Extrema-direita: Bolsonaro se encontrou com uma nazista?
Entenda quem é a deputada Beatrix von Storch e a atuação do partido Alternativa para Alemanha (AfD)
Causou indignação em diferentes setores o encontro do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com a vice-líder do partido Alternativa para Alemanha (AfD), agremiação de extrema direita. Beatrix von Storch é deputada federal – ou seja, membro do Bundestag, o Parlamento Alemão – e neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Adolf Hitler.
Em sua passagem pelo Brasil, Beatrix tirou fotos também com Eduardo Bolsonaro e BiaKicis, ambos deputados federais pelo PSL. Os encontros levaram a notas críticas tanto do Museu do Holocausto, na Alemanha, quanto de parte da comunidade judaica no Brasil.
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Quem é Beatrix?
Além de descendente de um ex-ministro de Adolf Hitler, a deputada vem de uma família aristocrática e já representou seu partido no Parlamento Europeu, que reúne representantes dos países que fazem parte da União Europeia, apesar de sua oposição eurocética.
O que pensa a deputada
Beatrix considerou o presidente Bolsonaro “bem-humorado” e tem um histórico de declarações semelhante a outros líderes da extrema-direita, como Donald Trump. A deputada já afirmou que os homens árabes eram estupradores, disse que a polícia deveria atirar contra imigrantes ilegais, posiciona-se como opositora das pautas ambientais e da União Europeia.
A deputada é tida como conservadora mesmo dento do AfD. Ela é uma das responsáveis pela guinada conservadora da agremiação e sua aproximação com ideias do nazismo.
Alternativa para a Alemanha (AfD)
O partido AfD de extrema-direita foi criado em 2013. Até 2017 era uma célula de pouca relevância no sistema partidário alemão. Naquele ano que se seguiu ao Brexit, todavia, a agremiação conseguiu entrar no Parlamento alemão por meio do voto – abalando o sistema que buscou se proteger da extrema-direita após o fim da Segunda Guerra.
Seu caráter nacionalista e conservador foi se radicalizando ao longo dos anos. Segundo a Deustche Welle, hoje o partido é “um guarda-chuva para diferentes grupos de ultradireita da Alemanha, como arquiconservadores, fundamentalistas cristãos e ultranacionalistas.
Muitos membros também são acusados regularmente de nutrir simpatias pelo nazismo e de minimizar os crimes cometidos pelo Terceiro Reich. O partido teve também uma postura negacionista com relação à pandemia.
Afinal, o AfD é um partido nazista?
As comparações entre os anos 1920-30 – que marcaram a ascensão do nazifascismo na Europa – e os anos 2010 têm movido historiadores e cientistas políticos no mundo todo.
O termo “nazista” e mesmo “fascista” para designar líderes e agremiações contemporâneas, sobretudo no primeiro caso, pode soar impreciso, diante do fato de serem circunstâncias históricas distintas.
Há também quem considere que, diante do horror do nazismo alemão e do fascismo italiano, não se deva utilizar o termo senão para aquela experiência histórica. Há uma gama de conceitos – como “nacionalismo xenófobo”, “ultradireita”, “populismo autoritário” – que buscam dar conta de tais líderes e partidos.
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E que nome deve-se usar?
Mais importante do que nomear é compreender como esses líderes políticos e partidos funcionam.
Em geral sua estratégia passa pela criminalização da política e do sistema eleitoral-representativo, o conservadorismo moral e de caráter religioso, a disseminação do ódio, a comunicação direta com seus eleitores e o estabelecimento de um inimigo (ou mais), em geral representado por algum grupo social.
Esse “inimigo” pode ser tanto étnico – como os árabes, hoje o grupo mais perseguido na Europa – quando pertencente a uma minoria política, como a população LGBTQIA+, perseguida na Polônia e na Hungria.
Mas… não podemos tratar os casos particulares como representantes do todo. A extrema-direita contemporânea tem várias ramificações e diferenças, de acordo com as condições de cada país.
Por exemplo, a Reunião Nacional (antiga Frente Nacional) da França tem um programa econômico à esquerda – enquanto, no caso brasileiro, o programa econômico é de caráter liberal.
No caso europeu, há também casos de partidos e líderes que se opõem à UE – como a AfD e outros que deixaram de fazer oposição à UE depois de toda confusão do Brexit – caso da Reunião Nacional.
Fontes:
Era dos Extremos(Companhia das Letras), de Eric Hobsbawm
Como as democracias morrem(Zahar), de Daniel Ziblatt e Steven Levistky
A grande regressão: um debate internacional sobre os novos populismos e como enfrentá-los(Estação Liberdade), Heinrich Geiselberger (organizador)