Como desenvolver a redação da Fuvest se o tema for abstrato
Confira estratégias de especialistas
Diferentemente do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a proposta de redação da Fuvest, vestibular que seleciona candidatos para a Universidade de São Paulo (USP), nem sempre apresenta temas objetivos. Em algumas edições do vestibular, os temas da redação foram abstratos. Mas qual a diferença entre eles?
Os temas objetivos são aqueles informados de forma clara e bem direcionada. É quando você lê o tema e já consegue entender sobre o que a banca quer que você disserte. Em geral, esses temas são mais voltados para discussões de fatos sociais, políticos e científicos.
Já os temas abstratos não são óbvios. São abrangentes e com mais possibilidades de interpretação. Nesse caso, você precisa abstrair a proposta que está sendo pedida para o texto, a partir dos textos de apoio oferecidos.
Alguns temas abstratos já abordados nos vestibulares da Fuvest: O homem saiu de sua menoridade? (2017); As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas? (2016); e “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia (2015).
Se você vai fazer a prova de redação da Fuvest e se deparar com um tema abstrato, não se assuste. Há algumas estratégias que podem ser usadas para entender melhor o tema e desenvolver uma boa redação. Confira o que fazer!
Analise a coletânea e faça um planejamento textual
Para elaborar uma redação com um tema abstrato, a primeira coisa a se fazer é uma boa leitura da frase-tema e, depois, dos textos motivadores. A dica é da Barbara Benedito, professora de Língua Portuguesa da Escola Vereda, e do Gustavo, professor e coordenador de Língua Portuguesa do Colégio Mater Amabilis.
“No próprio Manual do Candidato [da Fuvest], eles explicam que é importante não só ler os textos, mas relacioná-los. Por isso, um bom caminho, depois de ler a frase-tema, é ler os textos de apoio, um por um, e destacar os pontos relevantes. Colocar em frases curtas ao lado do texto as questões que eles estão trazendo ou como aquele texto motivador associa o conceito abstrato com a realidade”, orienta Barbara.
Outra dica do professor Gustavo é não se pautar só pelo texto não-verbal, como imagens. É mais difícil de enxergar o recorte temático que a Fuvest está dando ali. “Antes, leia os textos de apoio e anote a síntese de cada um deles, mesmo que a imagem seja a primeira coisa que a Fuvest deu para você analisar. Depois dos textos, analise a imagem, veja se ela tem elementos, como frases, contextos, que confirmam aquilo que você já conseguiu detectar nos outros textos”.
Com a análise da coletânea feita, monte um planejamento da sua redação, pensando quais pontos destacados serão usados e os respectivos argumentos. Isso vai servir para que você não perca o seu raciocínio no meio do texto.
Cuidado com a liberdade interpretativa
Os temas abstratos não tem uma só significado. Ou seja, há a possibilidade de trabalhar com caminhos distintos. Apesar disso, tenha muito cuidado com a liberdade interpretativa.
“O tema abstrato se torna um pouco mais difícil por conta da percepção que o aluno pode ter. Você pode ter duas, três leituras possíveis, mas não há mil leituras possíveis. A proposta tem uma linha macro para seguir, mas quanto mais ele conseguir se aprofundar nessa leitura, melhor. Por mais abstrato que seja, esse aluno tem recursos [textos de apoio, por exemplo] para se aproximar o máximo possível do que a Fuvest espera dele”, destaca Gustavo.
Traga o tema para o concreto e seja crítico
Embora o tema abstrato seja mais abrangente, é importante trazê-lo para uma perspectiva concreta. E uma maneira simples de fazer isso é por meio de exemplos, fatos e situações da realidade. Conceitos filosóficos e sociológicos ao longo da argumentação também são estratégias enriquecedoras.
No entanto, Gustavo pondera que ao usar um conceito filosófico ou sociológico, referências literárias, dados estatísticos, é preciso trabalhar acerca desse referencial que você se apoiou. É preciso estimular o corretor para uma reflexão. Além disso, é importante deixar claro o seu ponto de vista sobre o assunto. “Por mais abstrato que o tema seja, o candidato tem que defender um posicionamento, ou seja, ter uma tese assertiva”, diz.
“A redação da Fuvest valoriza muito essa análise teórico-crítica do candidato. Ele deve se posicionar em relação ao tema proposto. Só precisa tomar cuidado para não tangenciar o tema, abordar ele de forma incompleta ou mesmo fugir ao tema”, complementa Barbara.
A sugestão de Gustavo, portanto, é estabelecer uma tese ou um ponto de vista logo na introdução da redação. “Determine de maneira clara e objetiva o que você pensa sobre o problema”. Depois, é a vez de trabalhar os repertórios e o desenvolvimento deles nos outros parágrafos e, por fim, na conclusão, retomar o ponto de vista lá da introdução, reafirmando-o por meio da síntese dos argumentos.