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“Nação Crioula” – Análise da obra de José Eduardo Agualusa

Entenda os principais aspectos da obra

Por Redação do Guia do Estudante Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 abr 2018, 18h05 - Publicado em 20 ago 2012, 16h20

Nesse romance epistolar, Agualusa ressuscita uma personagem criada por Eça de Queirós, Fradique Mendes, para narrar as contradições e os conflitos das sociedades coloniais.

– Leia o resumo de Nação Crioula

Repensando a questão escravagista
Pode-se dizer que a ação de Nação Crioula é centrada no tráfico de escravos, razão que liga Portugal, Brasil e Angola. No século XIX, Portugal precisava manter o território Angolano ocupado, pois diversos Estados colonialistas, tais como Inglaterra e França, ameaçavam a hegemonia de Portugal no território angolano. Além disso, temia-se um movimento separatista instigado pela independência do Brasil.

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No Brasil, muitos haviam enriquecido com o comércio da cana-de-açúcar e pretendiam industrializar o país. Porém, isso ia contra os interesses de Portugal, pois eles perderiam o mercado de matéria-prima para as indústrias brasileiras. Devido a esses fatores, a aristocracia brasileira queria ficar unida com Angola, que por sua vez estava dividida: existiam os aristocratas que era à favor da manutenção das relações do país com Portugal, outros queriam a independência de Angola e outros ainda eram à favor do estreitamento com o Brasil, tornando Angola parte da Federação brasileira.

A perda do Brasil fez com que Portugal procurasse novos meios de sustentar a economia da metrópole através de Angola. Assim, implantou-se uma política colonial planejada e o número de colonos de origem europeia aumentou consideravelmente em Angola. Dessa forma, os mestiços e negros calçados, autodenominados filhos da terra, foram perdendo espaço na administração pública e o próprio direito à terra para os para os europeus.

Apesar de na segunda metade do século XIX o tráfico de escravos já ser proibido, a burguesia angolana tinha nessa atividade sua principal fonte de renda. Isso porque o Brasil, que tinha conseguido sua independência há pouco tempo, tinha como principal atividade econômica a agricultura da cana-de-açúcar. Ao contrário da Europa, que já estava se industrializando e dando prioridade ao trabalho assalariado (muito mais vantajoso para um modelo capitalista), o Brasil ainda tinha muitos defensores do trabalho escravo, que trazia mais vantagens para quem trabalhava com a agricultura. Dessa forma, Angola continuou abastecendo o Brasil com escravos mesmo esta atividade já estando proibida.

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Esse é o pano de fundo da obra Nação Crioula. Agualusa parte, assim, de uma base histórica, utilizando inclusive personagens reais, mas não deixa de dar liberdade à criação ficcional. Dessa forma, cria-se um novo sentido para a história, não só a ficcional, mas também à “história real”. É através desse jogo entre verdade e ficção que Agualusa repensar a realidade de seu país e suas relações com Portugal e o Brasil.

Por isso, Agualusa retoma a personagem criada por Eça de Queirós. Fradique é um homem movido pela busca de emoções e pela vontade de conhecer e entender novas culturas. Ao chegar em Luanda, Fradique exclama “Bem-vindo a Portugal” ao criado Smith, numa clara demonstração de interesse em entender essa outra face de sua terra natal. Porém, Fradique vai aos poucos descobrindo que Angola não é Portugal através de suas viagens pelo interior daquele país. Além disso, ele vai descobrindo também a brasilidade presente em Angola através da relação escravagista entre esses dois países.

Comentário do professor
O professor Deco Duarte do Colégio Gregor Mendes comenta a obra:
“Nação crioula”, livro do angolano José Eduardo Agualusa, traz mais uma vez à tona o personagem coletivo Fradique Mendes (criado anteriormente por Eça de Queirós e seus amigos de Cenáculo e mais tarde “biografado” pelo próprio Eça em A correspondência de Fradique Mendes – também indicado para o vestibular UFBA). Personagem marcado pelas inúmeras viagens que faz, sendo um verdadeiro andarilho do mundo no final do século XIX, Fradique agora aparece em terras africanas, mais especificamente em Angola, e também no Brasil, para onde vem a bordo de um navio negreiro – “Nação crioula” -, que empresta nome ao livro, simbolizando, ao mesmo tempo, a mescla que se dá entre as culturas de Portugal, Angola e Brasil, fundando uma verdadeira nação crioula, ou seja, mestiça.

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Sendo uma obra que dialoga com outro título indicado pela UFBA, é sempre bom ficar atento às mudanças presentes entre a composição de Agualusa e a de Eça, uma vez que a presença de Fradique na África lhe dá uma nova visão acerca do tráfico negreiro e da condição de vida das populações locais, mudando-lhe o ponto de vista no que diz respeito ao engajamento em relação à abolição dos escravos. No texto do autor português, Fradique aparece muito mais alheio às questões políticas do Brasil e da África, tendo uma postura muito mais discreta, diferentemente de sua encarnação moderna nas mãos de Agualusa.

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