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Semana de Arte Moderna: veja como o tema pode cair no vestibular

Em 2022, comemora-se o centenário do evento que foi um marco na trajetória cultural brasileira. A chance do tema aparecer nas provas é grande

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 23 Maio 2022, 07h29 - Publicado em 11 fev 2022, 13h03
Montagem com o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral - ícone do Modernismo brasileiro - e o cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922, considerado um marco.
Montagem com o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral - ícone do Modernismo brasileiro - e o cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922, considerado um marco. (Pinterest/Divulgação)
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Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 ocorreu a Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo. O evento foi um divisor de águas para a produção cultural brasileira e consagrou o Modernismo como escola oficial no Brasil.

A proposta inovadora de uma reforma cultural que ressignificasse a história e a cultura nacional foi uma espécie de grito de liberdade na comemoração do centenário da independência do país, em 1922. Cássia Pereira, professora de Português do Poliedro Colégio São José dos Campos, explica que a data era significativa para os modernistas, que pretendiam uma nova independência, mas dessa vez cultural.

“Os artistas responsáveis por esse grito ganharam a alcunha de ‘geração heroica’, pois queriam romper com os grilhões da cultura passadista. Eles vislumbravam a pluralidade cultural do país em um evento que reuniu diversas expressões artísticas como pintura, escultura, literatura e música”, afirma a professora.   

+ O que você precisa saber sobre o Modernismo

Vale lembrar que o início do século XX foi marcado pela consolidação da República e pelo desenvolvimento dos grandes espaços urbanos. O Rio de Janeiro tornou-se o centro político e social, onde se concentravam a saída e a entrada de produtos que dinamizavam a economia. No entanto, o enriquecimento promovido pelo apogeu da política do “café com leite”, organizada pelas oligarquias paulista e mineira, deslocou o eixo cultural para São Paulo, que mais tarde viria a ser o palco da Semana de Arte Moderna. 

Na década de 1910, a tradicional sociedade formada por fazendeiros passou a ganhar uma face urbana mais definida. “Famílias do interior transferiram-se para a capital, onde os casarões passaram a ser substituídos por prédios elegantes e construções à moda de tudo: de chalés suíços a moradias bretãs ou ‘italianadas’. Ao mesmo tempo, o ritmo da imigração estrangeira amplificou a algazarra dos dialetos e idiomas”, afirma Heric Palos, coordenador de Língua Portuguesa e de Literatura do Curso Etapa.

Enquanto para o século XIX, esse cenário político representava um momento propício para o espírito nacionalista exaltar a pátria e cantar os elementos exóticos da terra, como bem o fez o Romantismo, para os modernistas, o século XX não tinha mais fôlego para a idealização nacional e criação de heróis. 

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Nessa atmosfera, tornava-se necessária uma nova escola para um novo mundo – um ajuste nos ponteiros da arte que, na visão deles, estavam atrasados em relação ao restante do mundo.

+ Década de 1920: o que aconteceu nos ‘anos loucos’

Enem e vestibulares

A relevância do Modernismo para a trajetória artística brasileira, por si só, já colocaria o tema na mira dos vestibulares. Em 2022, no entanto, o movimento artístico ganha um destaque ainda maior com o centenário da Semana de Arte Moderna. Por isso, tanto a Semana quanto seus desdobramentos são uma aposta para os grandes vestibulares em 2022, aponta Jéssica Vasconcelos Dorta, professora da Oficina do Estudante, de Campinas (SP). 

“É importante compreender a Semana como a primeira face pública do movimento moderno brasileiro. Naquele momento, um interesse pela vida intelectual foi despertado em São Paulo e, posteriormente, em grande parte do país. Além disso, é importante atentar-se às vanguardas europeias, sempre cobradas pelo Enem, e aos movimentos culturais brasileiros influenciados pelo Modernismo, como o Tropicalismo da década de 1960”, diz a professora.

