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Graduação de Geofísica oferece especialização em terremotos

Existem apenas seis cursos no Brasil, mas área está em expansão e carece de profissionais para atuar em ramos relacionados ao petróleo

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 16 Maio 2017, 13h42 - Publicado em 15 jan 2010, 19h19

Graduação de Geofísica oferece especialização em terremotos
Mapa mostra epicentros de 358,2 mil terremotos entre 1963 e 1998

por Fábio Brandt

Especializar-se em terremotos (ou sismos) é uma das opções para quem faz a faculdade de Geofísica. Mas a Sismologia não é uma ciência focada, exclusivamente, na análise e prevenção de megacatástrofes, como a ocorrida no Haiti em 12 de janeiro. O profissional da área (chamado "sismólogo") pode fazer análises de terreno para obras de engenharia civil – como a construção de prédios, hidroelétricas e usinas nucleares – e para o estabelecimento de campos de petróleo. Apesar dos horizontes promissores da área, "deve ter dez, no máximo vinte sismólogos no Brasil", estima Afonso Vasconcelos, sismólogo e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

– Guia de Profissões: Geofísica

Os dados mais recentes do Censo da Educação Superior indicam que, anualmente, são abertas 155 vagas nos seis cursos de geofísica existentes no país, oferecidos pela USP e pelas Federais da Bahia (UFBA), do Pará (UFPA), do Rio Grande do Norte (UFRN), dos Pampas (Unipampas) e Fluminense (UFF). Além disso, os estudantes de Geofísica podem se especializar em outras áreas durante a faculdade (como a Gravimetria, que estuda a gravidade, e a Geodésia, que estuda a forma da Terra). E esses são apenas alguns fatores que explicam o pequeno número de sismólogos atuando no Brasil (há menos de uma década apenas a USP oferecia Geofísica).

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Apesar da baixa nota de corte (na Fuvest 2010 passaram para a segunda fase de Geofísica candidatos que fizeram pelo menos 35 pontos de 90, contra 63 pontos para Relações Internacionais e 74 para Medicina), o curso é muito puxado, avalia o professor Vasconcelos. "Tem que gostar de computação, de matemática, de física e tem que gostar de sair em campo, pra coletar dados. Então tem que gostar de viajar também", explica o sismólogo, lembrando que muitos colegas de faculdade desistiram de terminar o curso. "Mas você não encontra ninguém [formado em Geofísica] desempregado", contrapõe.

Quase anônima quando comparada a carreiras clássicas como Direito e Engenharia, a Geofísica enfrenta ainda outros problemas no Brasil. Vasconcelos considera que a área é deixada para escanteio no planejamento do país porque o Brasil não possui histórico de terremotos. "Em Bebedouro [interior de São Paulo], registramos abalos causados pela abertura de um poço em uma fazenda. Como não há legislação específica, esse poço só será fechado se o fazendeiro achar conveniente. Quer dizer, só na hora que acontecer algo grande, afetando mais gente, a área vai receber atenção", critica Vasconcelos.

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CAMPO DE ATUAÇÃO
Mesmo situado em uma zona geomórfica considerada estável, o Brasil não está totalmente livre de terremotos. Com matriz energética predominantemente hidrelétrica, o país sofre constantemente a ameaça dos tremores provocados pela estocagem de água das usinas hidrelétricas. "Todos os reservatórios hidrelétricos precisam ser monitorados desde um ano antes de seu enchimento até pelo menos dois ou três anos depois. Podem acontecer pequenos abalos sísmicos. Isso acontece em 15% dos reservatórios, perturba a população local e gera temor, porque no Brasil é incomum essa situação", relata o professor, descrevendo um dos campos de atuação profissional para o sismólogo.

Um especialista em sismologia pode trabalhar também em projetos de engenharia civil, determinando a probabilidade de a construção ser atingida por terremotos (mesmo que pequenos). "Quando você faz uma usina nuclear, como a de Angra, ela tem que ter risco zero. Então o sismólogo determina os eventos sísmicos de cem anos antes e a possibilidade de acontecer outro dele até mil anos depois de concluída a obra", exemplifica o professor da USP.

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O ramo do petróleo e da mineração também está aberto aos sismólogos. Nesse caso, o trabalho consiste em, basicamente, medir pequenos abalos provocados pelos campos petrolíferos ou por outros materiais que repousam no subsolo. A partir desses abalos, explica o professor, pode-se identificar onde está o material a ser extraído.

CONTEÚDO DA GRADUAÇÃO
"Sempre gostei do interior da terra, dessas coisas relacionadas a terremotos, a estudos de gravidade. Gostava da física prática", conta Fábio Luiz Dias, que se formou em Geofísica na USP em 2008. Ainda no Ensino Médio, ele consultava guias explicativos sobre as profissões e, quando encontrou um curso especifico sobre o interior da terra, fechou a decisão. Após terminar o segundo grau, fez um ano de cursinho e entrou na Universidade de São Paulo.

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Especializado em Sismologia, Fábio hoje faz mestrado – também na USP – mas diz que antes de começar a graduação não sabia qual área da geofísica seguir. "Aqui temos vários campos para as pessoas atuarem, como estudos de contaminação, estudos de estruturas, de camadas. É bem amplo". Além disso, o começo da faculdade oferece disciplinas introdutórias que apresentam todas as possibilidades da carreira aos ingressantes. "Sismologia foi o que me interessou mais. Além disso, nós podemos procurar iniciação científica [na área de interesse]", acrescenta Fábio.

"É um curso bem medido entre prática e teoria", comenta o professor Vasconcelos, responsável pela aula de sísmica do curso da USP. "Nela, estudamos a propagação de ondas sísmicas no subsolo. Isso permite o mapeamento de jazidas minerais e reservatórios de petróleo, por exemplo". Outras disciplinas do curso, cita o professor, são: gravimetria (que mede a gravidade da terra e detectar a presença de massas anômalas no campo gravitacional, indicando a presença de jazidas minerais), geoelétrica (que injeta corrente elétrica no subsolo para determinar se o que está abaixo dele é material condutivo ou não) e geodésia (que trabalha com o posicionamento de satélites).

"Tem outra parte também: nem sempre tem software pra fazer tudo o que precisa, então você tem que desenvolver também", lembra Vasconcelos, referindo-se a um dos conhecimentos extras que o estudante de Geofísica acaba desenvolvendo. Geopolítica é outro deles. "No curso não tem essa parte. Mas eu cheguei a trabalhar com petróleo e nessa área não tem como escrever projeto ou prestar serviço sem considerar o aspecto geopolítico", recorda.

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“Geologia tem uma carga muito grande das matérias de química. Geofísica tem mais física. Na Geologia, o geólogo tem que ter a amostra em mãos para analisá-la. Por isso, antes do geólogo alcançar a rocha de reservatórios profundos, nós geofísicos temos que mapear o subsolo e saber o melhor lugar onde perfurar para conseguir a amostra”, explica, sinteticamente, o professor Vasconcelos.

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Existem apenas seis cursos no Brasil, mas área está em expansão e carece de profissionais para atuar em ramos relacionados ao petróleo

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