O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo. No Brasil, tirando os tumores de pele não melanoma, a doença na região das mamas também é a mais incidente em mulheres de todas as regiões. Apesar de representar apenas 1% do total de casos da doença, homens também podem ser vítimas desse tipo de enfermidade.
Dados como esse do Instituto Nacional do Câncer (INCA) reforçam a importância do Outubro Rosa, reservado para conscientizar sobre a prevenção e o diagnóstico precoce para combater a doença. Ainda mais este ano em que a conscientização tem mais um desafio: a pandemia. Nesse período caótico, a atenção de muitas pacientes acabou ficando voltada apenas à covid-19, deixando de lado a realização de exames, como a mamografia.
Neste mês, especialmente, além dos alertas para os sintomas e sobre os exames que devem ser feitos anualmente, é importante que sejam feitos esclarecimentos de muitas das perguntas que surgem em relação à doença, tratamento e afins.
Uma das dúvidas recorrentes é em relação ao profissional que cuida do paciente diagnosticado com câncer de mama: é o mastologista ou o oncologista? Qual é a diferença? Para explicar a questão, conversamos com o mastologista Carlos Alberto Ruiz e a oncologista clínica Taciana Mutão, ambos do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz de São Paulo.
O que cada área faz
A mastologia é a especialidade que cuida de tudo que diz respeito à mama. O mastologista faz o tratamento de doenças na mama – não só o câncer – e a reparação dela com processos cirúrgicos. No Brasil, para se especializar na área, o médico precisa fazer residência em Cirurgia Geral ou Ginecologia e Obstetrícia, com duração entre 2 e 3 anos. Para depois, realizar em dois anos a residência médica em mastologia.
O médico Carlos Ruiz aconselha que os estudantes que pensam em se tornar mastologista, além de precisar ter empatia, requisito para qualquer área da medicina, segundo ele, também precisa gostar de operar, já que é uma especialidade iminentemente cirúrgica.
Já a oncologia clínica é a área médica que estuda e prescreve tratamentos para todos os tipos de câncer. O título da especialidade é conferido depois de 2 anos de residência em clínica médica e 3 em cancerologia clínica.
Aos estudantes que pensam seguir para oncologia, Taciana Mutão ressalta que para atuar nessa especialidade é essencial acompanhar a constante atualização das pesquisas sobre a doença e os tratamentos. Além de ter em mente que a rotina de um oncologista é acompanhada de pressão, ao lidar tanto com o paciente e familiares. Há dias de resultados positivos e outros, mais tristes.
O tratamento do câncer de mama é multidisciplinar
Além da oncologia e mastologia, o tratamento do câncer de mama envolve várias especialidades que tratam da parte física e mental, como a Psicologia, Fisioterapia, Nutrição.
Na maioria das vezes, o câncer de mama é identificado em exames a pedidos de um profissional de ginecologia, que, em seguida, encaminha o paciente para um mastologista.
Para o diagnóstico da doença ser dado, a paciente precisa fazer uma biópsia – procedimento em que ocorre a retirada de um pequeno fragmento do nódulo suspeito para análise em laboratório. O mastologista vai analisar o caso de acordo com o tipo e estágio do câncer.
“Nem sempre o tratamento inicial é cirúrgico. Às vezes, é preciso diminuir o tumor antes, para que depois haja a possibilidade de fazer um procedimento cirúrgico menos radical, que tira apenas a parte da mama que está comprometida”, explica Ruiz. Nesses casos, o paciente é encaminhado para o oncologista, que prescreverá o melhor tratamento sistêmico, entre eles, a quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica.
O caminho também pode ser o oposto, o paciente ser encaminhado primeiro ao oncologista. E aí, se o tratamento inicial puder ser cirúrgico, ele encaminhará para o mastologista, que é o responsável pela cirurgia.
Ou seja, o acompanhamento de um desses profissionais específicos não anula do outro. Um mesmo paciente pode precisar do mastologista, ao fazer a retirada do tumor, e também do oncologista para lhe diagnosticar o melhor tratamento, antes ou depois da cirurgia.
Informação também é prevenção
Os dois profissionais também apontaram o papel tanto do mastologista como do oncologista para ajudar na conscientização e esclarecimento sobre o câncer de mama. Dr. Carlos alerta que, apesar da ideia do outubro rosa realizada há décadas, ainda existe muito medo e desinformação em relação ao câncer de mama. Assim, é necessário esclarecer os mitos que circulam por aí. “Já ouviu falar que desodorante ou sutiã desencadeia câncer de mama? Mentira! Outras fake news que o médico desmacara é que ‘mamografia proporciona risco de câncer de tireóide’ ou que ‘o anticoncepcional aumenta risco de câncer de mama'”, disse.
Por outro lado, a importância do diagnóstico precoce, por meio da realização de exames, precisa se espalhar mais e mais – principalmente nesse cenário de pandemia. Segundo o Ministério da Saúde, o número de mamografias realizadas pelo SUS caiu entre janeiro e julho de 2020, em comparação com os anos anteriores. Até julho deste ano, foram realizadas 1,1 milhão mamografias, número muito menor do que os mesmos períodos de 2018 e 2019, que bateram 2,1 milhões.
Para a Sociedade Brasileira de Mastologia, “a redução de 45% das mamografias realizadas pelo SUS nos sete primeiros meses de 2020, na faixa etária de 50 a 69 anos, poderá trazer um prejuízo para as mulheres com a possibilidade de aumento do tumor e menor chance de cura e de uma sobrevida mais longa”.
Em entrevista ao site da SBM, o médico e presidente da instituição Vilmar Marques apontou que atualmente as pacientes correm menos risco nos hospitais do que quando estão no supermercado, salão de cabeleireiro ou shopping. “Enfatizamos que as mulheres não podem deixar de fazer seu tratamento ou seus exames. O atendimento nas unidades está sendo feito de maneira segura e as mulheres devem retornar a sua rotina de agendar sua consulta e exames”.
Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia mostram que, com o diagnóstico nos estágios iniciais, as chances de cura são em torno de 95%. Por isso, mais do que nunca, é preciso lembrar que o câncer de mama não espera e quanto antes encontrá-lo, melhor.
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