Em relação aos temas de redação, nos últimos anos, não tem sido comum o aparecimento de eventos históricos em virtude das comemorações de centenário ou bicentenário. Apesar disso, Jéssica afirma que é possível que temas relacionados à arte ou à Independência sejam cobrados. 

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Cássia, professora do Poliedro, defende que é importante retomar os nomes dos principais artistas modernistas e suas contribuições para o movimento estético. Alguns vestibulares também podem selecionar poemas para que o candidato verifique as características modernistas, como ausência de formalidade, elogio ao verso livre e branco (sem métrica e sem rima), crítica ao Parnasianismo, valorização da linguagem coloquial e do cotidiano, experimentalismo estético e enaltecimento da cultura nacional. 

“O centenário da Semana de 22 é uma data bastante simbólica para a cultura nacional, o que implica a realização de eventos comemorativos, palestras, apresentações artísticas e discussões nos espaços acadêmicos. Isso tudo indica que há grandes chances de cair no Enem e nos grandes vestibulares. É pertinente lembrar que o objetivo dos modernistas era ressignificar a cultura nacional nas primeiras décadas do século XX, porém já se passaram cem anos. O candidato pode ser levado a refletir sobre a arte no Brasil no século XXI, buscando analisar quais foram as mudanças ocorridas desde então”, diz Cássia. 

+ Veja 4 curiosidades sobre a Semana de Arte Moderna de 1922

Por isso, é importante considerar também o contexto cultural do Brasil na atualidade, os desafios de fomento à cultura e revisitar a valorização da pluralidade no processo de constituição da nossa cultura ao longo do último século. Outro fato importante a ser analisado é o espaço da oralidade, da cultura urbana e periférica do Brasil atual.

Os modernistas compunham um clube seleto de intelectuais que defendiam a cultura plural do país. Apesar disso, esses grupos defendidos por eles como os indígenas, por exemplo – não tiveram voz no evento da Semana de Arte Moderna. A visão “de fora” que os artistas tinham desses grupos sociais refletiu-se, muitas vezes, em representações caricatas nas obras, como aponta Thiago Braga, professor responsável pelo material didático de Língua Portuguesa do Sistema pH.

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“Para trabalhar o tema de forma adequada, é fundamental discutir também seu aspecto elitista, já que foi um movimento voltado para a elite de São Paulo. Há também uma crítica muito forte ainda hoje pelo uso do elemento indígena e africano sem o envolvimento de indígenas e africanos, de modo muito caricaturizado. Macunaíma, por exemplo, apresenta uma visão estereotipada do indígena”, exemplifica.

Questões

Veja alguns exemplos de como o tema já foi cobrado nas provas:

1. ENEM (2010) 

Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros artistas modernistas:

a) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias, valorizando as cores, a originalidade e os temas nacionais.

b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de forma irrestrita, afetando a criação artística nacional.

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c) representaram a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a natureza, tendo como finalidade a prática educativa.

d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas, defendendo uma liberdade artística ligada a tradição acadêmica.

e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites de temas abordados.

2. ENEM (2010 – 2ª aplicação) 

Quadro da Tarsila do Amaral
AMARAL, Tarsila do. O mamoeiro. 1925, óleo sobre tela, 65×70, IEB//USP (Enem/Reprodução)

O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica-se que, nas artes plásticas, a

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a) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas.

b) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano.

c) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico.

d) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada.

  1. e) forma apresenta contornos e detalhes humanos.

3. ENEM (2000) 

“Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[…]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa.
Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)

Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:

a) Critica o lirismo louco do movimento modernista.

b) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.

c) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.

d) Propõe o retorno do movimento romântico.

e) Propõe a criação de um novo lirismo.

    4. UPF (2016)

    Considere com atenção as afirmações a seguir.

