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Fuvest 2022: confira redações sobre “as diferentes faces do riso”

O candidato poderia usar referências clássicas como "O Auto da Barca do Inferno" ou algo mais pop, como o humorístico "Porta dos Fundos"

Por Juliana Morales
Atualizado em 26 jan 2022, 14h36 - Publicado em 19 jan 2022, 14h35

No último domingo (16), os candidatos da Fuvest 2022 realizaram uma redação cujo tema foi “As diferentes faces do riso”. Com base em cinco textos de apoio, a banca propôs que os candidatos explorassem “os aspectos distintos do riso, que podem ser entendidos como característica universal do ser humano, crítica política, enquadramento social e, inclusive, como forma de resistência, dentre outras possíveis abordagens que sejam pertinentes ao tema”. Leia nesta reportagem os detalhes da coletânea.

Professores consideraram a proposta abrangente e apenas aparentemente desconectado da realidade. “Trata-se de um tema para o qual a realidade vai servir como base para a discussão. O candidato poderia apresentar o riso como uma forma de um indivíduo se colocar diante do mundo”, analisou Sérgio Paganim, diretor pedagógico do Curso Anglo. O candidato poderia seguir diferentes caminhos de argumentação e usar referências clássicas, como “O Auto da Barca do Inferno”, ou algo mais pop, como é o caso do filme “Coringa”.

A pedido do GUIA, três professores da Escola SEB Lafaiete – Rafael Colucci, Juliana Adolpho e Isabela Canella -, parceira da Plataforma AZ, e Bruna Brasile, professora monitora de Redação da Descomplica escreveram redações modelo sobre o tema do riso.

Modelo 1

Para além da tragédia: o direito ao riso

Na Antiguidade, a comédia grega foi desenvolvida em oposição à tragédia: enquanto esta retratava histórias dramáticas vividas por personagens grandiosos, como semideuses, aquela se destinava à crítica burlesca a questões cotidianas, que variavam de costumes a figuras sociais relevantes na época; desse modo, com o riso, a comédia buscava instigar suas plateias e suscitar-lhes dúvidas. A partir disso, percebe-se que o riso, ainda que presente em todas as sociedades e visto, simplificadamente, como a reação ao cômico, apresenta diferentes faces, alternando entre entretenimento puro e intenções críticas.

Sobre o aspecto recreativo do riso, vale ressaltar a sua grandeza: o entretenimento humorístico ocupa uma posição de suma importância à condição humana, pois configura-lhe leveza. Relacionado a isso, Antonio Candido, um dos maiores estudiosos de literatura da história brasileira, afirmou que o direito à literatura deveria ser visto como um direito humano e, portanto, inalienável a todos. Sua justificativa para tal era simples: a literatura tem o importante papel de humanizar as pessoas, evitando que elas se tornem “máquinas”. Em paralelo, é possível articular esse pensamento às artes e, por extensão, ao humor: o riso pelo riso auxilia as pessoas a resistirem a dificuldades que enfrentam no cotidiano ao oferecer-lhes uma distração necessária ao bem-estar mental e emocional. Nessa face, então, o riso auxilia o ser a suportar o peso das infelicidades e persistir em sua vida.

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Para além disso, porém, é fato que outra face é igualmente relevante, em se tratando de humor: a reflexão incitada por ele. A título de ilustração, o escritor português Gil Vicente escreveu a peça “Auto da Barca do Inferno”, em que diversos personagens mortos veem-se diante das barcas do Céu e do Inferno. Cada personagem simboliza uma alegoria de figuras sociais comuns à época e, por meio de situações exageradas e caricaturais – a exemplo de um Corregedor que se comunicava em um latim falho e argumentava para entrar na barca celeste -, são feitas críticas a costumes e estruturas sociais da época. De igual modo, hoje, canais como “Porta dos Fundos”, por exemplo, usam de vídeos de humor para trazer críticas sociais e políticas que, diluídas no riso, tornam-se mais palatáveis. Assim, nessa face, o riso é capaz de suscitar a reflexão sobre o que se ri e torna-se uma ferramenta de mudança ideológica.

Conclui-se, portanto, que o riso apresenta diversas faces, voltando-se ora para a diversão e distração, ora para a crítica. Porém, ainda que o riso intencionado à reflexão possa parecer mais relevante, o do entretenimento possui, igualmente, importante valor, ao passo que impede que a vida torne-se uma contínua tragédia.

Professores da Escola SEB Lafaiete, Rafael Colucci, Juliana Adolpho e Isabela Canella.

Modelo 2

O mistério por trás de um sorriso 

O italiano Leonardo da Vinci é o autor de uma das obras mais famosas da humanidade: Mona Lisa. O sorriso enigmático dessa mulher atrai milhares de turistas, há décadas, ao Museu do Louvre para observar o mistério em torno da criação do pintor renascentista. Não se sabe o porquê ela sorri ou para quem, nem se é de felicidade ou até mesmo de ironia. Todos esses questionamentos atravessam o imaginário coletivo e intrigam os espectadores simplesmente por causa de um simples sorriso. Talvez, o que da Vinci quis perpetuar ao longo do tempo é que existam diferentes faces do riso. 

O escapismo é uma maneira de agir que resulta em uma fuga da realidade. Esse mecanismo de defesa, muitas vezes pode ser provocado pelo riso. Na Grécia Antiga, por exemplo, desenvolviam-se no teatro dois gêneros dramáticos: a tragédia e a comédia. A primeira servia para ressaltar a conquista dos heróis, deuses e semideuses. Essas histórias possuíam sempre grande tensão e finais infelizes trágicos. A comédia, por outro lado, retratava a vida de pessoas comuns, a qual satirizava diversos aspectos da sociedade, entre eles: os costumes, os hábitos, a moral, entre outros. Assim, o riso era uma forma de fuga dos problemas cotidianos, desde que encenados sobre a vida de outrem. 

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O riso, além de ser uma forma de evasão dos problemas, pode ser também um aliado ao bom humor e ser um sinal de perseverança para enfrentar tempos difíceis. O ano de 2020 foi marcado por muitas incertezas por conta do avanço da pandemia da Covid-19 e a comédia foi um elemento-chave para terem esperança de dias melhores. Paulo Gustavo, comediante brasileiro e especialista em colocar sorrisos nos rostos de seu público, diante dessa situação, proferiu que “rir é um ato de resistência”, uma vez que a felicidade é uma forma de encarar adversidades e, principalmente, superá-las. Infelizmente, por mais que o ator não tenha resistido à doença, seu legado permanecerá eternamente. 

Assim, é possível perceber que os mistérios por trás de um sorriso sempre estarão presentes na sociedade. O sorriso de Mona Lisa continuará intrigando os espectadores durante as próximas gerações. O riso ainda será uma forma de escapar dos problemas cotidianos, desde que encenados em um palco teatral, como os gregos. Ainda, o riso será um aliado para resistir às adversidades como nossos contemporâneos. As diferentes faces do riso, portanto, são necessárias para mover o ser humano seja pela curiosidade, pela distração ou pela esperança. 

Bruna Basile, professora monitora de Redação da Descomplica.

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