José Lins do Rego Cavalcanti nasceu no engenho Corredor, Paraíba, em 3 de julho de 1901, e morreu no Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1957. Passou a infância no engenho do avô materno e, desde cedo, conviveu com a realidade do mundo rural do Nordeste açucareiro. Graduou-se na Faculdade de Direito do Recife, em 1923. Foi jornalista e romancista, com uma obra baseada até certo ponto em suas memórias.
Seus livros descrevem um sistema econômico de origem patriarcal, em que se percebe a persistência do trabalho análogo à escravidão, do cangaço e do misticismo. Sua obra é dividida no ciclo da cana-de-açúcar (“Menino de Engenho“, “Doidinho“, “Banguê“, “Moleque Ricardo“, “Usina” e “Fogo Morto“), todos autobiográficos; no ciclo do cangaço (“Pedra Bonita” e “Cangaceiros“) e em obras independentes (“Pureza” e “Riacho Doce” – ligadas aos dois ciclos anteriores – e “Água-Mãe” e “Eurídice” – desligadas dos ciclos). O ficcionista também se dedicou à literatura infanto-juvenil (“Histórias da Velha Totonha“).
Publicado em 1943, “Fogo Morto” é a última obra do mais expressivo dos ciclos de José Lins do Rego: o da cana-de-açúcar. Apesar de marcar o término da série, com a decadência dos senhores de engenho, o romance também assinala seu auge, seu momento de superação, constituindo uma obra-prima da literatura regionalista, de caráter neorrealista.
“Descendente de senhores de engenho, o romancista soube fundir numa linguagem de forte e poética oralidade as recordações da infância e da adolescência com o registro intenso da vida nordestina colhida por dentro, através dos processos mentais de homens e mulheres que representam a gama étnica e social da região”, descreve o crítico literário Alfredo Bosi, em “História Concisa da Literatura Brasileira“.
O romance, narrado em terceira pessoa, é dividido em três partes. Cada uma conta com seu próprio protagonista, como se fossem três histórias distintas e sucessivas. No entanto, os personagens principais (mestre José Amaro, coronel Lula de Holanda e o capitão Vitorino) se inter-relacionam durante toda a narrativa, quase inteiramente ambientada no engenho de Santa Fé.
Na primeira parte, o mestre José Amaro, seleiro orgulhoso e conservador, espalha rancor à sua volta. Temido pelo povo da várzea por sua aparência horrível e pela raiva acumulada, ele surra a filha histérica com o intuito de curá-la (mas acaba por enlouquecê-la) e maltrata a esposa (que por fim foge com a menina).
Na segunda parte do romance, o coronel Lula de Holanda, também orgulhoso, não consegue fazer prosperar o engenho que recebera de herança. Autoritário, não permite que nenhum homem se aproxime da filha, que permanece solteirona e melancólica. Depois de sofrer um ataque de epilepsia na igreja, torna-se devoto. Gasta todo o dinheiro que lhe restou. Por fim, leva o engenho a fogo morto (propriedade que não produz mais).
Na terceira e última parte, o capitão Vitorino, personagem quixotesco, idealista e sonhador, procura lutar por seus ideais. Os três, conforme atesta Bosi, “são expressões maduras dos conflitos humanos de um Nordeste decadente”.
Título: Fogo Morto
Autor: José Lins do Rego
Esse texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira”, publicado em 2009 pela revista Bravo!
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