Um dos grandes mistérios do Egito Antigo pode ter sido enfim desvendado: no último mês, o arqueólogo Nicholas Reeves, da Universidade do Arizona (EUA), afirmou ter informações suficientes para acreditar que a rainha Nefertiti esteja sepultada dentro da tumba do faraó Tutancâmon, que é, provavelmente, seu enteado. E onde está o mistério? Até hoje, ninguém sabe o que aconteceu com a rainha – ela simplesmente desapareceu dos registros feitos à época. E esse mistério tem tudo a ver com a sua história. Conheça!
Busto de 3.000 anos de Nefertiti, em exibição na Alemanha. (Foto: Andreas Rentz/Getty Images)
A rainha, cujo busto é um dos mais famosos do mundo, era a esposa mais importante do faraó Aquenaton, que provocou a maior reviravolta durante seu reinado. A religião egípcia, à época, era caracterizada pelo culto a vários deuses, representados na Terra pelos próprios faraós. O maior dos deuses era Amon-Rá, o criador da vida. O faraó, então, passou a intensificar o culto ao deus Aton, até então secundário, representado pelo disco solar. Algum tempo depois, oficializou a mudança, trocou o próprio nome (que, antes, era Amenhotep) e ordenou ao povo egípcio o abandono do culto a Amon-Rá. Mas foi mais longe: era proibido, também, adorar os outros deuses. Foi a primeira tentativa de monoteísmo vivida pelo Egito.
É claro que as mudanças possuíam caráter político. Aquenaton desejava aumentar seu próprio poder e diminuir a influência dos sacerdotes de Amon-Rá. Além disso, com o novo culto a Aton, elevou a si e a esposa Nefertiti ao status de deuses em forma humana. Nas representações, a família real estava sempre em contato com o deus-sol, recebendo emanações sagradas.
Aquenaton e Nefertiti, com os filhos, abaixo do deus-sol Aton. (Foto: Wikimedia Commons)
Além disso, Nefertiti ocupou o espaço das deidades femininas, reunindo todas em sua própria figura. É aqui que entra a importância que teve para a história egípcia: diferente das outras rainhas, Nefertiti era adorada como deusa e também muito popular entre o povo, por toda sua beleza e poder. Sua presença e atuação como sacerdotisa do deus-sol foi, com certeza, uma das peças-chave para a consolidação dos planos de Aquenaton.
No entanto, em torno do ano 1336 a. C., época em que morreu Aquenaton, o Egito estava cambaleando em uma crise difícil. A nobreza e os sacerdotes estavam insatisfeitos com a alta concentração de poder nas mãos do faraó, e o povo descontente com a carga de impostos recolhida para sustentar a capital fundada em homenagem a Aton, Akhetaton.
Com a morte do faraó, os estudos sugerem que Nefertiti tenha assumido seu lugar no poder. Algumas gravações em pedras afirmam que o Egito foi governado por um faraó de nome Nefernefruaton, que acreditam ser Nefertiti. Além disso, as imagens encontradas na cidade egípcia de Amarna mostram a rainha à frente de exércitos e procissões religiosas, funções claras de um chefe de estado no Egito.
Busto de Aquenaton no templo ao deus Aton, em Karnak. (Foto: Qwelk/Wikimedia Commons)
No entanto, evidências deixam a história um pouco nebulosa. Fica claro que o sucessor de Aquenaton reverte, aos poucos, as alterações produzidas pela nova religião, retomando o culto a Amon-Rá. Pesquisadores acreditam que Nefertiti tenha tomado essa decisão por ver o declínio em que estava o país. Porém, apenas três anos depois de supostamente assumir o poder, Nefertiti desaparece dos registros, o que sugere que tenha morrido. Em seguida, assumiu o jovem Tutancâmon, de apenas 9 anos, filho de Aquenaton com outra esposa menor.
É aí que começa o mistério: a tumba da rainha jamais foi encontrada, o que é estranho para uma mulher com tanto poder. Uma possível explicação é que, durante o governo de Tutancâmon, os adoradores de Aton foram perseguidos e seus templos depredados. Os rostos dos antigos reis foram raspados e suas esculturas destruídas.
Para o arqueólogo Reeves, que acredita que Nefertiti esteja sepultada atrás da tumba de Tutancâmon, há evidências de que a tumba era originalmente planejada para guardar os restos de uma rainha, e não de um rei. No dia 19 de agosto, o pesquisador foi convidado pelo Ministério de Antiguidades do Egito para inspecionar a famosa tumba e testar sua teoria. Se estiver certo, Reeves solucionará um mistério que já dura milênios – mais um entre os muitos que cercam a Antiguidade egípcia.