O canal Cut Video publicou essa semana no YouTube um vídeo sobre como o padrão de beleza mudou no Irã ao longo dos últimos 100 anos. O episódio faz parte da série 100 Years of Beauty (100 Anos de Beleza). Em menos de 1 minuto e 30 segundos uma modelo é maquiada e vestida – de acordo com pesquisas históricas feitas pela equipe – para retratar como cada época encarava o ideal de beleza das mulheres iranianas.
A escolha pelo país é genial do ponto de vista da História! Você vai assistir e vai perceber uma grande mudança dos anos 1930 até a década de 1980. Mas, antes de comentar o vídeo, vale a pena relembrar um pouco da história do Irã para entender as transformações pela qual a modelo passou.
O território do Irã já abrigou diversas civilizações antigas, com maior destaque para o Império Persa, fundado em 539 a.C, por Ciro, o Grande. A conquista árabe, em 642, mudaria para sempre a história do país. A religião tradicional persa, o zoroastrismo, foi reprimida e substituída oficialmente pelo islamismo.
A Dinastia Kajar, formada por uma família real iraniana de ascendência turca, dominou e governou a Pérsia (como era chamado o Irã antes de 1935) até o golpe de 1921, em que o general Reza Khan, então primeiro-ministro do país, assumiu o trono e se tornou Reza Xá Pahlevi (“xá” é uma palavra persa que pode ser traduzida como “rei”). Ele estabeleceu uma monarquia constitucional no país. Seu governo ficou conhecido por estabelecer um movimento de modernização e ocidentalização do país, atitude questionada por muitas pessoas, já que a região é praticamente um mosaico de culturas e etnias. No entanto, em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, precisou abdicar do trono em favor do filho Mohammed Reza Pahlevi, após o Irã ser ocupado pela União Soviética e pelo Reino Unido. Os dois países já exerciam grande influência na região desde 1907, mas decidiram ocupar a região depois de perceberem uma certa simpatia do xá pelo nazismo (o que colocaria em risco o abastecimento de petróleo dessas duas potências).
Em 1978, a crise econômica, a corrupção e a aproximação do Irã com o Ocidente aumentaram a insatisfação com o xá. Os opositores (entre eles esquerdistas, liberais e muçulmanos tradicionalistas), uniram-se sob a liderança do religioso aiatolá Khomeini. O movimento de insurreição da população contra Reza Pahlevi ficou conhecido como Revolução Islâmica e implantou uma república islâmica no Irã.
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Agora, alguns destaques sobre o vídeo. Durante os anos 1910, as mulheres ainda usavam o hijab, vestimenta usada no mundo muçulmano que deixa o rosto descoberto e cobre apenas os cabelos e o colo.
O visual das mulheres começa a mudar com a abertura do país e a agitação política durante a década de 1920, até que o hijab passa a ser proibido no governo monárquico. O xá Reza Pahlevi, em 1936, deu ordens para seus guardas arrancarem à força os véus das cabeças de mulheres em público.
Para esconder parte dos cabelos, algumas mulheres optavam pelos chapéus, que estavam na moda na época em países ocidentais. A partir dessa década, até 1980, o estilo das mulheres iranianas acompanhou o estilo ocidental de arrumar os cabelos e de se maquiar.
Foi no fim da década de 1970 e início da década de 1980 que o véu começou a ser usado por parte dos manifestantes como um protesto contra o xá. O problema é que mesmo quem não queria usar a vestimenta cobrindo o corpo passou a ser obrigada a isso, após decreto do aiatolá Khomeini em 1983. As mulheres também tiveram sua liberdade cerceada no espaço público e foram proibidas de atuar na maioria das carreiras como Direito, Medicina e Engenharia.
O trecho do vídeo abaixo representa o “Movimento Verde”, como ficou conhecida a série de manifestações contra a eleição de Mahmoud Ahmadinejad para presidente em 2009. O candidato de oposição Houssein Mousavi alegou fraude e as pessoas foram às ruas para protestar, com a cor verde – usada na campanha de Mousavi – em bandeiras e no rosto. A repressão da polícia matou mais de 70 pessoas e prendeu outras 4 mil.
Uma versão masculina do vídeo será divulgada em breve, segundo o canal.
Para quem quer saber mais sobre a história do Irã, uma dica são os quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi, autora da série Persépolis. A história foi adaptada para o cinema em 2007 e foi indicada ao Oscar de Melhor Animação.