mudaram a história do mundo.
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