A carreira literária e a vida pessoal do baiano Castro Alves ficaram marcadas pelo ímpeto e pela enérgica entrega aos ideais abolicionistas. Passou para a história como “poeta dos escravos”, já que dedicou boa parte de sua produção poética à temática do negro e dos horrores da escravidão, reunida postumamente em “Os Escravos” (1883).
Na divisão didática e tradicional das escolas literárias, Castro Alves representava a terceira geração dos românticos brasileiros, cuja “poesia condoreira” se fazia com a retórica de impacto e o discurso sobre aspectos grandiosos e épicos. Afinado com o progresso e o liberalismo e influenciado pelos versos do francês Victor Hugo, seu canto apelava à justiça e à igualdade utilizando imagens e recursos estilísticos típicos do romantismo.
No poema “O Navio Negreiro”, uma das estrofes mais famosas ilustra esses procedimentos:
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Coma esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Hipérboles e invocações se repetem em outro momento célebre de “Vozes d”África”:
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito…
Onde estás, Senhor Deus?
Diferentemente do indígena, o negro não servia até então, com poucas exceções, de inspiração literária. Degradado, sem representação digna na arte, sem lenda histórica portanto, a transformação do negro em herói se dá pela pena de Castro Alves. Segundo o crítico Antonio Candido, essa “poetização da vida afetiva” do negro possibilitou despertar a sensibilidade burguesa. Ao negro, o poeta teria dado não apenas voz, mas também “dignidade lírica”, uma vez que “seus sentimentos podiam encontrar amparo”.
Nascido em 1847, na cidade de Curralinho (batizada mais tarde com o nome do autor), Castro Alves mudou-se para o Recife a fim de cursar direito. Lá se apaixonou pela pela atriz Eugênia Câmara, a quem dedicou a peça “Gonzaga ou A Revolução de Minas”. Mais tarde, no Rio de Janeiro, encontrou em José de Alencar um grande incentivador. Já em São Paulo, tomou contato com abolicionistas e anti-imperialistas como Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. Ferido em um acidente de caça, voltou para a Bahia, onde morreu, com 24 anos.
Sua obra também se fez de uma poesia lírica à altura dos melhores poetas românticos. A paixão por Eugênia Câmara inspirou-lhe versos de alta carga erótico-sentimental. Essa face da produção do autor se encontra em “Espumas Flutuantes“, único livro que publicou em vida. Trata-se de uma reunião de poemas que, diante das imagens idealizadas dos ultrarromânticos Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu, terminam por fazer um contraponto na tradição lírica do período. Postumamente, saíram “A Cachoeira de Paulo Afonso” e “Hinos do Equador”.
Título: Os Escravos
Autor: Castro Alves
Outros livros do autor
Esse texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira”, publicado em 2009 pela revista Bravo!
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