“Do botão do elevador ao menu”: a importância do Braille
Entenda a relevância do código que inclui pessoas cegas e de baixa visão
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1,3 bilhão de pessoas têm algum distúrbio de visão. Pela falta de inclusão na educação e no ambiente de trabalho, essa parcela está mais exposta a maiores taxas de pobreza. Nesta terça-feira, 4 de janeiro, é celebrado o Dia Mundial do Braille. A data destaca a importância de elementos que favoreçam o desenvolvimento das pessoas cegas ou com baixa visão.
No Brasil, 8 de abril é o Dia Nacional do Sistema Braille. É mais uma oportunidade de ressaltar a relevância dessa ferramenta de inclusão, criada há quase 200 anos, mas muito útil até hoje para a comunicação de pessoas cegas ou com baixa visão no mundo todo. A data nacional homenageia nascimento de um dos responsáveis por trazer o Braille a terras tupiniquins, José Alvares de Azevedo – o primeiro professor cego do Brasil.
Qual a importância do Braille?
Lido com os dedos, o Braille não é um idioma, mas um código que pode ser usado em muitas línguas. Ele é composto pela combinação de 6 pontos em relevo, em posições diferentes para simbolizar letras, números, pontuações e sons.
Para entender o impacto desse código nos dias de hoje, o GUIA conversou com Eliana Cunha, Coordenadora da Área de Educação Inclusiva da Fundação Dorina Nowill para Cegos. Com mais de 70 anos de existência, a fundação trabalha ativamente na inclusão e educação de crianças, adultos e idosos cegos ou com baixa visão, sendo hoje responsável pela maior imprensa de Braille da América Latina e uma das maiores do mundo.
Mesmo com as ferramentas atuais de leitura de texto em voz alta e transcrição de áudio, segundo Eliana, o Braille ainda é fundamental: “Sem ele, as crianças de pouca visão seriam analfabetas funcionais. Seria como uma criança de visão normal que não aprende a escrever ou ler”, conta. “Sem a alfabetização em Braille, não se tem acesso à ortografia, à fonética, ao estudo da música, por exemplo. A comunicação é muito prejudicada.”
Como surgiu?
Antes de existir o Braille, um capitão de artilharia do Exército francês chamado Charles Barbier desenvolveu um sistema de comunicação à noite sem som, conhecido como escrita noturna. A ideia é utilizar essa comunicação em guerra sem chamar atenção. Seu código combinava 12 pontos, configurando letras e números.
Em 1821, numa visita ao Royal Institute for the Blind, em Paris, ele apresentou o sistema como alternativa para os cegos, acreditando que seria um bom método de estudos para eles.
Entre os alunos do Instituto, estava Louis Braille, cego desde os 3 anos. Aos 12 anos, ao conhecer o método de Barbier, notou que o sistema de escrita noturna tinha falhas. Então, ele resolveu aprimorá-lo e, em 1829, o sistema foi publicado. Após ser revisado em 1837, um Congresso Internacional com 11 países europeus e os Estados Unidos oficializou o Sistema Braille. A partir de então ele passou a ser adotado de forma padronizada.
E no Brasil?
Em 8 de abril de 1834 nasceu José Álvares de Azevedo. Cego desde o nascimento, ele foi enviado aos 10 anos para o Royal Institute for the Blind – o mesmo de Louis Braille. Na época, o sistema de leitura e escrita inventado por Braille ainda estava em fase de experimentação dentro do Instituto. Após concluir o curso, Azevedo retornou ao Brasil e, aos 16 anos, passou a lecionar o código para brasileiros. Ele foi o primeiro professor especializado na alfabetização de pessoas cegas ou com baixa visão no Brasil. Por isso, o Dia Nacional do Sistema Braille é comemorado todo os anos na data de nascimento de José Álvares.
E como deve ser feita a educação inclusiva?
Em 30 de setembro de 2020, um decreto do presidente Jair Bolsonaro institui uma nova Política Nacional de Educação Especial (PNEE), incentivando a matrícula de pessoas com deficiência (PCD) em escolas “especiais”, separadas das regulares. Eliana, da Fundação Dorina Nowill para Cegos, ressalta que aplicar a ideia de Bolsonaro “é “arcaica, obsoleta e inadequada.” Segundo ela, a proposta de separar PCDs dos outros alunos seria equivalente a retroceder mil passos na batalha pela inclusão, uma vez que apenas intensificaria as barreiras de convivência.
O ideal, para Eliana, é unir o máximo possível, tendo profissionais qualificados para lidar com alunos com deficiência. “Falta formação? O que a gente deve fazer é apoiar e estimular o preparo desses professores”, diz ela. “É importante essa socialização, tanto para o aluno com deficiência, quanto para todos os outros. A sociedade em si não é dividida, então com uma educação inclusiva, todo mundo sair ganhando.”
Qual a importância de um Dia Nacional do Braille?
“É muito importante ter uma data assim para relembrar. Essas comemorações vão sempre ratificando a importância de algo”, diz Eliana. “Quando a gente deixa de comemorar, a chance de cair no esquecimento é muito grande.”
Além da homenagem, o Dia do Braille é uma oportunidade de ganhar visibilidade e destaque em jornais, revistas e na mídia como um todo. “A gente tem que dar o devido valor e ressaltar, todo ano, a importância de utilizar o Braille na comunicação. Isso vai desde os botões do elevador, ao cardápio dos restaurantes, a caixinhas de remédio…Tudo importa para uma pessoa cega.”
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