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“O Planalto e a Estepe” – Resumo da obra de Pepetela

Entenda o enredo da obra

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 15h56 - Publicado em 16 set 2012, 23h34

– Leia a análise da obra O Planalto e a Estepe

O livro começa com o narrador, Júlio, descrevendo onde nasceu (Huíla, sul de Angola), sua família e os tempos da escola. Quando menino, brincava com as outras crianças das redondezas, sendo amigo também dos filhos dos servos, que eram negros. Sua irmã, Olga, que declarava não gostar de negros (provavelmente no início por ter ouvido os adultos falando isso), alertou Júlio para não andar com os negros, mas para ele todos eram iguais. Mais tarde, porém, ele vai descobrir que há o racismo.

O pai de Júlio, que não teve como estudar, fazia de tudo para que o filho conseguisse frequentar a escola e se tornar doutor – qualquer tipo de doutor, contanto que seja um. Não poupava esforços para comprar livros e roupas novas para ele frequentar a escola, mas Júlio deveria ter boas notas, o que ele sempre teve. Quando se formou na escola com ótimo rendimento, Júlio conseguiu uma bolsa de estudos e foi estudar para Coimbra, Portugal.

Em Coimbra, ingressou no curso de Medicina, mas logo percebeu que aquilo não era o que ele queria fazer. Logo Júlio se aproximou dos outros estudantes africanos que pensavam do mesmo modo que ele e foram morar juntos. Após perder a bolsa de estudos por mal rendimento no curso, resolve partir para o Marrocos junto com mais uns amigos para participar da revolução. Lá chegando, o grupo foi dividido: enquanto os mais escuros iam lutar, os mais claros iriam estudar na Europa. Júlio se sente desiludido e humilhado. É mandado, então, para estudar em Moscovo (Moscou, na Rússia) e lá resolve cursar Economia.

Em Moscovo, o grupo dos angolanos era guiado, e também vigiado, por uma mulher chamada Olga. Ela era quase como uma mãe para eles e se entusiasmava com os avanços de Júlio na língua russa. Por ser branco e de olhos azuis, muitos europeus não se aproximavam muito de Júlio e tinham dúvidas quantos às verdadeiras intenções dele. Mais uma vez, logo tornou-se amigo de outros africanos: o congolês Jean-Michel, o senegalês Moussa e o tanzaniano Salim. Os quatro logo fizeram sua primeira revolução no local: insatisfeitos com seus companheiros de quarto, conseguiram convencer o diretor a mudarem de quarto para os quatro ficarem juntos. Como Moussa e Salim eram muçulmanos e rezavam várias vezes ao dia, ficou acertado que eles ficariam em um quarto e Jean-Michel e Júlio em outro.

Após serem aprovados na língua russa, puderam ingressar na universidade: Jean-Michel e Júlio em Economia, Salim em Agronomia e Moussa em Engenharia. Embora estudando em locais diferentes, os quatro continuaram a se encontrar com frequência. Já Júlio e Jean-Michel continuaram a morar juntos e tornaram-se ainda mais amigos.

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Os dois tinham as mesmas aulas e discutiam bastante sobre as coisas aprendidas na universidade. Enquanto Jean-Michel parecia aceitar passivamente tudo o que lhe era ensinado, Júlio tinha diversas dúvidas se tudo aquilo era ou não verdade ou válido. Porém, um dia conversando em um parque da cidade, Jean-Michel confessa também ter diversas divergências e críticas sobre o que é ensinado a eles, mas diz fingir que aceita tudo passivamente porque estão sendo vigiados o tempo todo. Além disso, alerta Júlio a tomar mais cuidado com o que fala. Nesse ponto, o narrador conta o que acontece com Jean-Michel no futuro: após terminar o curso, ele retorna a Brassaville e logo arranja emprego no gabinete de um ministro, subindo de cargo rapidamente até se tornar o chefe máximo da Juventude do Partido.

Porém, ele havia perdido suas convicções no socialismo, pois todos só pensavam em mulheres e carros, “já que enriquecer é difícil em terra tão pobre”. Por fim, ele se mete em uma tentativa de revolução e é morto.

Quando Júlio estava no segundo ano do curso, uma aluna mongol chamada Sarangerel transfere-se para sua sala. Os dois tornam-se amigos e logo acabam começando um relacionamento amoroso. Um dia ela revela ser filha de um ministro da Mongólia, um dos homens mais importantes de seu país, e por isso pede segredo sobre o relacionamento dos dois. No fim desse ano Sarangerel vai passar as férias em sua terra natal e, ao voltar, os dois percebem que não conseguem ficar longe um do outro.

Jean-Michel já dá sinais de saber que Júlio tem uma namorada, mas não pergunta nada ao amigo e mantêm discrição. Porém, a companheira de quarto de Sarangerel, Erdene, insiste cada vez mais para saber o porquê dos atrasos da amiga e o que mais está acontecendo.

