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Sentimento do Mundo – Análise da obra de Carlos Drummond de Andrade

Entenda os principais aspectos da obra

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 15h24 - Publicado em 15 ago 2012, 18h31

– Leia o resumo da obra “Sentimento do Mundo”

Sentimento do Mundo – Análise da obra de Carlos Drummond de Andrade

Análise dos principais poemas do livro
“Sentimento do Mundo” – Aqui o poeta nos revela sua limitação e impotência perante o mundo (“tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo”), mas se declara “cheio de escravos”. “Sentimento do mundo” pode ser entendido também como um poema sobre o próprio fazer literário (“minhas lembranças escorrem”), onde os poemas (“escravos”) surgem como armas (“havia uma guerra/ e era necessário/ trazer fogo e alimento”) resultantes do “sentimento do mundo” do qual o poeta se conscientiza a partir dessa obra. Drummond revela neste poema uma visão de mundo extremamente pessimista, com um amanhecer “mais noite que a noite”.

“Confidência do Itabirano” – A alienação e o sentimento de dispersão que aparecem no primeiro poema do livro (“Sinto-me disperso,/anterior a fronteiras”) são vistas como consequências do isolamento geográfico e social de um eu marcado pela decadência (“Tive ouro, tive gado, tive fazendas./Hoje sou funcionário público.”). “Confidência do Itabirano” se fundamenta em uma série de antíteses (“vontade de amar” versus “hábito de sofrer”, etc.), em um impasse poético entre o coletivo (“ferro nas calçadas”) e o individual (“ferro nas almas”). A dor do poeta não é apenas causada pela saudade da terra natal, mas também pelo destino do país, que se modernizava e esquecia cidades como Itabira, que é “apenas uma fotografia na parede”.

“Poema da Necessidade” – as inquietações e preocupações impostas pelo ritmo frenético da vida moderna são representados um atrás do outro por meio de repetições (anáfora). As necessidades que nos são impostas (ler isso, acreditar naquilo, fazer aquilo outro) contrastam com as necessidades mais básicas e verdadeiras do homem: “É preciso viver com os homens/é preciso não assassiná-los”. A necessidade de agir de acordo com os padrões e reprimir o ego esbarra no desejo íntimo.

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“O Operário no Mar” – poema em prosa cujas imagens rompem a barreira do real fundamentando-se em bases surrealistas. O operário, figura idealizada do movimento socialista, aparece como um Cristo (“Agora está caminhando no mar”), mas seu corpo não é santo (“aparentemente banal”) e não há nenhuma coisa que o ajude a passar pelas turbulências (“não vejo rodas nem hélices no seu corpo”) do cotidiano. O poeta deixa claro que há uma diferença entre o trabalho braçal do operário e o trabalho (talvez cômodo) do fazer poético ao dizer: “Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar”. Mas há um sorriso que liga os dois e a esperança de que no futuro o eu-poético consiga compreender o operário.

“Canção do Berço” – neste poema o poeta transmite através de uma irônica amargura a mensagem de que o futuro já está marcado desde o berço: o amor, a carne, a vida, os beijos ou mesmo o mundo não têm importância num contexto de lucro imediato que a sociedade de consumo impõe. Ou seja, as relações humanas não possuem significado dentro de um estilo de vida baseado nos valores passageiros da sociedade moderna.

“Bolero de Ravel” – este poema tem como mote “Bolero”, a obra mais famosa do compositor e pianista francês Maurice Ravel (1875-1937). Ravel compôs essa música como um simples exercício de orquestração, sendo construída em um ritmo invariável e numa melodia uniforme e repetitiva. A única sensação de mudança que temos se dá por uma mudança na intensidade dos instrumentos em determinadas partes da música. Essas características da obra aparecem no poema de Drummond através de referências como “espiral de desejo”, “infinita, infinitamente” e “círculo ardente”. O poema ganha significado através do contraste entre uma “alma cativa e obcecada”, e um “aéreo objeto”. Esta alma, que por não tocar jamais seu objeto de desejo (por isso “aéreo”), está presa num círculo infinito de “desejo e melancolia”. Assim, “nossa vida” está presa nesse “círculo ardente” do desejo, numa dança infinita, onde os tambores servem para abafar a verdade de que o Imperador (o “desejo”, ou aquele que impõe o objeto de desejo) na realidade está morto.

