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Pressão dos pais em ano de vestibular: saiba como lidar

Por mais que as intenções dos familiares sejam boas é importante estabelecer limites e focar no seu objetivo

Por Julia Di Spagna
6 nov 2020, 14h42

A preparação para o vestibular sempre vai muito além dos estudos. Existe todo um preparo emocional envolvido, mudança de rotina e de prioridades, ansiedade, dúvidas e muitas decisões a serem tomadas. Nesse processo, é importante ter uma boa rede de apoio, com amigos e familiares que entendam e respeitem todo o contexto no qual você está inserido. Mas, muitas vezes, esse apoio pode ultrapassar alguns limites e até atrapalhar o dia a dia. 

Segundo Thaís Ribeiro, psicóloga e coordenadora geral do Colégio Poliedro Campinas, é natural que haja uma preocupação grande por parte da família, já que se importam com o futuro e o bem-estar dos jovens, principalmente em meio ao mercado de trabalho atual, cada vez mais concorrido e exigente. Com isso, muitos pais acabam aumentando a tensão nessa fase. As intenções não são ruins, mas o excesso de zelo ou a vontade de decidir pelos filhos podem ser extremamente prejudiciais. 

“Como os estudantes precisam tomar a decisão de carreira cedo, é comum que as inseguranças e incertezas estejam presentes. Nesse contexto, os pais podem querer se envolver demais e até encaminhar o estudante para as áreas em que atuam ou então para os segmentos mais tradicionais do mercado de trabalho”, explica a psicóloga.

Existem diversos fatores que podem despertar as cobranças e conflitos nas famílias durante esse período. Pensando nisso, separamos os principais para tentar entender melhor o outro lado. Confira:  

Carreiras tradicionais

Ribeiro explica que há uma tendência de que os familiares valorizem setores mais tradicionais e reconhecidos, como Medicina e Direito, por exemplo. Há uma falsa sensação de que são carreiras com maior retorno financeiro e estabilidade, mas, na realidade, são questões que não dependem somente do setor, mas sim do profissional. 

Alguns cursos parecem proporcionar uma remuneração mais alta no mercado de trabalho, mas, se o interesse pela área e a busca pela realização pessoal não for considerada, o desempenho profissional será afetado (e a remuneração também).   

Falta de autonomia

A falta de oportunidades anteriores do jovem de fazer escolhas autônomas também pode ser um fator que condiciona uma postura mais autoritária das famílias. “Elas têm certa dificuldade em validar as escolhas dos filhos. Mas, é importante que os responsáveis ofereçam as condições para que os estudantes possam se conhecer e tomar decisões. Assim, teremos o que chamamos maturidade e eles poderão ser protagonistas em suas vidas”, diz Ribeiro.  

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Projeções

Outro ponto recorrente é a projeção de sonhos e expectativas dos pais. Por não terem seguido certa carreira, por falta de oportunidades, por exemplo, os familiares podem acabar impondo aos jovens tudo o que não conseguiram conquistar. Dessa forma, as vontades e sonhos dos vestibulandos são anulados e cria-se uma enorme expectativa que não é compatível com seus objetivos. “Muitas vezes, a situação ocorre sem que os familiares e o próprio estudante percebam, afinal, pode ser sutil”, explica Ribeiro.    

Dinheiro e logística

Questões financeiras podem se tornar fator de pressão, caso o estudante opte por cursar uma universidade particular ou mesmo por questões logísticas de transporte ou compra de materiais. Se a instituição for em outro estado também é possível gerar um conflito, pois são muitas questões a serem resolvidas. 

Lazer

A pressão para que o estudante não tenha momentos de lazer durante o ano de preparação para o vestibular também é comum, segundo a psicóloga. Mas é preciso lembrar que alguns momentos de lazer, como prática de atividade física, ida ao cinema, ou encontro com amigos no final de semana, são importantíssimos para manter o ritmo de estudos e a saúde emocional. “São situações em que o jovem se conecta com o momento presente e consegue diminuir as preocupações e ansiedade com o futuro”, diz Ribeiro. 

