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“Os melhores poemas de João Cabral de Melo Neto” – análise da obra

Entenda os principais aspectos da obra de João Cabral de Melo Neto

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 9 jan 2020, 16h59 - Publicado em 28 set 2012, 17h56
 (Wikimédia Commons/Reprodução)
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A poética de João Cabral
João Cabral de Melo Neto é um escritor singular dentro da literatura brasileira. Para ele, o trabalho poético não é fruto de uma “inspiração” ou alguma espécie de mero momento criativo, como é comum pensar-se sobre o ato de fazer poemas. Ao contrário, João Cabral declarava que a poesia se encontra no rigor de sua construção e na organização do texto em si. O ideal artístico do poeta é o da “simetria”, algo que só poderia ser conseguido através de um exercício autocrítico e de um trabalho linguístico rigoroso. Por conta disso, João Cabral muitas vezes é chamado de “arquiteto das palavras” ou de “o poeta-engenheiro”.

Além de ir contra a ideia de que o fazer poético é fruto de uma inspiração do escritor, o que dá à poesia um caráter extremamente subjetivo, João Cabral buscou construir um poema objetivo, cuja visão não vem mais carregada de sentimentalismo (como acontecia por exemplo com os poetas românticos), mas sim com dados objetivos da realidade. João Cabral procura aniquilar o individualismo e a subjetividade típica dos poetas românticos – cuja voz poética era explícita dentro do poema – para que o poema comunique por si só, de forma objetiva e direta, sem o intermédio do “eu” pessoal do poeta.

A luta de João Cabral contra o individualismo dos poetas que só se preocupam com seu “eu íntimo”, levou-o a buscar novas formas de comunicação. Por conta disso, o poeta se aproximou das cantigas populares nordestinas, ao cordel, trovas medievais e uma série de formas poéticas, próprias da tradição popular, utilizando inclusive as técnicas de composição empregadas nessas formas de poesia popular – como, por exemplo, a repetição de palavras, algo muito presente no cordel nordestino.

Poemas representativos
“Pedra do sono”
Publicado originalmente em 1942, este livro foi a primeira coletânea do poeta e reúne diversos poemas escritos durante sua adolescência em Pernambuco. Este seu primeiro livro já traz alguns temas e imagens que serão tratados por João Cabral posteriormente, mas ainda de forma não muito desenvolvida. Nos poemas de “Pedra do sono” há uma intenção de experimentação poética, com algumas tentativas de caráter surrealista (como sugere a palavra “sono” do título do livro), mas há o racionalismo e a construção laboriosa que será a marca de João Cabral posteriormente (o que é demarcado pela palavra “pedra”, que será um símbolo recorrente em João Cabral). Nesse sentido, embora o livro pareça a um primeiro momento ter mais ligações com o Surrealismo, há no fundo grande influência cubista, cuja preocupação está mais na construção do poema e no objeto do qual se fala.

“Psicologia da composição”
Este poema faz parte da trilogia publicada em 1947, Psicologia da composição, Fábula de Anfion e Antiode. Este trabalho de João Cabral dá continuidade ao antilirismo de sua obra anterior, O Engenheiro, e marca uma ruptura maior com o surrealismo presente em Pedra do sono. “Psicologia da composição” é um poema que traz reflexões sobre a própria criação poética, que é uma constante dentro da obra de João Cabral.

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“Morte e Vida Severina (auto de natal Pernambucano)”
Escrito entre 1954 e 1955 (e publicado nesse ano), é o livro mais famoso e popular de João Cabral. “Morte e Vida Severina” retrata em forma de um poema dramático a trajetória de um retirante do sertão nordestino em busca de uma vida melhor no litoral. O poema é construído em redondilha maior (sete sílabas poéticas) e é dividido em duas partes: a primeira, “caminho ou fuga da morte”, passa-se antes do protagonista chegar à capital Recife; e a segunda, “presépio ou encontro da vida”, é após a chegada à cidade. Assim, o poema dramático é centrado em duas linhas narrativas que seguem a dicotomia existente no próprio título da obra: “morte” e “vida”.

O subtítulo do poema, “auto de natal Pernambucano”, liga este texto aos autos medievais, que são textos de linguagem simples, muitas vezes com elementos cômicos e uma intenção moralizadora. Uma característica importante dos autos é que suas personagens são alegóricas e representam virtudes e pecados, o bem e o mal, etc. Em língua portuguesa, o maior representante desse tipo de literatura é Gil Vicente, poeta português do século XVI.