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“La Possession du Monde” – Georges Duhamel foi um escritor francês que durante a década de 1930 e 1940 viajou pelo mundo divulgando a língua e a cultura francesa, além da ideia de construir uma civilização mais baseada no “coração humano” do que no avanço tecnológico. Tendo isso em mente, podemos pensar que este poema trata de questões como as qualidades da ética num mundo denegrido por um avanço técnico-econômico megalomaníaco e as relações secretas que ligam o desejo, o gozo (obtenção do objeto de desejo) e o “sentimento do mundo”, uma vez que a personagem do poema desdenha da “erudita dissertação científica” ao preferir pedir a fruta amarela engraçada (“ce cocasse fruit jaune”).

“Mãos Dadas” – este, que é um dos mais emblemáticos poemas de Drummond, tem como eixo central o fazer poético e sua relação com o mundo, seu compromisso com o outro. O poeta deixa claro seu novo sentimento e a direção que sua poesia irá tomar ao declarar que não será “o poeta de um mundo caduco”, ou seja, alienado da realidade presente (“O presente é a minha matéria”). Embora seus companheiros estejam tristes e calados, nutrem esperanças de dias melhores e o poeta se solidariza com eles.

“Dentaduras Duplas” – tido como um dos poemas do indivíduo mais extraordinários feitos por Drummond, “Dentaduras Duplas” trata de um tema que percorre toda a história da poesia: o envelhecer. Aqui, o “eu” se questiona e questiona a vida de modo mais universal, não isolado e individualista como nos livros anteriores. O poema é quase todo composto nem versos pentassílabos, em uma construção rítmica onde uma palavra puxa a outra. Seu final resume em uma metáfora irônica o apetite do tempo: “mastigando lestas/e indiferentes/a carne da vida!”.

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“Elegia 1938” – neste poema Drummond parece utilizar a segunda pessoa do singular, “tu”, como se falasse consigo mesmo. Este desdobramento do eu-lírico em uma outra pessoa aparece diversas vezes em Sentimento do Mundo, como se o poeta precisasse de uma referência externa mais séria (embora muitas vezes irônica) para conseguir analisar a realidade a sua volta, que parece tão errada.

“Mundo Grande” – as ruas, espaço público onde os problemas e conflitos sociais e políticos se mostram de modo mais evidente, aparecem claramente em contraposição à alienação de uma classe privilegiada que se encontra protegia dentro de espaços fechados: “Fecha os olhos e esquece. Escuta a água nos vidros,/tão calma. Não anuncia nada”. Ao utilizar nessa passagem a terceira pessoa (“fecha”, “escuta”), o eu-lírico está se desdobrando numa outra pessoa, encenando assim um conflito de sentimentos e posições morais.

Comentário do professor
Para a professora Cristine Barros, do Cursinho da Poli, o melhor é ler Sentimento do Mundo aos poucos. Por se tratar de uma obra poética, para poder entender o livro como um todo, deve-se ler os poemas com calma e pensar bastante sobre cada um. O ideal é ler um texto por dia e não se apressar.
Outra dica é prestar atenção ao poema de abertura “Sentimento do mundo”, que dá o tema de todo o livro, sendo importante meditar bastante sobre ele. Outros poemas que merecem destaque são “Mãos dadas” e “Elegia 1938”.

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Ao ler os poemas, é preciso ter em mente que Drummond foi um poeta com tendências esquerdistas e que ele tratava muito de questões filosóficas e existencialistas. Além disso, o aluno deve saber identificar as figuras de linguagem e outras questões estéticas e técnicas empregadas pelo autor. Assim, pode-se entender melhor os poemas e a obra como um todo.

Por fim, a professora ainda destaca: “é importante saber relacionar Sentimento do Mundo com outras obras pedidas pelo vestibular. Por se tratar de uma obra com forte cunho social e tendências de esquerda, pode-se relacioná-la aos livros de Jorge Amado (Capitães de Areia) e Graciliano Ramos (Vidas Secas), dois escritores com ideias de esquerda e que trabalharam muito questões sociais em seus livros”, explica.

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