Como resolver?

A influência da família pesa bastante na escolha, mas nem sempre é uma imposição. Em primeiro lugar, é preciso que o estudante perceba que ele pode estar sentindo a cobrança de seguir a opinião da família por depender dessa opinião para decisões cotidianas. Por isso, é tão importante o autoconhecimento para que cada um consiga se desenvolver no seu próprio ritmo, identificando suas preferências e dificuldades, assim como a melhor forma de lidar com elas.  

Além disso, buscar manter um bom relacionamento com familiares e pessoas próximas deixa o ambiente durante a preparação para o vestibular mais ameno e acolhedor. Nesse contexto, exercitar o diálogo é fundamental. “O estudante deve evitar atritos e demonstrar seu ponto de vista com argumentos, respeitando sentimentos e opiniões diferentes, e o fato de nem sempre entrarem em acordo”, diz Ribeiro.  

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Já quando a família quer influenciar a atuação em áreas específicas, pode-se argumentar que existem novas tendências no mercado de trabalho, com profissões e funções surgindo a cada dia, e que o cenário atual da pandemia acelerou ainda mais algumas mudanças que vão interferir de modo permanente. “Não sabemos como estará o mercado de trabalho daqui cinco anos, quando os alunos que ingressarem na faculdade vão se formar.” 

Caso perceba que as cobranças estão impactando o seu ritmo de estudo, seu apetite, sono, e que os pensamentos sobre essa situação são recorrentes, tente conversar e expor o que está enfrentando. Lembre-se que, no fundo, todos querem a mesma coisa: o que é melhor para você. O problema está no alinhamento do que isso realmente significa.

E se o diálogo não for uma opção? 

“Em geral, quando notamos situações em que o diálogo entre o estudante e a família é conflituoso, nos esforçamos para mostrar a importância de lidar com o hoje”, explica Ribeiro. Antecipar algo que ainda não aconteceu pode trazer mais conflitos, pois são situações hipotéticas para quais não temos respostas. É preciso tempo, apoio, disciplina e planejamento para chegar ao final do processo com a bagagem emocional e pedagógica necessária para tomar decisões conscientes.  

Uma dica da psicóloga é procurar a equipe de Orientação Educacional da instituição de ensino em que estiver matriculado ou atendimento psicológico, o que pode ajudar a aliviar a tensão proporcionada pelo momento. Os profissionais tentarão entender a situação com o aluno e pensar em formas para lidar com ela. Isso vale tanto para a pressão de familiares quanto para a escolha da carreira em si, pois ajudam a desenvolver o repertório necessário para a decisão. 

Grupos de apoio, nos quais o aluno percebe que não está sozinho nesse processo, compartilhando seus sentimentos com colegas em situações semelhantes também podem ser extremamente benéficos nesse momento.  

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Além disso, alguns exercícios de relaxamento e alongamento diários podem ajudar a aliviar as tensões. A prática de atividades físicas de leve intensidade também contribui, fortalecendo, inclusive, o sistema imunológico. E exercícios de atenção plena podem trazer vários benefícios, como o aumento da capacidade de concentração, a diminuição da ansiedade e a melhora na capacidade de manter o foco. 

É possível conciliar a pressão com os estudos? 

“Sim, desde que o jovem consiga priorizar a saúde emocional e visualizar seu objetivo final”, diz Ribeiro. 

Claro que, nesse momento de pandemia, em que há o isolamento social e a ampliação da convivência com os familiares, pode ser ainda mais difícil lidar com os desafios cotidianos. Já até demos algumas dicas do que fazer se sua família tem atrapalhado seus estudos em casa. Mas, ao buscar apoio externo, planejar a rotina, focar no seu objetivo, estar aberto ao diálogo e tentar entender o outro lado, é possível enfrentar os conflitos e se concentrar no seu sonho.

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