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Um dia, Sarangerel diz estar grávida e Júlio, sem medir as consequências, fica muito feliz. Os dois não queriam que ela abortasse, e Júlio diz que iriam se casar. Porém, Sarangerel diz que a escolha era dela também e que não era para ser nada imposto por ele assim. Ela conta tudo o que estava acontecendo para Erdene, que fica enlouquecida e revela ser uma guarda-costas de Sarangerel. Erdene conta ainda que o pai dela já está informado que ela tem um namorado não mongol e que ela só voltou das férias porque sua mãe queria que a filha se formasse. Erdene temia ser punida caso o pai de Sarangerel descobrisse que sua filha está grávida, e por isso pressiona a moça por uma solução.

Porém, Júlio e Sarangerel não querem o aborto e empreendem uma luta para se casarem. Ele mobiliza os alunos africanos e diversos outros amigos, que viam a criança como símbolo da união dos povos, um exemplo para o futuro. Pedem ajuda para Olga, mas essa nega, pois não quer fazer nada que possa causar uma crise entre dois governos aliados. Nesse ponto, o pai de Sorangerel já deve estar sabendo de tudo, pois Erdene foi até a embaixada e deve ter contado tudo antes que a KGB o fizesse. Júlio e seu grupo vão até a embaixada da Mongólia tentar achar uma solução, mas nem conseguem entrar. Ninguém queria ajuda-los e arriscar seus empregos ou mesmo causar uma crise internacional por conta disso.

A mãe de Sarangerel vai até Moscovo para tentar convencer a filha a abortar ir para Leningrado terminar seus estudos, mas não obtém sucesso em seu intento. No dia em que ela volta para a Mongólia, Júlio e Sarangerel passam a noite juntos na casa da moça. No outro dia, ela some e Júlio fica sabendo por Nara, uma amiga dela, que Sarangerel havia sido levada à força para a Mongólia. A partir daí, ele tenta de todas as forças entrar em contato com ela, mas não consegue. Depois de um tempo, Nara vai passar as férias na Mongólia e conta que Sarangerel deu luz a uma menina.

Júlio e seus amigos se formam e cada um tem um destino diferente. Júlio é mandando para ajudar na revolução na Argélia. Lá, chega a envolver-se com uma moça, mas a relação não dura muito. Ele aos poucos vai subindo de cargo devido a sua competência e dedicação ao trabalho, chegando a comandar um grupo de homens. Em certo momento, Júlio consegue um passaporte argelino para ir até a Mongólia, mas chegando lá ele é recebido por oficiais que o escoltam até o local onde hospedaria. Crente de que iria conseguir uma reunião com o pai de Sarangerel, ele espera. No dia seguinte, é levado para ver sua filha, mas os oficiais mantém Júlio preso dentro do carro e ele só consegue ver as costas da menina. De lá, é mandado direto para o aeroporto para pegar um avião para a Argélia.

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Chega a independência, mas os países caem em guerra civil, uma vez que os colonizadores não queriam abrir mão do poder. Cerca de dez anos após a independência de Angola, Júlio é chamado para Lubango e reencontra sua terra-natal e família. Sua irmã Olga, antes racista, agora era nacionalista e defendia a igualdade entre todos. Júlio, que havia lutado na revolução, tornou-se seu herói e exemplo para os demais.

Em Luanda, Júlio logo tornou-se general e usou de sua posição privilegiada para tentar contato com a Mongólia. Todos prometiam ajuda, mas de nada adiantava. Júlio continuava a trabalhar como economista em Angola e tentava elaborar projetos efetivos de paz e progresso para o país. Sem nunca desistir de Sarangerel, o tempo foi passando. Após se reformar das forças militares, continuou trabalhando em uma empresa criada por um amigo seu. Assim, apesar de não ter ficado rico, tinha suas mordomias.

Um dia, sua amiga Esmeralda, que o havia ajudado em Moscovo para que ele e Sarangerel ficassem juntos, vai à Cuba e volta dizendo que encontrou Sarangerel lá. Que ela havia se casado e que sua filha, chamada Altan (significa ouro), estava casada e tinha filhos. Júlio fica atônito e resolve ir até Cuba. Consegue entrar para uma comitiva militar que iria à Cuba no mês seguinte.

Chegando em Havana, consegue tempo para visitar Sarangerel e os dois conversam pela primeira vez em 35 anos. Ela conta que teve dois filhos com seu marido e que esse queria conhecer Júlio. É marcado, então, um almoço para o outro dia. Nesse encontro, tudo ocorre amigavelmente e todos apenas conversam sobre política. De volta ao hotel, Júlio é surpreendido por um telefonema de Sarangerel, dizendo para ele arrumar um visto para ela que ela irá para a Angola viver com ele.

