Em novembro, o Tribunal de Justiça proibiu que o livro Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, da Editora Objetiva e organizado pelo professor Ítalo Moriconi, fosse distribuído nas escolas públicas do estado, como parte de um kit de livros entregues a cada estudante.
A ação surgiu a partir de reclamações de cerca de 40 pais revoltados com o conteúdo do conto de Ignácio de Loyola Brandão "Obscenidades para uma dona de casa". As reclamações foram feitas ao Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (Inadec), que é presidido pelo deputado federal Celso Russomano (PP-SP).
De acordo com a liminar do Tribunal, o conto era inadequado por trazer "descrição de atos obscenos, erotismo e referência a incestos".
– Leia a matéria completa sobre o caso.
Em entrevista, Loyola Brandão critica a decisão do tribunal:
Como soube da decisão do tribunal?
Pelo jornal. Não me avisaram, porque era algo que afetava a distribuição dos livros, responsabilidade da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, e não o meu conto diretamente.
Considera uma censura?
Considero-me censurado. Censurado por um tribunal e por um deputado. Ele, que trata de defesa do consumidor, de repente decidiu se envolver com moralismo e literatura. É uma hipocrisia, é uma volta à Idade Média. Não parece que estamos em 2010, que Viagra, camisinha e anticoncepcional são vendidos livremente em farmácias.
Conversou com alguém do tribunal ou da Secretaria a respeito?
Não. Não há o que falar. Sou apenas um dos autores do livro censurado.
O conto já tem mais de duas décadas. Alguma vez causou algo similar?
Este conto tem 27 anos e nunca provocara tal reação. Já esteve em outras antologias, já esteve em livro voltado para jovens, foi traduzido para dez línguas, há quatro vídeos sobre ele produzido por adolescentes. É muito absurdo acontecer isso agora.
Apenas proibiram em vez de pensarem em como trabalhar o tema em sala ou usar o livro como parte de alguma atividade…
Caberia aos pais desses alunos conversarem sobre este conto, caberia aos professores trabalharem o conto. Agora o professor abre o livro só na hora da aula, sem preparar nada, e se choca, não sabe o que fazer. Claro, deveria ter preparado uma discussão antes. O docente brasileiro é muito mal preparado, inclusive para lidar com essas coisas. E ele ganha mal, sofre maus tratos, é agredido. Estamos num caos. E a escola está num ritmo enquanto os alunos estão em outro. Estes estão no digital, enquanto a escola ainda está no analógico.
Considera que é um reflexo de uma sociedade que fala o tempo todo do "politicamente correto"?
È uma censura. Este papo de politicamente correto é uma besteira. Os jovens veem coisas de sexo na TV, na novela, em filmes, estão expostos todo tempo a isso. E de repente palavras em um conto causam a reação. Mas é muito particular. São dezenas de pais protestando diante de milhões.
LEIA TAMBÉM
– Notícias de vestibular e Enem