Pesquisadores encontram livro que ajudou o rei inglês Henrique VIII a romper com a Igreja Católica
Quando você tem uma ideia mirabolante e quer saber se alguém já teve essa mesma ideia ou quer ver até que ponto ela é viável, o que você faz? Joga no Google, certo? Pois é. Na época do rei Henrique VIII da Inglaterra, as pessoas iam à biblioteca. “Ah, você jura”… Juro! É fácil esquecer que nem sempre a gente teve internet. Um livro era (e ainda é) uma fonte poderosa de informações, capaz de alterar a história de povos inteiros! Um exemplo é a descoberta feita na biblioteca de Lanhydrock, no Reino Unido. James Carley, professor especialista em Henrique VIII, conseguiu identificar, entre as obras que fizeram parte da grande biblioteca do rei, o livro que foi decisivo para a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão e a ruptura da Inglaterra com a Igreja Católica na década de 1530.
O livro identificado contém um resumo das teorias do filósofo e teólogo medieval William of Ockham. Apesar de um pouco danificada, a obra sobreviveu à destruição em um incêndio que atingiu a biblioteca em 1881 e ainda tinha a folha de rosto com o número “282”, que Carley identificou como correspondente ao inventário de livros feito em 1542, cinco anos antes da morte de Henrique VIII.
A obra do padre e filósofo, publicada em 1495, foi parar no meio da coleção do rei da Inglaterra porque os seus assessores estavam reunindo evidências para dar base ao divórcio de Henrique com sua esposa Catarina (que naquela época não era permitido). A intenção era que o rei pudesse casar com Ana Bolena para que ela gerasse herdeiros do sexo masculino. Ockham escreveu, em latim, sobre os limites do poder do papa e a independência da autoridade de monarcas (justamente o que Henrique VIII buscava). Diversas páginas do livro estão marcadas pelos secretários para que o rei pudesse ler, incluindo uma seção destacada cujo título pode ser traduzido como “Quando é permitido deixar de obedecer ao papa”. :O
E foi isso que o monarca inglês resolveu fazer. Em 1532, ele começou a retirar seu apoio à Roma e, no ano seguinte, apesar da recusa da anulação de seu primeiro casamento, ele se uniu à Ana Bolena (que nessa época já estava com suspeitas de gravidez). Claro, a Igreja Católica não curtiu e declarou que Catarina de Aragão ainda era a rainha de direito da Inglaterra, e Henrique VIII respondeu como famoso “Ato de Supremacia”, estabelecendo a si mesmo como o chefe da Igreja Anglicana (e de quebra abocanhando todas as propriedades romanas do território inglês).
Para o pesquisador James Carley, o livro foi fundamental para a ruptura definitiva da Igreja da Inglaterra com a Igreja Católica. “O livro é importante não somente pela sua origem, mas também pelas notas inseridas nele feitas pelos secretários de Henrique VIII e sem dúvida destinadas para que ele próprio as lesse. Tais notas chamam a atenção exatamente para as questões relevantes às políticas do rei nos anos que antecederam a ruptura com Roma”, contou o especialista ao jornal The Guardian.
*Com informações do The Guardian