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De volta a seu país, Júlio prepara sua casa para receber Sarangerel enquanto o visto fica pronto. Durante esse tempo, ela convence o marido a conceder o divórcio amigavelmente e também conta a seus filhos sua decisão. Algum tempo depois de chegar em Angola, Sarangerel diz que Altan quer conhecer Júlio e eles planejam uma viagem para Itália e toda a família se encontra lá. Altan fica feliz pelos dois pais que tem.

O casal volta para Angola e a vida passam a curtir os dias juntos, uma vez que Júlio decide sair do emprego. Algum tempo depois, Altan e seus irmãos vão conhecer a Angola e ficam encantados com as paisagens do lugar, mas também não deixam de mostrar espanto com a miséria da população.

Certo dia, Júlio resolve ir ao médico para descobrir o motivo de suas fortes dores nas costas. Após os exames, o médico o informa de que ele tem um câncer avançado e não dá muitas esperanças de cura. Júlio mantém isso em segredo de todos e Sarangerel só descobre tudo quando ele é levado ao hospital após uma crise. Altan novamente vai a Angola para despedir-se de seu pai. Júlio morre feliz após passar quatro anos ao lado de sua amada. Portanto, descobre-se ao final do livro que trata-se de um relato póstumo do narrador.

Lista de personagens
Júlio: angolano. decide tudo por instinto, sendo muitas vezes irracional e teimoso.
Sarangerel: é uma mongol socialista que se transfere para a escola de Júlio no 2o ano. É filha do Ministro da Defesa da Mongólia, um dos homens mais importantes de seu país, mas é simples, modesta e meiga.
Jean-Michel: natural da República do Congo, tem grandes ideais fraternos. Para ele, as ideias socialistas não existem. É morto por ser herético.
Erdene: guarda-costas de Sarangerel, informa todos os passos da moça. Tenta encobrir o romance dela, mas fica com medo de ser punida.
Moussa: senegalês muçulmano, é um aristocrata.
Salim: natural da Tanzânia, é mulçumano.
Olga: irmã de Júlio, inicialmente é racista, mas depois torna-se uma grande líder nacionalista e luta contra o racismo.
Olga: espécie de guia e vigia dos estudantes angolanos em Moscovo.

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Sobre Pepetela
Artur Carlos Murício Pestana dos Santos, conhecido por Pepetela, nasceu em 29 de outubro de 1941 na cidade de Benguela, Angola. Seus pais eram angolanos de nascimento, mas descendentes de uma família colonial portuguesa. Começa seus estudos em sua terra natal, mas em 1956 muda-se para Lubango e termina seus estudos lá. Posteriormente, vai para Lisboa cursar o Instituto Superior Técnico. Em 1960 ingressa no curso de engenharia, mas muda logo em seguida para Letras, que também abandona para ingressar no Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) em 1963.

Durante sua época de militante político, Pepetela fugiu para Paris e depois se estabeleceu em Argel, capital da Argélia. Lá trabalhou no Centro de Estudos Angolanos com Henrique Abranches fazendo uma documentação da sociedade e cultura angolanas, além de divulgar as atividades da MPLA pelo mundo. Nesse tempo ele escreve seu primeiro romance, “Muana Puó”, obra que só decide publicar em 1978. Depois da mudança do Centro de Estudos Angolanos para a República do Congo em 1969, Pepetela ingressa na luta armada contra os portugueses, experiência que lhe serviu como inspiração para a obra “Mayombe” (1980), que também só foi publicado após a independência de Portugal.

Com a independência de Angola conquistada em 1975, Pepetela retorna para seu país de origem e torna-se Vice-Ministro da Educação no governo do Presidente Agostinho Neto. O escritor fica no cargo até 1982, quando abandona a carreira política para se dedicar à literatura. Durante essa época, ele encontra apoio do presidente para lançar seus livros.

Em 1984, Pepetela lança um de seus romances mais prestigiados, “Yaka”, romance histórico que trata da vida dos membros de uma família de colonizadores portugueses que vão para Benguela no século XIX. Durante as décadas de 1980 e 1990, continua a publicar diversas outras obras onde Angola é o centro de suas atenções. Em 1997, recebe o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário de língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra.

Durante os anos 2000 o escritor continua com uma intensa carreira literária, publicando livros que tratam da influência norte-americana em Angola, terrorismo e outros temais atuais.

Suas principais obras são: “Muana puó” (1978), “As aventuras de Ngunga” (1979), “Mayombe” (1980), “Yaka” (1985), “A geração da utopia” (1992), “Parábola do cágado velho” (1996), “A gloriosa família” (1997), “Jaime Bunda, Agente Secreto” (2001) e “Jaime Bunda e a Morte do Americano” (2003)

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