O Brasil é conhecido como país do futebol não é à toa: o país tem os maiores times tanto na modalidade masculina, quanto na feminina. Porém, nem sempre foi assim, principalmente para as mulheres. Em 1941, o então presidente Getúlio Vargas assinou um decreto que proibia as mulheres de praticarem não só futebol, mas qualquer outro esporte que ameaçasse a 'natureza feminina'.A primeira grande partida de futebol feminino no Brasil aconteceu no estádio do Pacaembu, em São Paulo, em 1940, entre o Casino do Realengo e S.C. Brasileiro. O jogo aconteceu antes de um amistoso entre os times masculinos São Paulo e Flamengo. Porém, antes mesmo da partida, já havia uma mobilização para impedir que as mulheres praticassem o esporte.Abaixo, conheça a mobilização machista que vetou o futebol feminino por quase 40 anos.+ 5 eventos marcantes do último governo de Getúlio VargasA proibição dos esportes para as mulheresQuando se lê o Decreto-Lei nº 3.199, do dia 14 de abril de 1941 sem a devida atenção, se dá a entender que o ex-presidente Getúlio Vargas estava incentivando a prática de atividades físicas, já que logo no artigo 3 é apontado que a medida tinha como objetivo "assegurar a existência de grupos esportivos para o fim de educar física e espiritualmente a juventude". Porém, fosse de forma profissional ou amadora, qualquer prática esportiva deveria ser feita dentro da moralidade da época. Em 1941, o Brasil passava pelo período do Estado Novo, golpe que teve início três anos antes.Enquanto o país passava pela sua primeira ditadura, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) era criada, mas as mulheres, oprimidas.A justificativa nada plausível no artigo 54 do decreto era direta, mas vaga; "Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.", deixando a interpretação aperta para qualquer um que quisesse negar a prática feminina de qualquer esporte. + Há 70 anos, o suicídio de Getúlio Vargas chocava o BrasilUm decreto consequência do machismoPouco antes do jogo de 1940 acontecer no Pacaembu, o escritor José Fuzeira endereçou a Getúlio Vargas uma carta intitulada “Um disparate sportivo que não deve prosseguir”, através do jornal carioca “Diário da Noite”.O autor da carta expressava sua "preocupação" com a suposta futura maternidade das jogadoras, assim como os efeitos negativos que a prática do esporte poderia ter sobre estas mulheres."Que V. Ex.ª, Sr. Presidente, acuda e salve essas futuras mães do risco de destruírem a sua preciosa saúde, e ainda a saúde dos futuros filhos delas… e do Brasil", escreveu o homem que não tinha nenhuma qualificação educacional ou científica, como ele mesmo aponta no texto.Abaixo, leia a carta completa de José Fuzeira ao presidente da República, Getúlio Vargas, publicada no jornal Diário da Noite em 7 de maio de 1940.A carta do cidadão + Como a morte de Getúlio Vargas iniciou um levante popular no BrasilComo essa história afeta o futebol feminino até os dias de hoje?Os clubes da série A do Campeonato Brasileiro de futebol, o Brasileirão, foram obrigados a formar uma equipe feminina para participar da disputa oficial apenas em 2016, com um prazo de dois anos para adaptação, quase 40 anos depois da queda do decreto de Vargas. Isso só foi possível devido à regulamentação de licenças de clubes no futebol feminino da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). Porém, a maioria dos times ainda não estava seguindo a nova norma em 2019, quando o prazo para criação do elenco feminino estava no fim.Entre no canal do GUIA no WhatsApp e receba conteúdos de estudo, redação e atualidades no seu celular!