“A educação pela pedra”
Este livro reúne 48 poemas e foi publicado pela primeira vez em 1966. A educação pela pedra é um marco na dentro da obra de João Cabral e é considerado um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Nessa obra, o poeta atinge o ápice de seu estilo de composição poética e é um dos últimos livros em que João Cabral propôs uma “arquitetura” ao escrever – o escritor decidia antes de escrever qual seria o plano do livro, decidindo o número de poemas, temas tratados, forma etc. Ou seja, os poemas foram tratados de um modo rigoroso e sistemático, para que possam obter a consistência e objetividade de uma “pedra”.

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O poema que recebe o mesmo título do livro, “A educação pela pedra”, é central na obra e funciona como seu núcleo temático. Nesse poema, existem duas lições que podem ser aprendidas através da pedra. A primeira dela diz respeito ao exercício da linguagem e ao fazer poético. Essa lição se inicia com a aprendizagem dos sons, da “dicção”, e vai passando pela moral, poética e economia. Essas lições falam muito sobre a economia verbal de João Cabral, cujos poemas são construídos com uma linguagem seca, dura e objetiva, fugindo de sentimentalismos, ela é precisa e concisa. Já a segunda pedra diz respeito à pedra em si e à dura realidade do Nordeste brasileiro. Assim, ela simboliza a aridez geográfica que acaba por tornar o ser humano árido também. Esta pedra é de nascença, ou seja, o homem que nasce no sertão não consegue escapar de seu destino de aprender a viver naquele ambiente hostil – o que é reforçado também pelo “entranha na alma”.

Comentário do professor
Apesar de uma formação clássica, isto é, dentro de padrões rígidos, João Cabral de Melo Neto se mostra bastante objetivo e claro, pretendendo atingir os leitores pelas sensações que provoca com as imagens sugeridas. Suas construções parecem, muitas vezes, caminhos por onde se desvendam mistérios que a vida apresenta. Um exemplo disso está no poema “Tecendo a Manhã”, em que o eu-lírico nos adverte que as coisas não se constroem sem a participação de um grupo, que o individuo só se completa em outros.
Comentário da professora Profa. Augusta Aparecida Barbosa, do Cursinho do XI

Sobre João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 9 de janeiro de 1920. Era primo do poeta Manuel Bandeira pelo lado paterno e do sociólogo Gilberto Freyre pelo lado materno. Por volta dos 18 anos, João Cabral começa a frequentar rodas literárias, vindo a conhecer durante uma viagem com a família ao Rio de Janeiro em 1940 os escritores Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade. Dois anos depois, publica seu primeiro livro, “Pedra do sono”. Neste mesmo ano, muda-se para o Rio de Janeiro e torna-se funcionário público.

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Em 1945, publica “O engenho” e nesse mesmo ano faz um concurso para a carreira diplomática, iniciando no ano seguinte o trabalho no Itamaraty. Em 1946, casa-se com Stella Maria Barbosa de Oliveira, com quem terá cinco filhos. No ano seguinte muda-se para Espanha, onde irá trabalhar como vice-cônsul, e alguns anos depois vai para Londres. Em 1950, publica “O cão sem plumas”.

Em 1952, volta ao Brasil para responder inquérito por subversão, passando a ficar sem rendimentos durante o período de investigações, sendo reintegrado à carreira diplomática somente dois anos depois. Em 1955, ganha o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras e, no ano seguinte, publica pela Editora José Olympio “Morte e Vida Severina e outras obras”.

Em 1958, é removido para o Consulado Geral em Marselha, na Espanha. Após isso, vai trabalhar também em Madri, Brasília e, em 1964, chega a trabalhar nas Nações Unidas, em Genebra, como conselheiro da Delegação do Brasil.

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Em 1968, é eleito para a Academia Brasileira de Letras, assumindo no ano seguinte a cadeira de número 6. Continua sua carreira diplomática, tendo trabalhado no Paraguai, Honduras, Senegal, Portugal e diversos outros países. Em 1986, sua esposa falece no Rio de Janeiro e João Cabral casa-se algum tempo depois com a poeta Marly de Oliveira.

João Cabral de Melo Neto faleceu em 9 de outubro de 1999 na cidade do Rio de Janeiro.

Suas principais obras são: “Pedra do sono” (1942), “O cão sem plumas” (1950), “A educação pela pedra” (1966) e “Morte e Vida Severina” (1966).

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