“Uma mão amiga para quem se encontra em uma situação de falta de esperança”. É assim que Thayane Brandão, de 26 anos, enxerga a Fisioterapia.
Fisioterapeuta com atuação em reabilitação neurofuncional e respiratória no adulto e pediatria, viu sua profissão – muitas vezes diminuída apenas a cuidados de ossos e músculos em consultórios – aparecer na linha de frente do combate à covid-19, tratando desde as complicações respiratórias até as diversas sequelas deixadas pela doença.
No cenário atual, Thayane vem trabalhando com recuperação pós-covid e particularidades neurológicas subsequentes. Ela explica que a Fisioterapia Neurofuncional é uma especialidade que atua na prevenção e recuperação de doenças associadas ao sistema nervoso. Como recuperar uma função que foi perdida em consequência de doenças como Parkinson ou por AVC, lesão medular, traumatismos cranianos, polineuropatias.
“Quando se trata de um acometimento temporário, trabalharemos com diversos tipos de exercício para reativar aquela rede nervosa para que, aos poucos, ela volte a recuperar aquela função. Se através da avaliação identificarmos que a lesão foi completa e a pessoa não terá como recuperar aquele movimento, trabalharemos a adaptação dela ao ambiente”, explica a profissional.
No caso do coronavírus, a fisioterapeuta aponta que, além da reabilitação nas funções respiratória e motora, já existem estudos que abordam como o vírus pode ter ação no sistema nervoso.
Ela conta que equipes médicas já têm realizado o mapeamento da relação do coronavírus com AVCs nas formas mais graves da doença. “Quando isso acontece, é importante a reabilitação específica também nesta área, uma vez que os prejuízos psicomotores podem permanecer por muito tempo. Assim, nossa conduta permanece a mesma, recuperar as funções perdidas e trabalhar para que o paciente tenha uma boa qualidade de vida”, diz Brandão.
No hospital
Thayane tem contribuído, em domicílio ou no ambulatório, com a reabilitação de pacientes que tiveram a doença. A fisioterapeuta Renata Negri Sapata tem experiência no atendimento hospitalar – tanto na terapia intensiva como nas unidades de internação. Ela é coordenadora do serviço de fisioterapia da Unidade Vergueiro, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Ela diz que a fisioterapia sempre atuou dentro do hospital, mas que, com a pandemia, as demandas cresceram. O começo foi conturbado, por causa do pouco conhecimento sobre a nova doença, mas ao decorrer dos meses, os profissionais foram entendendo melhor e encontrando maneiras de lidar com a situação, conta a especialista.
Onde Renata trabalha, por exemplo, foi criada uma unidade para atender unicamente pacientes em readaptação depois do coronavírus. Cerca de 35 fisioterapeutas dão suporte nesses casos, em um trabalho em conjunto com outras áreas da saúde – Medicina, Enfermagem, Nutrição e Fonoaudiologia.
Lá eles fazem toda a readaptação. Durante a dura recuperação, muitas vezes, o paciente perde massa muscular – há casos em que perde a capacidade de caminhar sozinho, por exemplo – e a respiração também fica comprometida. “É preciso avaliar e pensar no corpo todo do paciente, a parte motora, respiratória, assim podemos tratar para ele voltar para a casa melhor e mais independente”, afirma Renata.
Para além de exercícios, o fisioterapeuta também atua no diálogo com família e paciente. Muitas vezes, depois da alta, o paciente ainda tem dificuldades de locomoção, por exemplo, e precisa de orientações. “Abordamos as necessidades do paciente ao voltar para casa, como criar um ambiente adaptado, ou se é preciso um profissional atuando junto em casa”.
Na UTI, os fisioterapeutas atuam na oxigenoterapia, utilização de oxigênio em tratamentos médicos, elevando ou mantendo a oxigenação do sangue acima de 90%. Profissionais com especialização cardiorrespiratória fazem a manipulação do equipamento de ventilação mecânica, invasiva ou não. Junto com médicos e equipe, fazem avaliações para ver como o paciente está e se é possível fazer o “desmame” de oxigênio, que é processo de transição da ventilação artificial para a espontânea, quando o paciente já está melhor.
O fisioterapeuta trabalha 30 horas semanais no hospital, incluindo plantões noturnos e nos fins de semana. Há a atuação desses profissionais 24 horas na área hospitalar. Apesar da rotina cansativa e dos desafios da pandemia, Renata conta como é gratificante acompanhar a melhora dos pacientes desde a fase mais crítica da internação até o período de alta: “Quando fica tudo bem, fazemos festa, comemoramos, os pacientes são guerreiros”.
Fisioterapeutas Sem Fronteiras
Em abril do ano passado, com a pandemia se alastrando, a fisioterapeuta Claudia Dutkiewcz precisou fechar seu consultório por medidas de segurança e isolamento social. Após 20 anos de experiência na área, ficou “cheia de conhecimento na gaveta e no meio do caos”. Disso, nasceu o projeto filantrópico Fisioterapia Sem Fronteiras Covid-19.
Por meio do teleatendimento, regulamentado durante a pandemia, cerca de 200 fisioterapeutas já se juntaram a ela para cuidar de pacientes com sequelas motoras e respiratórias decorrentes do coronavírus. Dentro de casa, acompanhado de um familiar, o paciente faz o tratamento de acordo com a orientação do fisioterapeuta do outro lado da tela. Usando a arte do improviso, o cabo de vassoura, o saco de feijão viram instrumentos para os exercícios de reabilitação. O projeto já coleciona 4 mil atendimentos gratuitos realizados em todo o país.
Aqueles que precisam tratar das sequelas da doença, mas não têm condições financeiras (ainda mais depois da crise ampliada pela pandemia), podem requisitar o tratamento gratuito nas redes sociais do projeto – tanto Instagram como Facebook. É feita uma avaliação para entender o quadro e as necessidades do paciente. De acordo com a divisão de graus de complexidade, o profissional consegue estabelecer o número de sessões necessário.
Claudia faz questão de deixar bem claro: “o toque fisioterapêutico é insubstituível”. Ela lembra que começar a realizar o atendimento à distância foi um desafio enorme. “Mas eu tinha duas situações na minha mão, fazer nada ou ajudar dentro do que eu podia”, conta. Ela, então, depois de cinco meses, tem como recompensa as altas de vários de seus pacientes.
A pouca visibilidade
O podcast Fisio e TO, feito pela Crefito-3 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 3ª Região), coloca em debate a pouca visibilidade dada aos fisioterapeutas que atuam nas UTIs, no contexto da pandemia da covid-19, em comparação ao destaque dado pela imprensa aos demais membros da equipe que estão na linha de frente da assistência.
Apesar de, muitas vezes, não ter o reconhecimento merecido, Thayane, Renata e Claudia acreditam que a atuação da Fisioterapia no combate à covid-19 colocou a profissão em evidência e vai fazer com que mais gente entenda a sua grande importância.
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