Atual, coerente e criativa: professores elogiam prova da Unicamp
Tanto a redação quanto a prova de Linguagens exploraram temas relevantes no cotidiano de uma forma diferente
Neste domingo (12) começou a segunda fase do vestibular 2020 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mais de 13 mil candidatos, que disputam 2.570 vagas em 69 cursos de graduação, encararam 8 questões de Português, duas de Inglês e uma redação.
Especialistas de diversos cursinhos comentaram o primeiro dia de provas e elogiaram estilo e conteúdo das questões. Em relação à redação, a inovação da Unicamp também surpreendeu. Confira:
Redação
Vale ressaltar que 2020 foi o primeiro ano em que o candidato pode optar por uma proposta de redação. Até o ano passado, ele deveria produzir os textos dos dois gêneros textuais que a banca propunha.
Em uma das propostas, o candidato precisava criar um podcast, algo que está crescendo na sociedade e circulando cada vez mais. A temática desse conteúdo deveria ser a biodiversidade, não só a natural, mas a cultural e social presentes no Brasil.
A segunda proposta foi uma crônica. O estudante precisava se posicionar sobre o micromachismo – ideias e situações que podem passar despercebidas pela maioria das pessoas, mas que trazem o machismo à tona.
Segundo Felipe Leal, professor de redação do Curso Anglo, ambos os temas eram relevantes e atuais. A dificuldade estava nos gêneros propostos, mas a Unicamp forneceu informações que poderiam ajudar o candidato a desenvolver o texto que escolhesse.
Para Gabrielle Cavakin, professora de redação do Poliedro Campinas, por mais que crônica possa ter surpreendido os candidatos, por nunca ter sido cobrada na Unicamp, muitos poderiam se sentir mais à vontade com essa proposta por causa do tema. “A ideia de falar sobre micromachismo, de se posicionar sobre isso, é algo que está muito forte nessa geração”, diz.
Ela reforça que, mesmo se o estudante não soubesse fazer um podcast ou uma crônica, o importante era entender o contexto comunicacional e seguir os comandos da banca.
“É uma prova bem diferente das tradicionais, porque ela investe em uma espécie de jogo de faz de conta, na simulação de situações reais de interlocução e cobra a redação de gêneros textuais específicos”, explica Wellington Borges Costa, coordenador de Redação do Grupo Etapa.
Segundo ele, a Unicamp propõe a simulação de um personagem, então o candidato deve vestir uma máscara discursiva e assumir uma personalidade. Além disso, a redação deve respeitar as características da linguagem típica de cada gênero textual. O podcast, por exemplo, deve apresentar marcas de oralidade. Já a crônica deveria ter uma linguagem livre e pessoal, mesclando momentos narrativos com momentos dissertativos.
‘É uma prova que merece ser parabenizada, pois aponta para caminhos mais criativos e inventivos”, diz Costa.
Questões de Linguagem
O diretor-pedagógico da Oficina do Estudante, Antunes Rafael dos Santos, afirma que a prova cobrou assuntos tradicionais, como figuras de linguagem e interpretação de texto, mas também não deixou de lado uma abordagem atual.
Uma das questões, inclusive, trabalha o filme Bacurau, que foi aclamado pela crítica. “A Unicamp conseguiu trazer na prova essa produção cinematográfica. Quem assistiu (e está atualizado com o mundo) não teve dificuldade de responder”, diz.
O que pode ajudar a sintetizar a prova da Unicamp 2020 são as ideias de contextualização e de integração, segundo Henrique Braga, professor do Curso Anglo. “Embora seja possível dividir as questões entre as que pendem mais para literatura ou para outro tipo de análise linguística, a prova não lida com esses segmentos de forma muito estanque”, diz.
O professor exemplifica que uma questão com mais compreensão do texto, cobrava uma reflexão gramatical. Já uma questão de literatura exigia, na verdade, que o aluno mobilize conhecimentos sobre recursos linguísticos. “É uma prova que valoriza o estudante que consegue integrar conhecimentos e refletir sobre eles. Muito contemporânea e muito bem feita”, afirma.
Segundo Vitor Ricci, coordenador do Curso Poliedro Campinas, foi uma prova extremamente coerente.
Nas duas questões de inglês, segundo o coordenador, a dificuldade estava na interdisciplinaridade das matérias que estavam associadas aos textos. “A leitura era tranquila, mas no primeiro texto que falava sobre perda de diversidade genética, o candidato precisava trazer uma bagagem da biologia. Já o segundo texto, que mencionava o atentado de 11 de setembro, exigia um conhecimento de geopolítica”, diz.
Questões mais difíceis
Segundo o professor Pantoja, da Oficina do Estudante, a questão mais difícil de Inglês foi a interdisciplinar com história – a sobre o ataque ao Word Trade Center. “Em 11 de setembro de 2001, muitos candidatos ainda eram muito novos. Por outro lado, quem estudou e acompanha jornal acertou sem problemas” diz.
Já a questão mais difícil de Português, para Marcelo Maluf, professor da Oficina do Estudante, foi a da escritora Ana Cristina por ser um texto moderno, contemporâneo e com uma linguagem absolutamente ágil.