Plantões frenéticos em hospitais de renome, diagnósticos dignos de um episódio de Grey’s Anatomy, ou mesmo um consultório para chamar de seu. Estes são cenários que passam pela cabeça de muitos estudantes que sonham em se tornar médicos, mesmo antes de passarem no vestibular. Mas não é o caso de Carlos Filipe Ribeiro de Matos.
O jovem de 22 anos, aprovado, de uma só vez, em seis universidades públicas para o curso de Medicina, escolheu a carreira por outras razões. Para ele, a profissão une seus três grandes sonhos: ajudar as pessoas, dar aulas e fazer grandes descobertas que podem mudar os rumos da humanidade. Para isso, Carlos está disposto a fazer uma escolha um tanto incomum para quem é aprovado em Medicina. Vai trocar os corredores dos hospitais e seguir nos da universidade, para se tornar pesquisador.
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O GUIA DO ESTUDANTE conversou com o estudante que colecionou seis aprovações em Medicina, ficou famoso na sua pequena cidade de 18 mil habitantes e agora estuda na Unicamp, uma das melhores universidades do país. Ele conta que não foi fácil responder “ainda estou no cursinho” por três anos seguidos depois de se formar no Ensino Médio. Tinha a sensação de que sua vida estava parada, enquanto os colegas eram aprovados no vestibular e ele persistia no sonho da universidade pública. Hoje, não se arrepende: “quando é para ser sua vez ninguém vai tirar isso. Nunca tinha passado antes e, quando eu passei, foram em seis. Podia escolher para onde eu ia”.
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O “terror dos professores” – no bom sentido
Carlos tinha apenas 16 anos quando decidiu, no primeiro ano do Ensino Médio, que estudaria Medicina. Sabia que não seria fácil e, por isso, tratou de começar a preparação o quanto antes. Já naquele ano, fez sua primeira edição do Enem, e surpreendeu-se com uma nota 800 na redação. Era uma pontuação boa, mas não uma “nota Medicina”, como ele mesmo diz. Sabia que, se quisesse mesmo ser aprovado no curso mais concorrido no país, precisaria fazer mais nos anos seguintes. Para isso, envolveu os professores e até a diretora da escola no seu plano ambicioso.
O jovem era estudante de uma das únicas duas escolas estaduais que ofereciam o Ensino Médio na pequena cidade de Lagoa Formosa, interior de Minas Gerais. Ele faz questão de reforçar que recebeu um boa instrução durante seus três anos de Ensino Médio, e que os professores eram abertos e dispostos a ajudar. Mas não havia um foco específico em Enem e nos grandes vestibulares. “Não tinha um incentivo para você saber que no final você ia fazer uma prova que abrangia tudo do Ensino Médio. Então você aprendia uma matéria, fazia uma prova e nunca mais via aquilo”.
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Para tentar driblar essa dificuldade, Carlos brinca que se tornou o “terror” dos professores: entrava na sala da diretora pedindo simulados e aulões aos finais de semana. Embora a escola se esforçasse para acolher suas ideias, percebeu com a chegada do terceiro ano do Ensino Médio que precisaria do reforço de um cursinho para ser aprovado, e passou a conciliar uma dupla jornada de estudos. Ainda assim, não foi suficiente, e no final do terceiro ano amargou sua primeira reprovação.
Aprovação em dose sêxtupla
Em 2020, mergulhou de vez na vida de vestibulando de medicina – mas achava mais fácil encarar tudo com otimismo e bom humor. “Eu acordava às seis da manhã feliz porque eu estava indo estudar, porque eu queria terminar o mais rápido possível. Ficava no cursinho até nove da noite”, recorda. Carlos passava entre onze e doze horas por dia estudando. Mas em meados de março, precisou recalcular a rota: a pandemia de Covid-19 fechou a porta das escolas e ele foi forçado a aderir ao ensino remoto.