    I. A Exposição de Anita Malfatti, realizada em 1917, e que recebeu uma crítica demolidora de Monteiro Lobato, foi o fato cultural mais importante na gestação da Semana de Arte Moderna, pois ajudou a unir os jovens artistas e intelectuais ao combate às estéticas que remontavam ao século XIX.

    II. O primeiro livro que apresentou uma poesia integralmente nova, afinada com as propostas de liberdade formal e com os ideais nacionalistas do grupo modernista em formação, foi Carnaval, de Manuel Bandeira, publicado em 1919.

    III. Durante a realização da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, o momento mais marcante foi aquele em Manuel Bandeira declamou seu poema “Os sapos”, no qual destila uma ironia violenta contra os poetas simbolistas, sob os apupos, as vaias e os assobios do público.

    Está correto apenas o que se afirma em:

    a) I.

    b) II.

    c) III.

    d) I e II.

    e) I e III.

    5. Mackenzie (2018)

    3 de Maio

    [01] Aprendi com meu filho de dez anos
    [02] Que a poesia é descoberta
    [03] Das coisas que eu nunca vi

    Oswald de Andrade

    Segundo Alfredo Bosi, no seu livro História concisa da literatura: “Paralelamente às obras e nascendo com o desejo de explicá-las e justificá-las, os modernistas fundavam revistas e lançavam manifestos que iam delimitando os subgrupos, de início apenas estéticos, mas logo portadores de matizes ideológicos mais ou menos precisos”. A partir dessas considerações, assinale a alternativa correta.

    I. A prática da escrita de manifestos se conecta exclusivamente aos movimentos de vanguarda latino-americanos, pois as vanguardas europeias preferiram, no lugar do manifesto, o uso de longos tratados estéticos.

    II. Klaxon, publicada no ano de 1922 em São Paulo, e Estética, lançada em 1924 no Rio de Janeiro, foram duas revistas que contribuíram para o debate modernista ao longo da década de 1920.

    III. Os “Manifesto da poesia Pau-Brasil” e “Manifesto antropófago” contêm importantes diretrizes do grupo modernista formado ao redor da ação cultural de Oswald de Andrade e Mário de Andrade.

    a) Estão corretas as afirmativas I e II.

    b) Estão corretas as afirmativas I e III.

    c) Estão corretas as afirmativas II e III.

    d) Todas as afirmativas estão corretas.

    e) Nenhuma das afirmativas está correta.

    6. UNIFOR (2020)

    A Semana de Arte Moderna ocorreu no Brasil em 1922. Este acontecimento histórico representa o início do modernismo. Cada dia da semana foi dedicado a uma arte diferente: pintura, escultura, poesia, literatura e música. Houve uma renovação na linguagem, liberdade criadora, ruptura com o passado e um certo experimentalismo. Consagrados artistas participaram da semana, dentre eles Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia dentre outros.

    Avalie as proposições a seguir sobre este movimento cultural e artístico bem como suas consequências sociais.

    Primeiro à esquerda, no alto, Mário de Andrade. Sentado, segundo da esquerda para a direita, Rubens Borba Morais e outros modernistas em 1922.

    I – Os artistas do início do século XX sentiram a necessidade de abandonar os ideais estéticos do século XIX.

    II – A Semana de Arte Moderna criticava os valores da República Velha com as famílias “quatrocentonas” paulistas ligadas à estética europeia.

    III – O público reagiu negativamente à leitura de alguns textos, com vaias, latidos e miados. Como, por exemplo, a palestra de Menotti del Picchia.

    IV – A Semana teve uma importância primordial logo que foi realizada, com uma bela repercussão jornalística.

    V – A Semana de Arte Moderna foi realizada em um período de tranquilidade social e política no Brasil.

    É correto apenas o que se afirma em

    a) I, II, III.

    b) I, II, IV.

    c) II, IV, V.

    d) I, III, V

    e) III, IV, V.

    GABARITO

    1. A; 2. B; 3. E; 4. A; 5. C; 6. A.

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