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5 lições sobre carreira de uma mulher que trabalhou na ONU

Jacqueline Tsuma trocou o Quênia pela Alemanha e explica a importância da proatividade na hora de conseguir boas oportunidades

Por Na Prática
6 fev 2017, 18h36
Sede europeia das Nações Unidas em Genebra, na Suíça (Foto: iStock) (/)
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Formada em Ciência da Computação pela Universidade de Nairóbi, no Quênia, Jacqueline Tsuma sempre quis ter uma carreira de impacto social que envolvesse relações internacionais – e a Organização das Nações Unidas (ONU) parecia o lugar perfeito para isso.

Para chegar lá, Tsuma se mudou em 2007 para a Alemanha, onde fez mestrado e atualmente estuda para obter seu doutorado. Além de empreender na área digital, ela hoje trabalha na Unep, a agência de meio ambiente da organização, e já passou por diversas outras no caminho.

Em uma postagem no LinkedIn, Tsuma explica o que aprendeu sobre proatividade, liderança feminina e autoconhecimento ao longo de sua trajetória.

Confira abaixo a tradução do Na Prática:

Uma carreira na ONU

Lição 1: Se não estiver funcionando, siga em frente

Em 2006, eu trabalhava há três anos em uma startup no Quênia e amei os primeiros dois anos. Era muito divertido e eu fazia parte de uma equipe que tinha grande impacto na vida das pessoas. Mas naquele terceiro ano, eu estava pronta para testar algo diferente.

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Não queria mais dinheiro. Queria mais responsabilidade, mais autonomia, mais da sensação de que fazia a diferença. E como ficar ali não me traria dinheiro extra para pagar minha pós-graduação, as coisas não pareciam boas.

Um lado ruim de ser idealista é que as coisas envelhecem rápido. Sei que nem tudo que eu fizer vai ser luz e sol. Mas já que estou atrás da utopia, se não puder tê-la, que pelo menos ache significado no meu trabalho.

É parcialmente por isso que empreendo hoje. Espero continuar motivada pelos valores corretos e não acordar um dia pensando onde deixei meu sonho.

Então entreguei meu pedido de demissão e não tinha nada logo em seguida. Todos acharam que eu estava maluca. Já se questionavam há anos porque eu ficava em um emprego que pagava menos. Mas agora realmente não me entendiam. Um salário é melhor que salário nenhum, eles diziam. Um sonho não põe comida na mesa, eles diziam. Protegi meu território em nome dos sonhadores do mundo.

O que aprendi: quando ficamos num trabalho que lentamente suga nossas vidas, estamos essencialmente nos desvalorizando. E verdade seja dita, isso transparece no trabalho. Você vale mais que isso.

Lição 2: Se não tem certeza do que quer fazer com sua vida, faça um estágio

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Depois que me demiti, peguei o próximo vôo. Cinco meses, um visto, uma matrícula numa escola de idiomas e 8 mil euros arrecadados depois, pousei na Alemanha. Era um dia frio de novembro.

Estava ainda me acomodando e meu objetivo principal era começar meu mestrado. E por alguns meses me achei no limbo, um período antes do início das minhas aulas e estudos. A distração perfeita? Um estágio.

Amei o primeiro lugar em que estagiei, o escritório da UNESCO em Bonn. Sou eternamente grata à minha supervisora, mas claro que trabalhei duro! Não só porque eu podia – estava solteira e podia passar horas muito longas no escritório –, mas porque ganhei responsabilidades assim que cheguei.

O que aprendi: você não tem certeza sobre o que quer fazer e ainda tem espaço em sua vida? Então candidate-se ao primeiro estágio que encontrar! Pontos extras se for em uma área que lhe interessa.

Se for numa organização pequena, melhor ainda porque é um ponto-chave para conseguir o maior número de experiências práticas possível. Encontrar o que você não gosta de fazer é tão importante quanto encontrar o que você gosta. Melhor tirar tudo do caminho ainda no começo.