No final daquele ano, o estudante também não alcançou a tão sonhada vaga de Medicina, mas notou um melhora nas notas – em redação, atingiu 920 pontos (que nos anos seguintes tornariam-se 940, e depois 980). Comemorava a aprovação dos amigos, mas não era fácil repetir “ainda estou no cursinho, não passei” toda vez que era questionado por colegas e especialmente pela família. Ele conta que, para os pais, era difícil entender por que ele precisava ser aprovado em uma universidade pública de ponta, que desse condições para que se tornasse um pesquisador.
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Ainda que seu sonho não fosse muito bem compreendido, persistiu. Estudava todos os dias, e aos finais de semana trocava encontros com os amigos e familiares para fazer os simulados oferecidos pelo Estratégia Vestibulares, curso pré-vestibular online que conciliava com as aulas presenciais no cursinho Salinha Dayane Alemar. Fez a prova do Enem seis vezes – que, por coincidência, foi a quantidade de universidades em que foi aprovado no final de 2022. Na última edição, finalmente fez uma “nota Medicina”: tirou 980 pontos na redação e uma média geral de 807.
A pontuação lhe rendeu uma vaga em três das melhores universidades de Medicina do país, a Unicamp (Universidade de Campinas), a USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto e a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Em vestibulares à parte, foi aprovado na UFU (Universidade Federal de Uberlândia), na FAMERP (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto), e na UFLA (Universidade Federal de Lavras). Finalmente, havia chegado sua hora.
“Você não é aquele menino inteligente?”
Depois de enfrentar uma bateria de provas, muitas delas com intervalos de poucos dias, Carlos já estava com o bom pressentimento de que 2022 seria seu último ano prestando vestibular para Medicina. Saiu confiante das provas, e percebia que tinha ido bem quando conversava com colegas que haviam feito o mesmo exame. Mas nada disso impediu o frio na barriga quando foi procurar seu nome na lista de aprovados do primeiro vestibular a divulgar o resultado, a Federal de Uberlândia. Quando encontrou, suspirou aliviado. “Apesar de não ser a minha primeira opção, eu não precisaria mais estudar, tinha acabado aquela história de cursinho”, relembra.
Em seguida, ligou para os pais para contar a novidade, e postou um story no Instagram que, em poucos minutos, tinha mais de duas mil visualizações. Sabe como é cidade pequena, contou ao GUIA, em poucos minutos os lagoenses já sabiam da novidade. E quem não sabia, foi informado dias depois pelo enorme banner que os pais de Carlos penduraram na fachada da casa. “Estamos orgulhosos de você.”
Conforme os dias passavam, outros banners se juntaram ao da UFU: um para cada uma das universidades em que Carlos Filipe era aprovado. Exceto a última, a UFLA, “aí eles cansaram e não fizeram mais faixa”, conta o estudante se divertindo. E não eram só os pais que pareciam orgulhosos. Nas ruas de Lagoa Formosa, pessoas que Carlos nem conhecia o paravam perguntando “você não é aquele inteligente que passou na faculdade?”. A cidade, os familiares e os amigos comemoraram juntos.
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Caminho de descobertas
Quando questionado se todo o esforço dos últimos anos valeu a pena, o estudante não titubeia: faria tudo de novo. Em seu segundo semestre na Unicamp, ele conta que a universidade já conseguiu superar suas expectativas, especialmente fora das salas. Apesar de as aulas do primeiro ciclo lhe parecerem um pouco maçantes, o estudante tem descoberto as outras muitas possibilidades que uma universidade pública oferece.
Começou a praticar esportes e entrou para o time de atletismo da Medicina, além de tocar na bateria universitária. Mas também tem muito estudo! Logo no primeiro ano, começou uma iniciação científica em biologia molecular, e pretende concluí-la o quanto antes para experimentar uma outra em genética. “Eu gosto muito dessas áreas, pelas possibilidades, e porque provavelmente vão ser os grandes dilemas da Medicina nas próximas décadas”.
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