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Empreendedorismo social: fazendo carreira em mudar o mundo

Ter um impacto positivo no mundo ao construir um negócio economicamente sustentável é possível em qualquer área de atuação. Saiba como

Por Letícia Albuquerque
Atualizado em 20 out 2020, 12h19 - Publicado em 20 out 2020, 12h18

As transformações sociais e ambientais têm se tornado um tema importante para o mundo dos negócios. A sociedade está começando a enxergar as mudanças como uma responsabilidade coletiva, e grandes empresas estão vendo a importância de se engajar na solução dos nossos grandes problemas. Mas, para o empreendedorismo social, projetos que promovem mudanças positivas não devem ser apenas um departamento dentro uma companhia. E, sim, a parte principal do modelo de negócio de uma empresa. 

Em um relatório apresentado pela Fundação Schwab, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, o Brasil está entre os 10 países com mais empreendimentos sociais. A análise constatou ainda que, nos últimos 20 anos, 622 milhões de pessoas foram impactadas positivamente. Sendo que mais de U$ 6 bilhões foram distribuídos por projetos desse setor. Segundo o fundador da organização sem fins lucrativos, Klaus Schwab, “empreendedores sociais são pioneiros em abordagens mais sustentáveis e inclusivas para modelos de negócios”.

O que é empreendedorismo social?

É muito comum ouvirmos sobre a responsabilidade social das empresas. Mas o movimento do empreendedorismo social é um pouco diferente. De acordo com o livro A Era do Impacto, de James Marins, fundador do Instituto Legado, qualquer empreendedorismo é formado por duas dimensões: a atitude empreendedora e a tecnologia, que está aliada à inovação. 

Para os negócios de impacto, ambas são extremamente importantes, mas devem ainda levar em conta um propósito. Essa é a grande chave. Segundo a coordenadora educacional do Instituto Legado, Daniela Nunes, “quando você encontra um problema que gera um movimento de insatisfação interno, consegue criar esse propósito que vai gerar o empreendedorismo social”.

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O objetivo, então, deve sempre estar associado à transformação social ou ambiental do seu entorno. Esse trabalho é comumente associado ao Terceiro Setor (ocupado por organizações sem fins lucrativos e da sociedade civil, por exemplo). A diferença é que o empreendedorismo social gera lucro. Daniela explica que essa área pensa em formas de usar a lógica capitalista para gerar as mudanças na sociedade. 

Esse tipo de negócio é considerado um misto entre o segundo setor, representado pelas empresas tradicionais, que visam ao lucro, e o terceiro setor, formado por ONGs e associações, que visam apenas às questões sociais. Por isso, também é conhecido como 2.5.

“Essa é uma parte disruptiva da discussão. Toda vez que se discutem mudanças sociais, existe um certo preconceito quanto ao lucro. Mas nada se sustenta sem dinheiro no modelo econômico que vivemos”, conclui Daniela.

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Já o setor de responsabilidade social das empresas tem se tornado popular em diversos modelos de negócios. Ainda que eles sejam importantes por dar visibilidade a causas e gerar captação de recurso, existem críticas ao modelo. Para a coordenadora do Instituto, é importante que a responsabilidade social não fique engessada em ações pontuais. Mas que faça parte de todas as decisões e minimize os impactos negativos causados pela empresa. 

Como surgem os negócios de impacto social

O empreendedorismo social não se reduz a uma área profissional específica. Pelo contrário, ele é uma forma de administrar uma empresa. Por isso, pode ser adequado a todas as carreiras e surgir dos campos mais improváveis possíveis.

A MOL, por exemplo, é a maior editora de impacto social do mundo. O modelo inovador une produção de conteúdo em formatos como revista, livros e jogos para as mais variadas lojas, desde a rede de farmácias Droga Raia à marca de jóias Vivara, doando o lucro para ONGs parceiras. Até hoje, a MOL já doou mais de R$ 35 milhões para 81 projetos sociais. Um dos principais feitos da empresa foi contribuir com R$ 14 milhões para a construção de um novo hospital do Graac, entidade que provê tratamento contra o câncer infantil.  