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Lição 3: Mesmo sem salário, trabalhe como se fosse o CEO

Coloquei tudo que tinha em mim naqueles quatro meses de estágio. Lá pela metade, minha chefe me chamou para conversar e disse que adoraria me ter de volta como consultora porque ela gostava do meu trabalho.

O que aprendi: CEOs não ganham hora extra, é parte do trabalho. Seus gerentes também não. Então trabalhe como se houvesse hora extra e mostre que seu trabalho contribui significativamente para a empresa, mesmo se for estagiário.

Lição 4: Conheça (ou estude) o mundo

Lá estava eu, recém-contratada como consultora e já ganhando duas vezes mais do que em meu emprego anterior. Ao fim de meu período na Europa, eu já ganhava cerca de 10 vezes mais em comparação ao meu primeiro salário.

Talvez o mestrado tenha algo a ver com isso. Mas digo que, se você quer trabalhar com desenvolvimento internacional, obtenha um mestrado ou um doutorado se puder. É algo que coloca seu pé na porta.

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Mas o que vai mantê-lo lá é sua filosofia de trabalho, sua capacidade de trabalhar em equipe e sua inteligência emocional.

A mudança para outro país expandiu minha visão de mundo. Me tornei mais inteligente culturalmente e academicamente, capaz de fazer o que eu queria fazer.

O que aprendi: saia de sua zona de conforto, passe um ano fora, interaja com outras culturas de igual para igual. Isso pode aumentar salário dez vezes ou simplesmente torná-lo uma pessoa melhor graças à experiência. De qualquer jeito, você sai ganhando.

Lição 5: Pode ser difícil ser mulher no mundo dos homens

Sei que, como mulher no mundo corporativo ou em desenvolvimento, há coisas que posso fazer para me autosabotar. Mas o que aconteceu depois que tive minha primeira filha não foi autosabotagem. É simplesmente mais difícil ser mulher.

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Eu já estava em meu segundo emprego na ONU, tinha um contrato mais estável, um marido e meu primeiro filho. E as coisas começaram a ficar esquisitas quando anunciei que estava grávida.

Preciso elogiar as políticas de maternidade ONU, que permitem que mães tirem licença remunerada por dezesseis semanas e, quando elas voltam a trabalhar, oferecem até duas horas por dia para que amamentem seus bebês. Esse tempo é oferecido durante todo o primeiro ano de vida da criança.

Em minha ingenuidade, assumi que era literalmente assim que funcionava e informou meu chefe que gostaria de sair mais cedo para usar aquelas duas horas.

Lembre-se que eu tinha acabado de voltar de uma licença de dezesseis semanas. Ele não transpareceu que aquilo seria um problema, mas eu deveria ter percebido. Ele já devia estar furioso por dentro.

A partir dali, minha relação profissional entrou em uma espiral negativa. No fim, perdi meu contrato por falta de performance, o que era besteira. Lembra quando falei sobre empregos que sugam sua vida? Em retrospecto, percebi que a verdadeira razão para minha saída era porque eu era mulher, negra e, para completar, tinha ficado grávida.

Ao invés de aproveitar a maternidade, sentia como se fosse uma inconveniência terrível para meu chefe. Ignorei essa pessoa negativa, comecei a procurar emprego e consegui um três semanas antes do fim do meu contrato.

E esse novo emprego também veio através de um estágio. Encontrei um anúncio de estágio em uma área que eu amava, subi as escadas até chegar em outra organização da ONU no mesmo prédio e conversei com o chefe de TI de lá.

Ele prontamente decidiu que arranjaria fundos para me ter em tempo integral e fez acontecer. Ele e um outro gerente em meu trabalho anterior restauraram minha fé nos homens – sei que é injusto, mas esse é o problema com a discriminação: todo mundo parece ruim quando, na verdade, poucos são.

Superei essa desconfiança desde então e nunca mais senti aquele nível de discriminação. Planejo me manter assim.

 

Este artigo foi originalmente publicado por Na Prática, portal da Fundação Estudar

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