Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (7) pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) colocou em números o impacto que a guerra às drogas tem na educação das crianças cariocas. Em 2019, ano que precedeu a pandemia, 74% das escolas municipais do Rio de Janeiro vivenciaram ao menos um tiroteio em seu entorno. Uma parte delas (20,1%) passou por mais de 21 tiroteiros neste período. Além da violência do lado de fora dos muros, essas escolas também também guardavam uma semelhança dentro das salas: a maioria de seus estudantes eram negros (77%).
O estudo, intitulado “Tiros no Futuro: impactos da guerra às drogas na rede municipal de educação do Rio de Janeiro“, comparou os dados do Instituto Fogo Cruzado aos do Censo Escolar, do Sistema de Avaliação da Educação Básica e do Sistema de Gestão Acadêmica da Secretaria Municipal de Educação com o intuito de mensurar os efeitos que estes tiroteios tiveram – ou ainda terão – na trajetória daqueles estudantes. A redução nos índices de aprendizado é um dos impactos mais imediatos.
Comparando dados de escolas com mesmo perfil, mas expostas a níveis diferentes de violência, o estudo concluiu que o contato frequente com tiroteios pode resultar em uma perda de até 64% do aprendizado em Língua Portuguesa. Tiroteios e a presença ostensiva de agentes de segurança resultam ainda em reprovação (2,09%) e em abandono escolar.
Os relatos feitos por diretores à Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro também evidenciam as implicações da violência na rotina escolar. “Presença de blindados nas proximidades da unidade, tiroteio intenso e ouvimos, também, muitas bombas. Sem condições de funcionamento”, registrou um destes diretores no sistema.
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Para além dos danos imediatos, o estudo deixa um alerta para os riscos futuros. Escolas cercadas por trocas de tiros interferem na renda futura e até na mobilidade social dos estudantes. “Esse jovem, ao concorrer a uma vaga no Sisu, já está em desvantagem em relação a outros alunos também do ensino público, pelo fato de ter a aprendizagem comprometida pela guerra às drogas desde a infância. Essa diferença se perpetua na vida produtiva do cidadão, reduzindo a oportunidade de geração de renda. Estamos falando da manutenção da desigualdade e estagnação de mobilidade social como reflexos diretos da ação do Estado”, afirmou Julita Lemgruber, coordenadora do estudo, em entrevista à Agência Brasil.