Saiba como administrar as expectativas em um intercâmbio
Brasileira afirma que nem tudo sairá como o planejado, mas isso não é, necessariamente, um problema
Carla Natane, colunista do Estudar Fora, contou como foi seu intercâmbio e as experiências que teve em relação às suas expectativas e à realidade.
Você já assistiu Desventuras em Série? No começo do filme, o narrador fala que se você espera por um filme fofinho aquele não era o ideal para você. Então… Se você quer uma história de intercâmbio planejado e perfeito, essas linhas não vão te servir. Mas se você tiver interesse em descobrir algo real e que mudou minha forma de ver o mundo, vamos lá!
A coisa mais importante que eu espero que você absorva depois de ler meu relato é que: “O seu intercâmbio não vai ser o que você planejou dele e está tudo bem“. Dito isso, eu vou contar um pouco da minha experiência trabalhando em uma startup em Bogotá, na Colômbia.
O começo de uma história nem sempre é no primeiro dia
A história toda começa ainda na escolha da vaga. Escolhi fazer um intercâmbio profissional através da AIESEC e minha primeira opção não era a Colômbia, mas sim o Peru. Eu queria muito ir, me apliquei para várias vagas no país, fiz algumas entrevistas, mas não rolou. Comecei a apostar em outros países e foi na Colômbia que recebi o tão sonhado “SIM”: tive duas aprovações e como eu queria fazer parte de algo em que eu acreditasse, escolhi trabalhar em uma startup de energia solar, como designer.
Lembra o que eu falei lá no início do texto? Quando cheguei em Bogotá não tinha ninguém me esperando com uma plaquinha na mão – primeiro porque meu vôo foi de madrugada e existe um horário em que as pessoas podem ir te pegar no aeroporto. Segundo porque o dia em que eu cheguei era dia de algo parecido com um rodízio de carros; nesse dia só tinha táxi e ônibus na rua. Resultado: fiquei umas boas horas esperando no aeroporto. Já foi o momento para começar a me habituar com a língua, com o frio e com a assustadora sensação de estar completamente sozinha em um país totalmente desconhecido.
Muita gente tem medo de ficar em casa de família no intercâmbio, mas a sensação de estar sozinha diminuiu quando cheguei na casa onde ficaria por dois meses e fui muito bem recebida. Aprendi muito sobre a Colômbia com aquela família (principalmente sobre a culinária colombiana).
Claro, existem prós e contras em ficar em casa de família e não em um alojamento ou hostel. Nestes últimos, o estudante tem muito mais liberdade. Em compensação, a vivência no país é totalmente diferente quando conseguimos enxergá-lo através dos olhos daquelas pessoas que agora também são sua família.
Alinhando expectativas…
O dia seguinte à minha chegada já foi o meu primeiro dia de trabalho. Para começar, sentei junto com um membro da AIESEC e meus chefes para definirmos as minhas principais responsabilidades, metas e formas de trabalho. Eu trabalhava em dois espaços diferentes – dois coworkings – e para mim isso foi uma das coisas mais legais do intercâmbio, porque me permitiu estar em um ambiente muito empreendedor e aprender bastante sobre a dinâmica de uma Startup.
O meu trabalho começou com análises de como as coisas estavam e a partir daí estratégias e ideias para melhorar. A minha proposta desde o início era trabalhar de uma forma que eles pudessem continuar depois que eu fosse embora, e fico muito orgulhosa disso, pois um ano depois que voltei para o Brasil coisas que eu construí continuam auxiliando no trabalho deles.
No trabalho tudo ia bem, mas eu também passei por alguns momentos bem complicados. Na minha segunda semana na cidade, eu acordei passando muito mal durante a noite e acabamos tendo que acionar o seguro saúde. No outro dia, tive que ir para o hospital. Esse foi um dos momentos mais marcantes do meu intercâmbio, porque foi uma situação que me levou ao meu limite e eu consegui superar; consegui enxergar que era mais forte do que pensava.
E se realinhando
Como eu falei, essa não é uma história de um intercâmbio perfeito. Eu tinha muitas expectativas – desde as mais simples como fazer milhares de amigos, até as mais complexas como ter certezas maiores sobre minha graduação. Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, eu estava passando por um processo seletivo bem desgastante que definiria meu futuro no Brasil – e recebi um bonito não.
Na metade da viagem eu me encontrava muito frustrada com tudo. Foi quando eu decidi aquilo que eu espero que você entenda depois de ler isso tudo: “O seu intercâmbio não vai ser o que você planejou dele e está tudo bem”. Nesse momento eu comecei a me perguntar o que eu ainda poderia tirar do meu intercâmbio, o que eu precisava aprender sobre mim mesma, o que eu queria para o meu 2017 e para o meu futuro. Claro que eu não voltei com todas as respostas, mas foi muito importante ter em mente as perguntas e querer continuar buscando respostas para elas.
Eu fiz um intercâmbio profissional na Colômbia, mas acabou sendo um intercâmbio que me fez descobrir quem eu era de verdade. Às vezes a gente precisa se ver em uma perspectiva diferente para se reconhecer e eu não poderia ser mais grata a Colômbia por ter me dado tudo isso. Voltei mais forte como mulher, como brasileira, como latina.
Este artigo foi originalmente publicado por Estudar Fora, portal da Fundação Estudar.