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Oppenheimer: conheça a história e as consequências do Projeto Manhattan

Além das mais de 200 mil vítimas de Hiroshima e Nagasaki, a criação das bombas atômicas também mudou para sempre a geopolítica mundial

Por Karolina Monte
Atualizado em 28 jul 2023, 12h11 - Publicado em 26 jul 2023, 17h02

Acabou de ser lançado o novo filme do popular diretor Christopher Nolan: “Oppenheimer”. O longa-metragem biográfico conta a história de um período específico da vida do físico norte-americano Julius Robert Oppenheimer durante seu comando no famoso Projeto Manhattan, uma empreitada financiada pelo exército dos EUA para desenvolver as primeiras bombas atômicas da história.

Oppenheimer foi uma figura histórica e o próprio Projeto Manhattan realmente aconteceu – e ambos geraram consequências devastadoras para o mundo inteiro. Por isso, se você pretende assistir ao filme no cinema (ou mesmo se já assistiu), preparamos aqui um pequeno resumo do contexto histórico dessa época, para você entender de uma vez o que foi o polêmico Projeto Manhattan.

O Projeto Manhattan

Logo no primeiro ano da Segunda Guerra Mundial, em 1939, liderado pelo major do exército Leslie Groves, surgiu o Projeto Manhattan. O objetivo era claro e bem definido: desenvolver as primeiras bombas atômicas, para compor o arsenal bélico estadunidense.

Como as bombas atômicas alteram fisicamente a composição dos átomos de elementos como o urânio e o plutônio – e não promovem apenas uma reação química, como é o caso das explosões por dinamite -, a física por trás da empreitada era complexa. Ninguém, até então, havia conseguido realizar uma fissão (o rompimento) do núcleo atômico. Por isso, o major Groves foi atrás dos melhores cientistas da época para ajudá-lo.

Em 1942, Groves convidou J. Robert Oppenheimer – um físico teórico em ascensão, e um dos grandes responsáveis por levar a teoria da física quântica da Europa para os Estados Unidos -, para liderar a construção da bomba atômica. A física quântica, também chamada de mecânica quântica, é uma vertente da Física relativamente recente. Ela estuda o átomo e suas partículas subatômicas, e seu surgimento, no início do século XX, foi uma verdadeira revolução para essa área do conhecimento.

Oppenheimer decidiu aceitar a proposta de Groves e, entre os anos de 1942 e 1945, liderou o Projeto Manhattan. Como o mundo vivia a maior guerra que a humanidade já havia testemunhado, e a construção de uma bomba atômica representaria um avanço estratégico considerável, os EUA decidiram manter sigilo sobre seus planos.

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Para isso, o exército autorizou a construção do Laboratório Nacional de Los Alamos, no estado do Novo México, completamente isolado das grandes capitais do país. Ao seu redor, também foram construídos todos os componentes de uma cidade artificial, com escolas, mercados e infraestrutura o suficiente para receber os cientistas do projeto e seus familiares. No total, o Projeto Manhattan durou três anos, custou mais de dois bilhões de dólares e envolveu mais de 13 mil pessoas. 

Em 16 de julho de 1945, mais de dois meses após a rendição da Alemanha nazista, aconteceu o Trinity, o primeiro teste com armas nucleares da História. O Trinity consistiu na detonação de uma bomba de de plutônio com o poder de destruição equivalente a 20 mil quilotons de TNT.

Pouco tempo depois, no dia 6 de agosto de 1945, os EUA resolveram usar sua nova arma também em combate e lançaram sobre a cidade japonesa de Hiroshima a primeira bomba nuclear da História, chamada de Little Boy, produzida através da fissão do elemento urânio. Em 9 de agosto, soltaram a Fat Man, uma bomba feita de plutônio, sobre a cidade de Nagasaki. 

O poder das bombas atômicas, que até então não havia sido testado sobre o corpo humano, foi devastador. Segundo dados da época, a explosão causou a liberação de raios gama, nêutrons e raios X, que causam uma destruição completa das células humanas. Nos primeiros minutos da explosão, os hibakusha (como são chamados os sobreviventes das explosões) sofreram queimaduras graves na pele e outros tecidos.

