Estação Ciência dedica exposição a Darwin
Para o filósofo americano Daniel Dennett, a evolução por seleção natural foi “a melhor idéia que qualquer pessoa já teve”. Exagero ou não, o fato é que a teoria elaborada por Charles Darwin revolucionou a biologia, mudando a história da ciência para sempre. Quem ficou curioso para saber o que há de tão especial nas […]
Para o filósofo americano Daniel Dennett, a evolução por seleção natural foi “a melhor idéia que qualquer pessoa já teve”. Exagero ou não, o fato é que a teoria elaborada por Charles Darwin revolucionou a biologia, mudando a história da ciência para sempre. Quem ficou curioso para saber o que há de tão especial nas idéias do naturalista inglês não pode perder a exposição Darwin Now, em cartaz na Estação Ciência da USP até 17 de maio.
A exibição, que comemora os 200 anos do nascimento da Darwin e os 150 anos da publicação de A Origem das Espécies, foi organizada em conjunto com o British Council. Realizada originalmente na Inglaterra, será reproduzida em 25 países. No Brasil, a Estação Ciência é apenas a primeira parada de um itinerário que inclui Rio de Janeiro, Manaus, Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília e Cuiabá.
A mostra é composta por painéis que funcionam como grandes quebra-cabeças, nos quais algumas frases que integram os textos só podem ser visualizadas se os visitantes acharem a peça que as completa. Além disso, todos podem deixar suas impressões na grande árvore estilizada que recepciona quem chega. Os organizadores também elaboraram um material educativo: duzentos conjuntos de pôsteres que reproduzem os painéis, e que serão doados para escolas das cidades pelas quais a exposição passará.
Roberta Kacowicz, responsável pela área de ciências do British Council, diz que o objetivo da exposição não é somente explicar para o público os mecanismos da seleção natural. Além de mostrar o modo como surgem novas espécies, as evidências que confirmam a teoria e informar sobre os ancestrais do homem, os painéis também esclarecem como o naturalista foi formulando sua grande idéia ao longo dos anos, após uma viagem ao redor do mundo que mostrou para ele a grandeza e a incrível variedade existente na natureza.
Apesar de ser uma história muito conhecida, alguns de seus detalhes mais interessantes são ignorados pela maioria das pessoas. Nem todo mundo sabe, mas foi apenas durante a viagem do navio Beagle que Darwin descobriu sua vocação de naturalista, exemplifica Roberta. Antes, ele começara a estudar medicina, mas como tinha horror ao sangue e outros interesses, como as discussões científicas da Sociedade Pliniana, largar a faculdade foi uma questão de tempo. Pouco tempo depois seu pai decidiu enviá-lo para cursar teologia em Cambridge. Ele se tornaria pastor da igreja anglicana, caso não tivesse embarcado no Beagle antes de tomar as ordens, com apenas 22 anos.
Evolução e religião
Um tema que não poderia deixar de ser abordado é a oposição entre a teoria da evolução e a religião. Apesar de quase ter feito parte da Igreja da Inglaterra, Darwin nunca foi um cristão fervoroso, e no final da vida se declarava agnóstico. Após a publicação da Origem, suas idéias foram duramente criticadas e até acusadas de heréticas, mesmo em alguns meios científicos. Mas foram sendo cada vez mais aceitas, até se tornarem o principal paradigma da biologia. “Nada em biologia faz sentido a não ser sob a luz da evolução”, chegou a dizer o evolucionista Theodosius Dobzhansky.
Mesmo assim, até hoje muitas religiões renegam a seleção natural, afirmando em seu lugar o criacionismo bíblico ou a teoria do design inteligente, segundo a qual a complexidade da natureza só poderia ter sido criada por uma inteligência superior. Roberta diz que a exposição apenas mostra as discussões em torno do tema, sem tomar partido. Tivemos a preocupação de não afirmar nada contra o criacionismo. O que queremos é incentivar o debate. O painel dedicado ao tema ressalta as posições de quem conseguiu conciliar sua fé com a crença na teoria da seleção natural, como o clérigo anglicano Charles Kingsley. Ele se correspondia muito com Darwin, e em uma de suas cartas escreveu que considerava nobre a concepção de que Deus tivesse criado um pequeno número de formas originais capazes de se autodesenvolverem.