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Covid-19: como ler os gráficos da pandemia

Os números contam histórias e precisamos estar atentos aos dados sobre o coronavírus

Por Letícia Albuquerque
Atualizado em 14 dez 2020, 13h09 - Publicado em 14 dez 2020, 12h45
COVID-19
 (Pinterest/Divulgação)
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Desde março somos bombardeados com números, estatísticas e projeções sobre a pandemia de Covid-19, a maior crise de saúde pública em 100 anos. Aprendemos que gráficos contam histórias e que há formas diferentes de se apresentar uma mesma realidade. Com a ajuda do professor de Matemática Ricardo Suzuki, do sistema de ensino pH, explicamos abaixo cinco fatores que você não pode deixar de levar em conta para entender a pandemia.

1 – O número de testes faz muita diferença

A taxa de testagem na população influencia diretamente nos números que vemos nas divulgações de dados sobre coronavírus. Como vivemos uma pandemia de fácil contaminação, é compreensível que os números aumentem diariamente. Mas a questão é: se poucos testes são disponibilizados e, portanto, menos pessoas estão fazendo testes, temos a impressão equivocada de que o número de contaminados está baixo. Mas, na verdade, estamos apenas contando pouco, pois não temos acesso à situação real. 

Suzuki aponta que é importante levar em consideração o número de testes ao ler um mesmo gráfico de número de casos ao longo da pandemia. Os dados gerados nas últimas semanas mostram um número de testes bem maior do que o que estava sendo feito no começo da pandemia, já que agora temos mais infraestrutura e acesso. “Fica difícil fazer uma comparação exata em relação ao início porque não é possível entender com especificidade os motivos para os casos estarem aumentando”, afirma.

2 – Os números mostram a situação nacional generalizada

O Brasil é um país de grande extensão territorial e cada região tem particularidades em relação ao sistema de saúde e hábitos de vida da população. A realidade da pandemia também difere. Grande parte dos dados são divulgações que traçam um perfil geral sobre a situação do país. Assim, acabam ignorando a existência de pequenas regiões com situações mais graves ou que já estão melhorando seus índices.

O professor dá um exemplo sobre São Paulo e Maringá (PR). Em uma situação hipotética, São Paulo confirmar mil casos é menos grave que Maringá confirmar cem. A cidade de São Paulo tem 12 milhões de habitantes, enquanto Maringá tem 340 mil. Apesar de a quantidade absoluta de contaminados em São Paulo ser maior, ela representa um número relativo menor quando levamos em consideração o tamanho da população.

“Quando você analisa só os dados nacionais, começa a restringir a circulação em cidades que não precisavam ou flexibilizar o isolamento em cidades que estão em situações graves”, diz Suzuki. Portanto, para analisar a gravidade da pandemia, um gráfico sobre a sua cidade é mais importante do que sobre o país. 

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Casos de Covid-19 notificados em todo o Brasil
Casos de Covid-19 notificados em todo o Brasil (Ministério da Saúde/Reprodução)

3 – Cada país passa por estágios diferentes

Se estados e cidades vivem fases distintas da pandemia, imagine países. Quando vemos os dados mundiais, as linhas de todas as nações começam em um mesmo ponto (zero) no eixo “x” e avançam, cada uma a seu ritmo. Apesar de essa ser a forma mais fácil de visualizarmos o panorama geral, ela não considera algo muito importante: quais países tiveram mais tempo para reagir à crise.

Vamos relembrar: os primeiros casos de covid-19 foram registrados na China, no final de 2019. Assim, entendemos que esse foi o primeiro país que reconheceu a pandemia. Mais tarde, outros países da Ásia registraram a doença, até que ela chegou à Europa. Itália, Espanha e Reino Unido enfrentaram picos de Covid-19 enquanto a pandemia começava a crescer nas Américas.

Isso quer dizer que, teoricamente, a Itália teve menos tempo para se preparar do que o Brasil, por exemplo. É uma informação crucial para avaliar a forma como os governantes encararam o coronavírus. Os países foram atingidos em momentos diferentes e, por isso, vivenciam estágios diferentes de contaminação.

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Casos de Covid-19 no mundo em março de 2020
Casos de Covid-19 no mundo em março de 2020 (Reuters/Reprodução)

 

Casos de Covid-19 no mundo em dezembro de 2020
Casos de Covid-19 no mundo em dezembro de 2020 (Reuters/Reprodução)

 

4 – Os gráficos são feitos em escala logarítmica

Nesta live do GUIA, o professor Suzuki explicou as principais diferenças entre as escalas logarítmicas e lineares. Os dados do coronavírus são, em grande parte, mostrados em escala logarítmica, já que a transmissão de uma infecção pelo ar é exponencial. Isso significa que os números do eixo “y” são multiplicados a cada espaço em vez de simplesmente somados.

Essa escolha de divulgação é feita porque precisamos entender a velocidade de contaminação e não apenas o número de casos confirmados. Nesses gráficos, conseguimos ver a famosa “curva epidêmica” e ter uma noção ampliada sobre a situação.

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5 – Os efeitos das nossas ações são tardios

Para Suzuki, o grande perigo de uma pandemia viral é que os feitos de hoje só aparecem daqui 10 ou 15 dias. Medidas como a obrigatoriedade do uso de máscara ou o isolamento social demoram para surtir efeitos numéricos na diminuição da contaminação. 

Essa “demora” pode confundir nosso entendimento de como está a situação presente. “Se começamos a não seguir prevenções básicas porque a curva, aparentemente, começou a descer, os resultados dessa ação só vão aparecer daqui 15 dias e, se os casos voltarem a piorar, perderemos o controle da situação”, afirma o professor.

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