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‘Quanto mais escuro, menos aceitação’: como colorismo afeta os negros

Diferença entre tons de pele gera debates sobre pertencimento

Por Redação do Guia do Estudante
16 jul 2021, 15h17
Colorismo
A onda colorista ou o termo colorismo surgiu em 1982, usado pela escritora Alice Walker, no seu livro “If the Present Looks Like the Past, What Does the Future Look Like?” Traduzido em português para: “Se o presente se parece com o passado, como será o futuro?”. (Pinterest/Divulgação)
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Por Douglas Norberto e Matheus Silva/ Esquinas

“Se você vai ao mercado, é seguido pelo segurança, mas no shopping, com uma galera branca, você não é olhado porque tem a pele mais clara”. Essa dualidade vivida e explicada pelo estudante João Arnaldo, 22 anos, tem nome: colorismo.

“A gente não nasce negro, a gente se torna negro. É uma conquista dura, cruel e que se desenvolve pela vida da gente afora.” A citação de Lélia Gonzalez, uma das pioneiras nos estudos da Cultura Negra no Brasil, corrobora o entendimento do ser negro no Brasil e do pertencimento a uma nação que nasceu da miscigenação.

No cenário de colonização, teorias racistas, como a eugenia e o darwinismo social, foram incumbidas e despertaram o interesse da elite intelectual da época, com o intuito de explicar cientificamente a inferiorização das raças.

Essa elite, ao idealizar uma identidade nacional após a abolição da escravidão em 1888, deparou-se com um dilema: os frutos da miscigenação. O embranquecimento da população foi política de Estado, mas também foi aplicado por um viés psicológico, interferindo no inconsciente de negros e mestiços e dificultando a busca da identidade e valorização de suas raízes. O resultado são milhares de brasileiros negros de pele clara vivendo na encruzilhada do ser ou não, negro.

O debate sobre esse processo de descobrimento caminha lentamente, mas avança. A consultoria Tink Etnus afirma que nos próximos três anos 70% dos brasileiros vão se autodeclarar negros. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2019, 42,7% dos brasileiros se declararam como brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como pretos e 1,1% como amarelos ou indígenas.

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COLORISMO: AS DUALIDADES DO PERTENCIMENTO

“Eu geneticamente nasci de um pai negro e uma mãe branca, atualmente me autodeclaro como parda e a maioria das pessoas me reconhece desse modo. Nasci com cabelo enrolado e tom de pele mais claro. Quando alisei o cabelo, foi algo que tirou a minha identidade”, conta a estudante Beatriz Carreiro, 19 anos, que sempre teve o colorismo presente em sua vida.

Beatriz Carreiro está entre os 46,8% de brasileiros que se autodeclaram pardos.
Beatriz Carreiro está entre os 46,8% de brasileiros que se autodeclaram pardos. (Arquivo pessoal/Divulgação)

Para Beatriz, a identidade vem agregada a muitos fatores que a tornam ela. Mas são esses mesmos fatores que a fazem ser julgada pelo que não é.

“Existe uma problemática grande no próprio movimento negro de desqualificação de negros retintos para com negros de pele mais clara. Eles taxam os de tons mais claros como pessoas brancas, o que pode não ser uma realidade para muitos”, afirma João.

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O colorismo “traz a questão de em quais espaços você é lido como uma pessoa branca e em quais é lido como uma pessoa negra”, explica o estudante. É importante, diz ele, que o movimento negro acolha os negros de pele clara, e não os exclua.

COLORISMO PELAS LENTES ACADÊMICAS

A ativista e influencer Nina Chrispim, de 25 anos, critica a visão do colorismo como uma classificação entre pessoas negras. Segundo ela, o sistema é um critério de aceitação fora da comunidade. “O colorismo é sobre a forma como a sociedade vai te tratar a depender do seu tom de pele”, diz Nina. “Quanto mais escuro, menos aceitação em ambientes e menos recebimento de afetos.”

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Uma publicação compartilhada por Nina Chrispim (@ninachrispim)

Segundo Laíse Neres, socióloga de 34 anos, os negros — assim como os brancos — possuem fisionomias distintas uma das outras, e o tom de pele entra nesse contexto. Ela frisa a importância do autoconhecimento: “Uma vez que reconhecemos quem somos, temos capacidade de enfrentar a sociedade racista de um ponto de vista mais ético, ideológico e também com maior autoestima”.

Por outro lado, a socióloga acredita que é difícil se reconhecer como negro no Brasil, já que, segundo ela, as pessoas negras de pele clara são muito questionadas em relação à própria negritude. Em sua visão, isso impossibilita o surgimento de auxílios políticos na questão racial. “Se as pessoas estão com dificuldade de se marcarem enquanto negras na sociedade, as políticas públicas não vão ser fomentadas de forma justa. O colorismo vem como essa baliza para fazer uma confusão mental, política e ideológica”, afirma.

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De acordo com Nina, as discussões sobre esse sistema são fundamentais. “O debate sobre colorismo é muito importante para que a gente entenda o processo de embranquecimento que o País sofreu. Um projeto pós-escravagista para tentar colocar uma ideia de democracia racial que não existe aqui no Brasil”, comenta a ativista.

Laíse concorda e critica a exaltação da mestiçagem: “O processo de miscigenação no Brasil se deu com base na violência, através do estupro de mulheres africanas e indígenas. Então não há o que celebrar”, afirma.

Nina acredita que a romantização da miscigenação é uma das grandes causas do apagamento da história africana e da origem da população negra. “A gente precisa parar de romantizar o embranquecimento”, diz. “Se você quer se relacionar com uma pessoa branca, ok, mas você precisa entender de onde veio esse processo. Quanto mais pessoas negras tiverem essa consciência, mais a gente vai recuperar a nossa história”.

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Estudo
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