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Em entrevista à BBC News, Shinji Mikamo, sobrevivente de Hiroshima relata que sentiu “uma dor latejante que se estendeu por todo meu corpo. Foi como se um balde de água fervendo caísse sobre mim e me arrancasse a pele”.

Juntas, as duas bombas fizeram mais de 110 mil vítimas apenas no momento imediato da explosão. Estima-se que, até 1950, mais de 200 mil vítimas acabaram morrendo por consequência desses atentados atômicos.

O lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki, junto com o teste Trinity, inaugurou a chamada Era Atômica, ou Era Nuclear. Oppenheimer foi reconhecido mundialmente e ganhou a insígnia de “pai da bomba atômica”. Assim, se tornou o físico mais influente do mundo, e virou presidente do Comitê de Conselho da Comissão de Energia Atômica (CEA) dos EUA, que tinha como meta regular as atividades nucleares no país.

As consequências do projeto Manhattan, porém, foram além das vítimas das explosões – elas abriram também as portas para a conhecida Guerra Fria.

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As repercussões

Após a rendição da Alemanha nazista, em maio de 1945, e do Japão, logo após os desastres de Hiroshima e Nagasaki, foi dada a largada para a Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética, que haviam se aliado contra a Alemanha, Japão e Itália durante a Segunda Guerra Mundial, agora passaram a disputar o poder hegemônico mundial. De um lado estavam os EUA, defendendo o sistema econômico capitalista, e do outro a URSS sob o regime comunista. 

Em 1949, a URSS conduziu seu primeiro teste com bombas atômicas, deixando claro que os EUA não eram mais os únicos a deter as instruções para construir esse tipo de armamento. Como consequência, os norte-americanos instauraram um inquérito para descobrir se havia um espião infiltrado em Los Alamos durante o andamento do Projeto Manhattan. E o grande alvo dessa investigação acabou se tornando o próprio líder do projeto, Oppenheimer.

As suspeitas do governo americano recaíram sobre o físico por causa de suas relações e atividades pessoais. Oppenheimer jamais foi filiado ao Partido Comunista dos EUA – mas manteve relações diretas com organizações e pessoas ligadas à instituição, incluindo seu próprio irmão. O físico também ajudava financeiramente os rebeldes comunistas que combatiam o regime nazifascista de Francisco Franco, na Espanha. Ambas as ligações eram consideradas suspeitas.

Estes fatores, somados ao fato de Oppenheimer ter sido contra a construção da bomba de hidrogênio em 1950 (cujo criador também estava entre os participantes do Projeto Manhattan), e por ser defensor de um controle rígido de armamentos nucleares, fez com que o cientista virasse o principal suspeito de traição ao seu país.

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Após um longo julgamento, Oppenheimer acabou inocentado – mas ele nunca mais recuperou  sua credencial de segurança. Isso o impedia de participar de documentos, pesquisas e discussões importantes do universo físico e político. Foi assim que o então maior físico do mundo acabou escorraçado de decisões e cargos políticos.

Enquanto isso, no âmbito geopolítico, foi dada a largada para a Corrida Armamentista Nuclear, em que União Soviética e EUA produziram quantidades exorbitantes de ogivas atômicas, chegando a 40 mil armas nucleares em um único ano. Até os anos 1980, o mundo viveu sob o perigo iminente de uma guerra devastadora, que seria capaz de destruir todo o planeta.

A corrida armamentista só desacelerou em 1987 com a chamada Détente (palavra francesa que significa relaxamento), que determinou uma pacificação entre as potências e, com isso, o fim da Guerra Fria. Durante o Projeto Manhattan, Oppenheimer acreditava que a criação de uma bomba atômica – e o compartilhamento de sua produção e capacidade de destruição para todos os países – acabaria de vez com todas as guerras. Mas, depois de perceber a devastação que sua criação causava nos seres humanos, tornou-se um pacifista.

 

Conheça as consequências da bomba atômica pelo ponto de vista dos sobreviventes em “Hiroshima”, de John Hersey.

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