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(Arquivo Editora MOL/Reprodução)

Mas ela não surgiu como uma empresa de impacto social. Na verdade, a primeira função da MOL foi como estúdio de Design, prestando serviços para agências de publicidade. Foi um pouco mais tarde que os sócios Rodrigo Pipponzi e Roberta Faria decidiram seguir o caminho das publicações socioeditoriais. “A partir do momento em que a MOL virou uma editora, já existia a vontade de ser uma empresa de impacto social”, conta Artur Louback, diretor de operações da empresa. Mas a transição foi aos poucos. Apenas um ano depois de sua criação, o primeiro projeto saiu às ruas: a revista Sorria, em parceria com a Droga Raia. Ao comprar a revista, o leitor custeia a produção do conteúdo e doa a maior parte para os projetos apoiados pela MOL.

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Artur conta que não sabe ainda se o empreendedorismo social vai tomar conta de todos os negócios. Mas que o movimento é, com certeza, contagiante. “Está mais do que provado que o mundo está doente, mas, ao mesmo tempo, existe uma geração nascendo com outra cabeça. Da mesma forma que a gente vê mudanças estruturais do ponto de vista cultural da sociedade, a mudança nessa questão do propósito vai acontecer rapidamente”, afirma o sócio da MOL.

Porém, o mercado do empreendedorismo social pode parecer assustador para quem quer mudar o mundo sem ter ainda um grande plano. Daniela tranquiliza: “eu tenho um ‘ranço’ daquela frase de que o empreendedorismo nasce de uma boa ideia, porque geralmente só as ideias grandes são consideradas ideias boas”. Como mentora de diversos projetos sociais, ela conta que, na prática, muitas ideias grandes não são viáveis no começo de um projeto. Por isso, é importante olhar ao seu redor e descobrir quais soluções podem ser postas em práticas.

“Talvez eu não tenha capacidade técnica, física e financeira para apagar o incêndio do Pantanal. Mas o que eu estou fazendo no meu bairro? O que eu estou fazendo na minha casa? Como eu começo a mudar o que está próximo da minha realidade?”, exemplifica.

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A história da pretahub, espaço de inovações, criatividade e tendências para o empreendedorismo negro, foi um pouco assim. O primeiro projeto surgiu em 2000, quando Adriana Barbosa, CEO da empresa, e uma amiga se uniram para vender roupas usadas em eventos. Entre sucessos e imprevistos, o empreendimento foi encontrando seu lugar no mundo, tornando-se o Festival Feira Preta.  Após 18 anos de existência, ele é considerado o maior evento de cultura negra da América Latina.

Trabalhando na área

Encontrar uma forma de transformar o mundo é possível independentemente da sua formação. Mas para transformar o mundo, as vivências são importantes. De acordo com Artur, pessoas com uma concepção mais ampla da sociedade e com visão crítica sobre os dilemas sociais se adaptam melhor à área. “Essa pessoa vai ser capaz de valorizar o que estamos fazendo e vai ter uma sensibilidade para tratar das questões”, afirma.

Daniela complementa que a melhor porta de entrada para reunir essa experiência é por meio do voluntariado. Eles possibilitam ter mais conhecimento sobre diferentes grupos e realidades. Ela ainda diz que o Terceiro Setor é um ambiente cheio de oportunidades: “existe um grande mercado das organizações sem fins lucrativos, as ONGs, onde é possível estagiar e trabalhar”.

Para quem sente que mudar o mundo é um trabalho quase impossível, é importante não entrar em um processo de desesperança. “O que digo é: sonhe muito e sonhe alto, mas realize pequenas aplicações práticas desse sonho. Ver essas micro realidades acontecendo é muito compensador”, finaliza a mentora de projetos sociais.

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