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Quem é Maria Firmina dos Reis, escritora negra homenageada na Flip

Maria Firmina é considerada a primeira romancista brasileira

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 14 set 2022, 11h56 - Publicado em 14 set 2022, 11h00
Maria Firmina dos Reis
 (Jornal da USP/Reprodução)
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Muita gente não sabe, mas o primeiro livro de temática abolicionista brasileiro veio pelas mãos e genialidade de uma mulher: Maria Firmina dos Reis. Considerada a primeira mulher romancista do nosso país, ela também inaugurou uma linha da nossa literatura conhecida como afrobrasileira — escrita por autores afrodescendentes que falam de uma perspectiva interna de questões de raça, sempre questionando as estruturas racistas vigentes. 

A autora foi a escolhida para ser homenageada na 20ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).

Assim como outras escritoras mulheres fizeram ao longo da história, Firmina dos Reis publicou seu primeiro romance, Úrsula (1859), sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”. A escritora era de fato maranhense, nascida em 1822. Filha de pai negro e mãe branca, teve contato com a literatura desde cedo, quando foi morar com a tia aos 5 anos de idade. Publicou ao longo de sua vida poesias, ensaios e romances. A temática da escravidão estava quase sempre presente, relatada de um ponto de vista nunca antes verbalizado pela sociedade brasileira ainda escravagista.

Em Úrsula, a escritora descreveu, por exemplo, o interior de um navio negreiro: 

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“Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa.”

 

Antes de se destacar como escritora, vale lembrar que Firmina também atuou como educadora, profissão em que causou quase tanto furor quanto com seus livros. Defensora de práticas educacionais muito à frente de seu tempo, ela inaugurou uma escola mista para meninas e meninos no Maranhão, que acabou sendo fechada alguns anos depois em meio a protestos da população. 

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A postura abolicionista da escritora foi selada em 1887, com a publicação do conto A Escrava na Revista Maranhense. Ela conta a história de uma mulher de classe alta, atuante na causa da abolição, que tenta salvar a vida de uma escrava. Apesar do destaque que teve na época em que viveu, Firmina dos Reis caiu no esquecimento e sua literatura só foi revisitada a partir de 1960. O apagamento de Firmina é similar ao que sofreu Maria Carolina de Jesus, autora de Quarto de Despejo

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