Você não precisa de uma mesa de estudos perfeita para estudar
Tablets caros, mouse sem fio, canetas de todas as cores e formatos, cadernos personalizados: será que precisamos de tudo isso para passar no vestibular?
Canetas de todos os tipos e cores possíveis, um notebook com um processador invejável, um apoio para esse notebook, um monitor com tela 4K, um tablet de última geração (com uma caneta touch acompanhada), uma luminária que pode reproduzir qualquer cor RGB, um teclado mecânico personalizado, um apoio para os pulsos, um mouse ergonômico, um estojo que cabe tudo e mais um pouco, um caderno inteligente com folhas pautadas e outro com folhas não-pautadas. As opções para equipar uma perfeita mesa de estudos parece infinita. Mas será que precisamos de tudo isso mesmo para estudar?
Os chamados “studygram” e “studytok” são verdadeiros nichos de conteúdo no Instagram e no TikTok em que o protagonista é, ninguém mais ninguém menos, que os estudos.
Dentro deste universo, há os usuários que compartilham sua rotina, outros que dão dicas e técnicas de redação, ou ainda os que criam um perfil apenas para se motivar a estudar. Até aí, tudo certo. Inclusive, aqui no GUIA DO ESTUDANTE, já conversamos com vários vestibulandos que criaram um studygram ou studytok durante o ano de vestibular para se conectar com outros estudantes e tiveram bons resultados.
O problema começa quando o ato de estudar passa, digamos, por uma “gourmetização” – sobretudo, o local de estudos. Vídeos que viralizam ao mostrar infinitas coleções de canetas, tablets que substituem cadernos, mesas que se adaptam à altura desejável. Os vídeos de “desk setups”, como são conhecidos, parecem inofensivos e são até estimulantes de assistir. Mas podem despertar em muitos estudantes uma comparação involuntária que, em ano de vestibular, entre tantas outras pressões, não é bem-vinda.
Começar a achar que só se terá um bom desempenho nas provas quando tiver o caderno X, o computador Y, ou o tablet Z pode se tornar um caminho sem volta. E quando se menos espera, o estudante se torna mais preocupado em deixar a mesa de estudos “instagramável” do que em um ambiente funcional e prático para se estudar. É como se a produtividade estivesse diretamente atrelada a itens de consumo e, sem eles, se torna impossível ter o mesmo desempenho ou a mesma dedicação nos estudos.
Lorena Hernandes Conde, psicóloga escolar do curso Anglo, explica que o ano de vestibular é um momento especialmente sensível para esse sentimento, muito por conta da incerteza que o período desperta. É recorrente os alunos saírem do Ensino Médio sentindo que não sabem estudar, ou que nunca aprenderam a ter uma sessão de estudo independente e produtiva. Essa sensação pode os tornar mais suscetíveis a fazer esse tipo de associação com itens de consumo.
“Em um primeiro momento pode trazer segurança ao aluno acompanhar a rotina desses influenciadores, porque ocorre uma aproximação, uma identificação”, diz. “No entanto, como sabemos, as redes sociais trazem somente um recorte da vida dos influenciadores e, por conta disso, podem gerar frustrações, angústias e ansiedade nos alunos que não conseguem alcançar essa rotina ‘ideal’ de estudos”.
A questão pode parecer superficial de início, mas inclui uma série de agravantes que, juntos, podem se tornar um grande problema. Ao associar que só será possível estudar quando se tiver todos os objetos de um “desk setup perfeito”, o estudante não apenas cria uma armadilha para si mesmo como corre o risco de desenvolver um falso sentimento de produtividade somente por ter esses produtos. Afinal, ter um tablet de última geração não é o que garante uma vaga na universidade.
Não estamos dizendo que é errado ter uma luminária adequada, uma caneta diferente, ou um computador de alta capacidade. E muito menos assistir esses tipos de conteúdos. Inclusive, seria hipócrita da parte do repórter, que, neste exato momento escreve esse texto em um notebook conectado a um monitor 4K, um teclado sem fio e um fone de ouvido com cancelamento de ruído. Há uma diferença, no entanto, entre ter itens que facilitam o dia a dia e se tornar escravo de tendências ou estímulos consumistas que as redes sociais fazem.
O que estamos dizendo é que você não precisa disso tudo para estudar. Assim como não existe um “desk setup perfeito”, não existe a necessidade de os seus estudos seguirem a moda. Lorena reitera que o importante na hora de montar um ambiente ou mesa de estudos é criar um local onde você se sinta à vontade, onde há funcionalidade e praticidade. E isso vai depender única e exclusivamente de cada um. A comparação, ainda mais associada a toques de consumismo, é um dos sentimentos mais tóxicos para um vestibulando.
“É importante para o estudante lembrar a trajetória que ele construiu, tudo que ele fez até agora – que é tão grandioso quanto o que os outros estão fazendo”, aconselha. “Quando vierem esses sentimentos, que ele lembre da sua construção, de tudo que ele almeja e das metas que tem.”
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