por Bruno Aragaki
Darby Lima já tinha repetido a quarta série e continuava colecionando notas vermelhas. As broncas do pai não adiantavam. O menino estudava, mas nas provas respondia o que não era perguntado e era incapaz de prestar atenção nas aulas. Já no Ensino Médio, ouviu uma professora dizer que “aquele aluno não vai chegar longe, não”. “Me sentia burro”, diz Darby, 26, hoje no oitavo semestre da Universidade de Brasília (UnB) e há dez anos diagnosticado como portador de dislexia.
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Os cientistas ainda não sabem, ao certo, a causa do distúrbio, mas estimam que ele atinja entre 5 e 15% da população mundial – entre eles, personalidades como Albert Einstein, Pablo Picasso e Tom Cruise. O portador costuma embaralhar letras e números de formatos ou sons semelhantes (trocar vaca e faca, por exemplo, ou confundir b e d).
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A dislexia afeta principalmente a capacidade de ler, escrever e se concentrar, mas não interfere no raciocínio lógico, nem nas habilidades artísticas. A memória também pode ser afetada. Mas apesar das dificuldades com ortografia, redação e línguas, os disléxicos podem ter desempenho satisfatório em ciências, exatas ou artes.
“O disléxico é uma pessoa inteligente, mas tem extrema dificuldade de pôr o que sabe no papel ou interpretar textos escritos. Vai mal nas provas, mesmo que tenha todas as respostas na ponta da língua, e muitas vezes é tratado como preguiçoso ou indisciplinado”, explica Maria Angela Nico, coordenadora científica da Associação Brasileira de Dislexia (ABD).
SUPERAÇÃO
O disléxico normalmente: |
Demora para se alfabetizar e mesmo adulto, lê com erros |
Confunde letras e números de formato parecido (b, p e d, por exemplo) |
Escreve com dificuldade, ‘come’ ou inverte letras ou palavras |
Tem problemas de memória e concentração |
Vê dificuldade em conceitos abstratos |
Confunde esquerda e direita e se perde |
Tem talentos especiais (música, artes plásticas, ciências) |
Tem dificuldade com línguas estrangeiras |
Provavelmente hereditária, a dislexia não é considerada doença, nem tem cura. “É preciso aprender a conviver com ela e criar estratégias para compensar as limitações”, diz Maria Angela.
Com acompanhamento de psicólogos, psicopedagogos e neurologista, Darby aprendeu a se concentrar e melhorou o rendimento na escola. Na quarta tentativa, foi aprovado no vestibular de Geologia da UnB.
“Na época, não sabia que tínhamos direitos especiais nas provas”, diz o universitário. Apesar de não ser obrigatório por lei, os principais vestibulares oferecem condições especiais para os disléxicos fazer o exame.
Para ter direito a isso, é necessário apresentar laudo médico que confirme o diagnóstico de dislexia. “Muitas vezes o distúrbio é confundido com problemas de visão, de audição ou déficit de atenção”, diz Maria Angela.
O diagnóstico e o tratamento são complexos e exigem equipes multidisciplinares – normalmente, formadas por neurologistas, pedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos e oftalmologistas. Pessoas de baixa renda podem fazê-lo gratuitamente em ONGs e associações de apoio ao disléxico, como a ABD.
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